Entrevista: Professor Silvio Luiz de Almeida

Entrevista do Esquerda Diário com o Professor Doutor Silvio Luiz de Almeida, professor de direito e Presidente do Instituto Luiz Gama, que estava na mesa “Tumbuctu – Educação e povo negro: As barreiras postas pelo racismo e os desafios para enegrecer o conhecimento” no segundo dia do encontro de Estudantes e Coletivos Universitários Negros, realizado no Rio de Janeiro neste final de semana.

Do Esquerda Diário 

ED: Qual a importância do movimento negro se situar no campo de atuação da esquerda?

Sílvio: Veja, esse é um debate importante hoje, e que muitas vezes envolve certa confusão. Uma coisa é a denúncia das contradições existentes nas organizações que dizem ser de esquerda, mas que muitas vezes suas práticas não condizem com as posições historicamente ligadas ao “ser de esquerda” ou “estar a esquerda”. Outra coisa é a posição de esquerda. Estar a esquerda, defender as posições históricas dos trabalhadores, e no Brasil os trabalhadores tem cor, o trabalhador tem gênero, é a mulher preta, é a trabalhadora que sofre todas as mazelas do capital, é que paga mais tributo, é a que em termos proporcionais ganha menos, é a que é explorada, que não recebe as fatia mínimas do bolo do capital. Então as demandas historicamente vistas como demandas de esquerda nascem da luta daquilo que nos chamamos de movimento negro, o movimento negro na sua luta contra as mazelas da sua própria condição estabelece como luta concreta as luta de esquerda, então a saída para o movimento negro nunca é junto às políticas liberais, junto ao Neoliberalismo, que acentua a condição individual e nos coloca de maneira mais escolástica quando na verdade a nossa única forma de luta contra o racismo e seus efeitos é através da unidade, dos laços comunitários, da luta contra a lógica do ser humano como mercadoria, ou seja, a luta do movimento negro é à esquerda. Nesse momento histórico, sem sombra de dúvidas, a luta dos negros é no campo da esquerda.

ED: A gente está vivendo um a situação especial no Brasil, na qual estamos vivendo 2 dias de Governo Temer, que na opinião do Esquerda Diário é um governo golpista e eu queria saber qual a sua posição também com relação a isso: é preciso que o movimento negro também se posicione? Ou podemos deixar isso passar ao largo? Como que você vê essa questão?

Sílvio: O movimento negro será o mais afetado com isso, porque as mínimas políticas sociais voltadas para a população negra correm um risco. Agora vamos voltar um segundo, se existe política social, as pessoas que são as beneficiadas em maior número pelas políticas sociais, que são tidas insuficientes, no aquário do capitalismo, elas servem à população negra: hospital universal, saúde universal de qualidade, educação universal, tudo isso são direitos sociais que serão afetados diretamente por essa inclinação ao equipamento neoliberal, do governo que assume de maneira ilegítima aqui no Brasil. Então é fundamental que o movimento negro se posicione, inclusive para a sua própria sobrevivência. E eu vou dizer também, não só o movimento negro, mas também as organizações de esquerda: não se pode, nesse momento histórico em que é necessário ter as mentes e os braços juntos, unidos para pensar a resistência e a luta contra o que se avizinha que deixemos de lado o movimento negro, o estudante negro, a luta nega, E digo mais: se não existe mobilização social efetiva e forte contra o que está acontecendo no Brasil, é porque faltou integração com a comunidade negra, faltou falar à comunidade negra, faltou trazer a comunidade negra junto com essa luta. Então sem a comunidade negra, sem a questão racial, não há como vencer as mazelas do neoliberalismo brasileiro nessa sua nova versão.

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