Mano Brown reassume posto de comando, com Marighella

Atenção, está no ar a rádio libertadora!
Nem o filme, nem o videoclipe precisaram estrear para a música Marighella, provocar críticas, ocupar espaços em revistas e jornais e causar pânico na playboyzada.

Não é pra menos. A combinação letal de Mano Brown e Marighella da resposta a um verso entoado a anos como um mantra: “Precisamos de um líder negro de crédito popular”.
Por Toni C.*

Mano Brown assistiu ao filme inteiro três vezes, gostou, não quis cobrar um centavo pelo trabalho. A trilha sonora inédita de encerramento do documentário que estréia em outubro, dirigido por Isa Ferraz, sobrinha de Carlos Mariguella é um soco seco no estomago de quem devora caviar.

Coisas do Brasil super-herói mulato
“Você não está fazendo este filme para seus pares, quem precisa de heróis é minha gente”, Mano Brown falou à sobrinha do líder guerrilheiro.

A música virou hit na internet. Um frame do vídeoclipe dirigido por Daniel Grinspum com produção de Juliana Vicente onde aparece Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue, KL Jay e Dexter ambientados em 1972 com trajes e armados como num aparelho de resistência guerrilheira, se espalhou rapidamente pelas redes sociais como se fosse um panfleto subversivo em plena ditadura.

Reaja ao revés, seja alvo de inveja irmão
Os mais raivosos tenta insulta-lo de todas as formas: “tanto ele [Mano Brown] como Lula queriam ser brancos de olhos azuis”, “apedeutas”, “suas rimas sem-teto e sem-verso”, “apóstolo do ódio, pastor de bandidos que vive a cantar grunhidos para platéias de primitivos” foram comentários que lí no site da revista de maior circulação do país, também a mais mentirosa e nojenta. Não causa surpresa os comentários quando agente conhece a relação desta revista com o grupo de mídia racista que apoiou o Apartheid na Africa do Sul.

Entre as ofensas direcionada ao líder do Racionais Mc’s e de quebra servem a todo rapper, pobre, preto ou morador de periferia que contraria as estatísticas está este comentário veridico: “Mano Brown é o Marighella da atualidade”.

Brown comenta as semelhanças: “Alguém me falou também que em algum detalhe ele parecia comigo. Na luta dele, na idéia. Somos os dois filhos de preto com italiano e minha família também vem da Bahia.”

Presta atenção que sucesso em excesso é cão
O Racionais Mc’s se apresentou num festival internacional e publicaram no dia seguinte: “Como um soco na cara, surgiu nos telões a imagem da carteira de afiliação de Carlos Marighella ao PCB. Ao lado de seu rosto, a foice e o martelo ardiam impiedosamente nas vistas de um festival que representa tudo, menos o comunismo.”

Pânico na Zona Sul foi a carta de convocação para os guerreiros na periferia na década de 90. A música Marighellla é o Manual do Guerrilheiro Urbano quatro décadas depois.

Indigesto como o sequestro do Embaixador
No desbaratino eles chamam Luiz Carlos Marighella de arranca pernas, corta cabeças. Nossa saga tem sido contar cabeças e precisamos cada vez mais de gente cabeça. Corta-cabeças é Moreira César, que morreu quando achou que poderia destruir Canudos. A gravação do videoclip na ocupação Mauá levou força e esperança para os moradores que lutam por um teto.

“Aqui é como se fosse a unha encravada da cidade um problema que eles não tem sensibilidade de resolver como deveria.” Disse Mano Brown se referindo a ocupação Mauá, no centro de São Paulo, mas poderia muito bem estar falando sobre a Favela do Moinho, Sarau do Binho, Quilombo do Rio dos Macacos ou ao Pinheirinho, alvos da especulação imobiliária. “Não é o povo deles que está aqui que vai ser despejado e vai morar nas ruas” Brown morô a luta de classes.

No mesmo período Emicida é detido em Belo Horizonte após um show quando se manifestou com sua música “Dedo na Ferida” em favor das famílias despejadas na ocupação Eliana Silva.

Quero ver você trocar de igual
A revista racista questiona: “e o direito da propriedade privada garantido na Constituição brasileira?”

Aí é necessário lembra-los que esta mesma Constituição, exige o cumprimento da função social da propriedade. Ah! também estabelece, na condição de direito fundamental, o direito social à moradia. Então viva a constituição!

Estava finalizando este artigo, quando recebi a visita ilustre de Milton Sales. O ex-produtor do Racionais acompanhado com Amaral Du Corre, ambos moradores da favela do Moinho, vítima de um incendio criminoso as vésperas do natal. Em janeiro, o ato em solidariedade aos moradores do Moinho foi palco de um reencontro entre Mano Brown que apresentou Milton Sales como seu mentor. “Deus não lotiou e vendeu terra no sétimo dia. Como que o cara fala que é dono? Dono do que meu irmão?” discursou Milton no campo de terra no centro da favela.

Perguntei ao Miltão sobre a música Marighella. Ele acompanhou as gravações do videoclipe na ocupação Mauá e resume o que viu numa frase: “Mano Brown foi fino, tudo o que espero dele é aquela postura que ele assume com a música e o vídeoclipe Marighella”.

Concordei, artilheiro não deve jogar na zaga. A postos ao meu general, reconduzido ao posto de comando.

Aplausos é pra poucos

*Texto originalmente publicado na Revista RAP NACIONAL N°5. Alterado em 23/07/2012 para correção de informação.

 

 

Fonte: Vermelho

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