“A USP é um espaço de privilégio e continua sendo uma ilha de exceção, uma ilha de manutenção de privilégios e uma ilha de manutenção de privilégio branco, sobretudo. E a prova concreta está no conteúdo da proposta deles, que estabelece o acesso para um percentual ínfimo”, disse Douglas Belchior, da União de Núcleos de Educação Popular para Negras, Negros e Classe Trabalhadora (Uneafro).
O número de vagas que serão destinadas ao grupo PPI foi decidido independentemente por unidade da universidade e aprovada terça-feira (23) pelo Conselho Universitário da instituição. Assim, enquanto o curso de marketing da USP Leste vai reservar 10% de suas vagas para o grupo, outras unidades, como a Faculdade de Medicina, não farão nenhum tipo de reserva.
“É uma resposta [da USP] que tenta amenizar as críticas e amenizar esse caráter racista que a universidade reafirma ao propor essa política. Para nós, ela é extremamente ineficaz e a história mostrará, assim como todas as demais iniciativas que não conseguiram alterar significativamente a presença de negros dentro da USP. Essa proposta também não alcançará esse objetivo”, acrescentou Belchior.
Dos 151 cursos que serão oferecidos pela USP em 2016, em apenas 13 haverá reserva de vagas para pretos, pardos ou indígenas: bacharelado em sistemas da informação, licenciatura em ciências da natureza, educação física e saúde, gerontologia, obstetrícia, saúde pública, psicologia, bacharelado em têxtil e moda, bacharelado em lazer e turismo, bacharelado em gestão ambiental, gestão de políticas públicas, marketing e relações internacionais.
As vagas serão preenchidas pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação, que leva em conta as notas obtidas pelos alunos no Exame Nacional de Ensino Médio (Enem).
“É um avanço utilizar o Sisu, mas o percentual é extremamente baixo, nas demais universidades públicas, de forma geral, esse percentual é bem maior e é aplicado de forma homogênea. A USP fez isso de forma muito fragmentada, há cursos que se recusaram”, destacou Maria José Menezes, do Núcleo de Consciência Negra (NCN) na USP.
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As faculdades de Medicina, de Economia e Administração e a Politécnica estão entre as unidades que não adotaram o novo modelo de ingresso com base no Enem. Também não vão implementar o sistema a Escola de Engenharia de São Carlos, o Instituto de Física (SP), o Instituto de Química de São Carlos, a Faculdade de Odontologia (SP). Além dessas, a Escola de Comunicações e Artes, a Faculdade de Arquitetura e Urbanismo e o Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos não vão aderir ao novo modelo. Parte das unidades da USP, como a Faculdade de Direito, decidiu que vai reservar algumas vagas para alunos egressos de escola pública, mas sem considerar a classificação racial.
A adoção de cotas para pretos, pardos e indígenas tem sido feita por boa parte das faculdades públicas do país. As universidades federais, por exemplo, estão obrigadas, a partir de 2016, a reservar 50% de suas vagas para estudantes egressos de escolas públicas. Dentro desse montante, terão de reservar aos pretos, pardos ou indígenas parcela de vagas proporcionais ao que o grupo representa na população do estado onde fica a universidade. Como em São Paulo esse percentual é, aproximadamente, 35%, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) terá de reservar, entre os 50% advindos de escola pública, essa quantidade de vagas para o grupo.
“Ficamos ilhados por muitos anos e agora nós começamos a quebrar essa parede, esse primeiro passo é o mais importante, os outros virão nos próximos anos. Foi uma grande vitória para a Universidade de São Paulo, temos a oportunidade de nos inserir em um sistema nacional de seleção de alunos, o que aumenta a oportunidade para estudantes do Brasil inteiro”, destacou o reitor da USP, Marco Antônio Zago, após a reunião do conselho na terça-feira.