Negras brasileiras trazem sua contribuição para os debates da CSW

Evento paralelo à Comissão sobre o Estatuto da Mulher discute situação das descendentes de africanos; na sede da ONU em Nova York, negras brasileiras falam sobre duas opressões: o fato de serem negras e mulheres.

no Unmultimedia

Leda Letra, da Rádio ONU em Nova York. 

As missões do Brasil e dos Estados Unidos na ONU organizaram um debate sobre a situação das mulheres descendentes de africanos. O evento desta quarta-feira foi paralelo à 60ª sessão da Comissão sobre o Estatuto da Mulher e ocorreu na sede das Nações Unidas, em Nova York.

Convidada a participar do encontro, a mestre em Filosofia Djamila Ribeiro foi entrevistada pela Rádio ONU e lembrou que as brasileiras negras sofrem dois tipos de opressão.

Raça e Gênero

“Vivemos mais de uma opressão. Racismo, machismo, a questão também de mulheres lésbicas ou trans, quando somam mais de uma opressão. A gente precisa ter um olhar interseccional sobre as opressões, parar de tratar as categorias de formas isoladas. Porque como mulheres e negras, estamos ali num entrecruzamento de raça e gênero. Então é preciso que nós, enquanto mulheres negras possamos ter esses espaços de protagonismo para a gente poder enunciar e trazer à tona essas realidades.”

Além de Djamila Ribeiro, outra brasileira participou do debate ao lado de ativistas dos Estados Unidos. Valdecir do Nascimento é coordenadora-executiva da Articulação Nacional das Mulheres Negras. Segundo ela, a situação no Brasil é “alarmante”.

Educação e Trabalho

“As mulheres negras vivenciam uma experiência do assassinato em massa da juventude negra. É algo que acontece nos Estados Unidos, mas no Brasil isso tem cada vez ficado mais grave. Ao mesmo tempo, o Congresso Nacional brasileiro reduz a maioridade penal. Tudo isso afeta diretamente as mulheres negras. Sem contar dos processos de acesso à educação, ao trabalho de qualidade num momento de crise como esse. Tudo isso vai impactar na vida das mulheres negras.”

Segundo Valdecir do Nascimento, outros desafios são: combater o racismo, a violência e assegurar o bem viver para a comunidade negra. O Brasil preside esta sessão da Comissão sobre o Estatuto da Mulher, que termina na quinta-feira, 24 de março.

+ sobre o tema

Ser Miss Brasil importa

Não faltam negras lindas no Brasil. O que sobra...

Como transformar Carolina Maria de Jesus em quadrinhos

Entrevista com os autores conta a história do projeto...

“Eu sou neguinha?”

Eu era o enigma, uma interrogação. Negra me define...

Recordista de jogos pela seleção, Formiga é primeira mulher a receber a Bola de Prata

Ela é um símbolo para o futebol feminino brasileiro,...

para lembrar

Uma Mulher Negra para o Supremo Tribunal Federal (STF) já!

Os debates se tornaram calorosos neste últimos dias em...

Baiana recebe prêmio que estimula mulher negra contar sua história

A ativista da luta pela garantia dos direitos das...

Vidas negras importam ou a comoção é seletiva?

Há três meses ocorreu a chacina de Costa Barros,...

Na época do Brasil colonial, lei permitia que marido assassinasse a própria mulher

Jorge Amado abre o clássico Gabriela, Cravo e Canela...
spot_imgspot_img

A luta por uma ministra negra

Nas últimas semanas, parte da militância virtual petista passou a atacar duramente o humorista Gregorio Duvivier por sua defesa da nomeação de uma mulher negra para...

Racismo escancarado

Duas décadas atrás, na esteira da Conferência Mundial contra a Discriminação Racial, em Durban (África do Sul), um conjunto de organizações da sociedade civil,...

Mulheres negras blogueiras, responsabilidade e ação

O trabalho de uma mulher negra blogueira não tem o devido reconhecimento e visibilidade, mesmo que seus artigos alcance milhares de leitores. Existe uma visão...
-+=