Mudar a pergunta é revolução

Públicos ou não, casos de racismo são parte do cotidiano de milhões de pessoas

assassinato de Genivaldo de Jesus —o homem negro, com esquizofrenia, asfixiado até a morte numa viatura transformada em câmara de gás por policiais rodoviários federais— completou um ano na quinta-feira (25). Apesar da fartura de imagens acerca do ocorrido às margens de uma rodovia no Sergipe, passaram-se 12 meses até que a PRF dirigisse um pedido de desculpas à família, que segue esperando por justiça e indenização.

Na quarta-feira, um jogo eletrônico estimulando a exploração sexual e a tortura de pessoas negras foi retirado da loja virtual da multinacional Google. Intitulado “Simulador de Escravidão”, o dito “entretenimento” (contém tristeza e ironia) estava fazendo sucesso. Além de avaliações positivas, usuários pediam por mais opções de castigos físicos —pasmem os minimamente civilizados.

Também dia 24, a divulgação do Índice de Escravidão Global 2023, elaborado pela organização internacional Walk Free, apontou que o Brasil —último país das Américas a abolir a escravização— tem 1,05 milhão de pessoas em situação de escravidão contemporânea.

Diante do rumoroso caso de racismo sofrido pelo jogador Vinícius Jr., na Espanha, na terça-feira (23) o senador Magno Malta (PL-ES) disse que a imprensa estaria “revitimizando” o atleta e cobrou a defesa dos macacos! Depois, tentando se explicar, deu entrevista onde afirmou ter uma filha “negra de verdade”.

Em três dias consecutivos, exemplos diversos de violação de direitos envolvendo a questão racial. Públicos ou não, casos de racismo são parte do cotidiano de milhões de pessoas submetidas a privações, humilhações, dores físicas e psíquicas causadas pela desumanização de seus corpos mundo afora.

Colocar-se no lugar do outro é mais fácil quando se está na mesma situação. Mas o antirracismo precisa ser tratado como causa da humanidade. Aos que questionam por que escrevo “só” sobre isso, lembro que mudar a pergunta é revolucionário.

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