Cerca de seis anos após a epidemia de cólera que matou milhares de pessoas no Haiti, pela primeira vez, as Nações Unidas reconheceram seu envolvimento involuntário na disseminação do surto. Em nota, representantes do secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, explicaram que “no ano passado, as Nações Unidas se deram conta de que precisam fazer muito mais a respeito de seu envolvimento desde o início da epidemia e do sofrimento das pessoas afetadas pelo cólera”. Um deles, Farhan Haq, afirmou que uma resposta será elaborada.
No comunicado, Haq afirmou que a ONU está considerando “uma série de opções” e “uma nova e significativa série de ações por parte da organização” será apresentada publicamente nos próximos meses. O caso foi noticiado ontem pelo New York Times. A declaração foi feita após, no começo do mês, um relatório apontar que a doença chegou ao país com os capacetes azuis do Nepal, provavelmente, no fim de 2010, dificultando o já difícil panorama do país após o terremoto que devastou a ilha. Ainda segundo o documento, a recusa da ONU em reconhecer sua culpa no episódio e oferecer uma indenização “é moralmente inconcebível, legalmente indefensável e politicamente contraproducente”.
A mensagem foi bem recebida por advogados das vítimas. “Essa é uma grande vitória para os milhares de haitianos que têm buscado por justiça, escrito à ONU e questionado a organização na Justiça”, disse Mario Joseph, advogado dos direitos humanos, cujo escritório é responsável por um grande caso representando 5 mil vítimas de cólera que culpam a ONU pela doença. “É um bom momento para que a ONU faça o correto e prove ao mundo que ‘direitos humanos para todos’ também inclui os haitianos.”
Em uma carta a altos funcionários da organização mundial, cinco especialistas em direitos humanos criticaram a ONU no ano passado por “praticamente se recusar a aceitar o direito fundamental à justiça que têm as vítimas do cólera”. A epidemia de cólera que atingiu o Haiti em 2010 afetou centenas de milhares de pessoas e causou mais de 9 mil mortes. Ainda que o número de vítimas venha diminuindo ao longo dos últimos anos, novos surtos têm surgido regularmente.