O músico deu novo status à percussão
Nos anos 1970, quando Naná Vasconcelos saiu pelo mundo para dividir o palco com nomes consagrados como Pat Metheny, B.B. King, Paul Simon, Jean-Luc Ponty, plateias pouco informadas, mas mesmerizadas pelo espetáculo, referiam-se a ele como Jungle Man.
Por Ana Ferraz Do Carta Capital
Aquele instrumento estranho só poderia vir da Floresta Amazônica. “No meio de um solo percebi que ninguém ali jamais havia visto nada parecido.”
Autodidata, batucava nas panelas e aos 12 anos se apresentava em bares e clubes. A popularidade veio ao tirar o berimbau das rodas de capoeira e colocá-lo em destaque no palco. Em suas mãos, o instrumento de origem angolana ganhou status de solista. No início, temeu a reação dos puristas. Inovar poderia ser entendido como um modo de ferir a tradição.
Foi inevitável. Inseriu o berimbau no contexto do jazz e do blues, transcendeu ao transformar o instrumento de rítmico em melódico. Ganhou notoriedade e respeito internacional, quebrou protocolos ao substituir discursos por música nas muitas premiações recebidas. Só Grammy foram oito. Fora o título de doutor honoris causa concedido em 2015 pela Universidade Federal de Pernambuco.
Encheu de lirismo a trilha sonora da animação O Menino e o Mundo e recentemente se trancou no estúdio com Zeca Baleiro e Paulo Lepetit para gravar Café no Bule. “Me puseram para cantar, imagine, logo eu”, debochou, energia juvenil, feliz entre os amigos.
Na manhã da quarta 9, o percussionista não resistiu a complicações decorrentes de câncer no pulmão. Vasconcelos, de 71 anos, faria em abril uma série de apresentações na Ásia.
*Reportagem publicada originalmente na edição 891 de CartaCapital, com o título “Jungle Man”