Não É Pela Moral, É Pela Política E Com A Esquerda Preta!

Professores, pesquisadores e militantes do movimento negro se reuniram na noite de 30 de março na Escola de Comunicação e Artes, ECA-USP, para discutir a atual crise política vivida no país. A atividade foi transmitida ao vivo pela IPTV USP e contou com a presença de grande público.

Por 

Tatiana de Oliveira, doutoranda pelo Programa Integração da América Latina, PROLAM, e integrante da rede Quilombação, foi a responsável por mediar a mesa, que contou com a presença de Rosane Borges, pós-doutoranda da ECA e colunista do Blog da Boitempo, Dennis de Oliveira, chefe do departamento de jornalismo da USP e membro da rede Quilombação, e Silvio de Almeida, professor do Mackenzie, da Universidade São Judas Tadeu e presidente do Instituto Luiz Gama.

O debate foi convocado com os seguintes intuitos: discutir o conturbado momento político brasileiro, entender quais os mecanismos têm sido utilizados para tentar legitimar o golpe de Estado e as consequências dele para a população brasileira, em especial ao povo negro.

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Dennis de Oliveira explica a confusão proposital que a mídia tem feito ao tentar associar o pedido de impeachment à operação Lava Jato. “Não tem nada a ver. O pedido está fundamentado na pedalada fiscal, que não é uma base jurídica para o impeachment. Só que da maneira que a mídia está cobrindo, essa confusão está sendo feita”.

O chefe do departamento de jornalismo da USP afirma que o projeto político lançado pelo PMDB “Uma Ponte para o Futuro”é o real interesse político em jogo. Nele, há inclusive uma proposta econômica neoliberal de corte de todos os benefícios sociais. “O projeto que vai ser implementado caso haja impeachment e o PMDB assuma o poder está sendo escondido por parte da mídia”.

É coisa de preta e preto sim!

O envolvimento político de negras e negros no atual debate é fundamental, porque o acirramento de uma investida neoliberal afetará de modo direto a população negra, de acordo com Silvio de Almeida. “Nós temos que nos envolver mais do que nunca, acho que talvez historicamente poucas vezes nós tenhamos tido primeiro a condição e segundo a urgência de participar de um debate como esse. É central a nossa participação”.

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A estrutura desigual da sociedade brasileira faz Rosane Borges ressaltar que, qualquer crise política com interferência na economia, recaia de maneira mais intensa sobre a comunidade negra e, em especial, as mulheres negras. “Do ponto de vista estrutural, tem uma extrema diferença. A desigualdade que vem afetando a população negra, as mulheres negras, é a crise que a gente tem que discutir e a gente tem que enfrentar”.

E a esquerda preta?

O posicionamento da esquerda negra é estratégico na medida em que os próprios movimentos de esquerda também excluíram o povo preto dos espaços de poder. Para Tatiana de Oliveira, em nome da desigualdade social, refutou-se as disparidades de raça. “O movimento negro foi muito importante para pautar essas políticas e para dizer sim, existe racismo. Na abertura democrática, o movimento negro participa do processo de constituinte e com muita força o movimento de mulheres negras vem lutando por políticas públicas que como a professora Rosane disse, não só fortalece a população negra, mas toda a população pobre”.

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Maria Carolina Farnezi, integrante da campanha #15contra16, acompanhou o debate e o classificou como excelente. “Ter uma mesa composta por militantes negros, pautando nossa vivência no meio desta crise é visibilizar uma esquerda que ainda tem as suas narrativas silenciadas”.

Tatiana pensa que a discussão acerca do tema é fundamental para que o debate não se limite a quem é contra ou favor do impeachment. “Essa discussão é extremamente importante neste momento, em que é colocada uma espécie de Fla-Flu, quem é contra, quem é a favor. Todo momento de crise é também uma oportunidade de reflexão”.

Confira as entrevistas em áudio com todos os membros da mesa:

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