Movimento negro brasileiro entrega carta a Lula e Biden dois dias antes de visita à Casa Branca

Enviado por / FonteO Globo

Dez organizações do setor assinaram o documento, que pede uma 'retomada inclusiva' do plano de ação conjunta acordado pelos países em 2008 para promover a igualdade racial

Organizações do movimento negro brasileiro entregaram uma carta aos presidentes Luiz Inácio Lula da SilvaJoe Biden pedindo uma “retomada inclusiva” do Plano de Ação Conjunta Brasil-Estados Unidos para a Eliminação da Discriminação Étnico-Racial e a Promoção da Igualdade (Japer, na sigla em inglês), assinado em 2008 entre os países.

O documento, assinado por dez organizações do setor, foi entregue na quarta-feira, dois dias antes de uma visita de Lula à Casa Branca, programada para sexta-feira e na qual deverão ser tratados assuntos como preocupação com desinformação e assédio à democracia, além de questões relacionadas ao meio ambiente.

Na carta, o grupo lembra que o Brasil e os EUA passaram por drásticas transformações desde que o Japer foi assinado 15 anos atrás.

“Apesar de ambos os países terem atingido importantes resultados na luta contra o racismo, estamos longe de chegar no dia em que a discriminação racial não mais será um tema de grande preocupação. Pessoas negras continuam sendo privadas do exercício pleno de seus direitos políticos, econômicos, sociais e culturais. Além disso, a violência ainda ceifa as vidas de homens, mulheres e crianças negras”, afirma o documento.

De acordo com os dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), 77% das vítimas de assassinatos no Brasil são negras, mas representam 56% do total da população. Já nos Estados Unidos, o número de pessoas mortas pela polícia bateu recorde no ano de 2022, sendo desproporcional o índice de assassinatos de pessoas negras, tal como ilustram casos emblemáticos, como o assassinato de George Floyd em 2020.

As organizações destacam ainda a importância de um mecanismo como o Japer para promover a cooperação entre os dois países na luta contra o racismo e a discriminação racial, mas ressaltam que o impacto gerado nos últimos anos foi limitado pela “falta de interesse de administrações passadas em implementar o plano”, pela “ausência de uma estratégia objetiva de implementação”, e devido à “sub-representação das organizações da sociedade civil no desenho e implementação do plano”.

“Esta é uma oportunidade chave não apenas para retomar o Japer, mas também para fazê-lo melhor e mais eficaz. A luta contra a discriminação racial se tornou uma importante agenda nos fóruns multilaterais, o que pode ser exemplificado pela decisão da Assembleia Geral das Nações Unidas de declarar o período 2015-2024 como a Década Internacional de Afrodescendentes e o recém criado Forum Permanente de Afrodescendentes”, afirmam.

E convocam as autoridades dos dois países a lançarem mão de todo o potencial do mecanismo ao considerar a ampla participação da sociedade civil.

“Tanto Biden quanto Lula alcançaram as vitórias contra o fascismo nas urnas graças ao apoio massivo das populações negras do Brasil e dos EUA. Ambos são aliados importantes e podem fazer governos históricos no sentido da promoção de igualdade e justiça racial. Efetivar o acordo de Ação Conjunta Brasil-EUA para a Eliminação da Discriminação Étnico-Racial é um passo fundamental”, diz Douglas Belchior, membro da Uneafro Brasil, uma das organizações que subscrevem a ação.

O Washington Brazil Office (WBO), organização independente que trabalha pela proteção e promoção dos direitos humanos, defesa da democracia, e fortalecimento da sociedade civil brasileira no âmbito internacional, atuou como aglutinadora e articuladora da iniciativa, convocando e realizando as reuniões entre suas organizações afiliadas, afins à temática racial.

+ sobre o tema

Bispo Edir Macedo: “Dilma é vítima de mentiras espalhadas na internet”

Por José Orenstein   SÃO PAULO – O...

Pacto sinistro

A sociedade brasileira atravessa turbulências originais. Depois do deslocamento...

A luta de uma escritora da Islândia para que não haja mais tragédias como a do bebê sírio. Por Paulo Nogueira

E então penso comigo. Tanta gente desinspiradora tem ocupado meus...

Mercadante telefona para Alckmin e reconhece derrota em SP

Por: Dennis Barbosa Candidato do PT agradeceu votos recebidos...

para lembrar

Preconceito, racismo e discriminação no contexto escolar

Existe muito preconceito, racismo e discriminação no contexto escolar...

Jundiaiense denuncia contratação da Magazine Luiza por discriminação racial

O programa de contratação trainee exclusivo para negros da...

Brasil será avaliado pela ONU quanto à eliminação da discriminação racial

O Brasil passará por uma avaliação da Organização das...

‘Números da Discriminação Racial’ é um chamado para repensar nossas políticas

Existem avanços no cenário racial brasileiro. Houve uma melhora...

Ministério da Igualdade Racial lidera ações do governo brasileiro no Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU

Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, está na 3a sessão do Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU em Genebra, na Suíça, com três principais missões: avançar nos debates...

Educação antirracista é fundamental

A inclusão da história e da cultura afro-brasileira nos currículos das escolas públicas e privadas do país é obrigatória (Lei 10.639) há 21 anos. Uma...

Projeto SETA promove eventos no Fórum Permanente de Afrodescendentes da ONU 

Entre os dias 16 e 18 de abril, o Projeto SETA, iniciativa cujo objetivo é transformar a rede pública escolar brasileira em um ecossistema de qualidade...
-+=