Nina Simone: uma cantora da verdade

Nina Simone foi uma mulher de muita fibra, mas principalmente de um grande talento. Com uma áspera e inigualável voz, a cantora tinha a incrível capacidade de compartilhar seu mundo e de fazer o ouvinte acreditar em tudo aquilo que estava sendo cantado pelo simples fato de ser cantado com sinceridade, com verdade.

Cantora. Mulher. Negra. Nina Simone tinha plena consciência de sua posição social e usou todo seu talento e carisma para criar uma das grandes personas da história da música, da resistência pessoal, da identidade negra.

Eunice Waymon é o nome de batismo. Nina Simone é o de guerra. Nina mudou de nome ao começar a cantar em cabarés escondida de seus pais. Saiu da Carolina do Norte para ser imortalizada no mundo cantando jazz, blues, folk, soul. Com sorriso e carisma maiores do que seu imenso coração, a diva negra é a voz da famosa canção Feeling Good.

Nina era absolutamente comprometida em mudar o mundo à sua volta. Foi ativista dos direitos civis desde pequena. Em seu primeiro recital – aos 11 anos de idade – solicitou que seus pais fossem deslocados das últimas fileiras da platéia para perto do palco, já que não tocaria sem vê-los, o que contrariava os costumes racistas da época em que aos negros eram destinados somente os últimos assentos. Aos 17 anos de idade Nina não foi aceite no Curtis Institute of Music – um conservatório de música clássica – e ninguém tirou da cabeça dela que a rejeição acontecera por ser uma mulher negra. Mas não foi apenas o racismo que transformou a vida de Nina Simone. Casada com um policial, Nina também chegou a ser espancada pelo marido.

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Nina Simone sofreu preconceito por ser negra, violência familiar, e tudo isso pode ser ouvido, visto e sentido no seu piano. Com um incrível talento para o instrumento, a cantora se destaca pela sua voz e inteligência musical, mas também pela potência de suas canções próprias ou interpretadas. O ativismo sempre foi uma marca de sua personalidade e uma constante em suas letras. Four Women conta a vida de diferentes mulheres, com diferentes histórias de vida – algumas mais sofridas do que outras -, de diferentes raças, mas que não tiveram voz, não sem Nina. Ain’t Go No/I Got Life é um símbolo de luta, de resistência. Aqui, Nina está sem casa, sem sapato, sem dinheiro, mas tem o seu cabelo, a sua pele, e tem a si mesmo. I Want a Little Sugar in my Bowl é um desabafo: quem nunca quis que o mundo girasse ao seu redor ao menos uma vez? Quem nunca quis um pouco de açúcar em sua tigela? Ainda mais, quem sofreu tanto. Nina também gravou e emprestou sua voz a famosas canções que tomaram uma alma própria com sua interpretação, como Here Comes The Sun dos Beatles, e Suzannede Leonard Cohen.

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O amor, a escravidão, o ser mulher, a resistência, a persistência. Tudo isso cantando por uma voz profunda. Seja compondo ou interpretando, Nina fala sobre a verdade. A sua verdade. E não há nada mais bonito, e sofrível, do que isso: estar de acordo com aquilo em que se acredita verdadeiramente. Nina não foi um grande ser humano somente por lutar contra um mundo racista e machista, mas também – e principalmente – por cantar com o coração, por cantar com verdade tudo aquilo em que vivia. Por fazer aqueles que têm o imenso prazer de escutá-la serem transportados para o mundo dessa maravilhosa cantora e acreditarem em suas angústias. Um cantor é uma contador de histórias, um ator, e deve fazer quem o escutar acreditar no que se canta. E pouquíssimos tiveram – ou têm – a capacidade que Nina Simone teve de levar-nos ao seu mundo, de nos fazer viver e sofrer com ela.

Sua linda e poderosa voz se calou em 2003, mas seu espírito e seu charme permanecerão vivos dentro de quem tem o privilégio de compartilhar um mundo de sorrisos e lágrimas com ela. Basta ouvi-la.

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vítor martins

não é um apaixonado pela vida, mas tem lá sua quedinha pela arte.
Fonte: Obivious

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