Todo novembro no Brasil é o mesmo rame-rame sobre dedicar uma data à exaltação das lutas e da resistência do povo negro contra as desigualdades e as diversas formas de opressão decorrentes do racismo. Entre os argumentos contrários, estão os discursos de uma raça única (a humana) e do fomento da desunião entre os brasileiros, e blá-blá-blá…
É assim desde que a Lei 12.519/2011 instituiu o Dia (20) Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, dedicado à reflexão sobre as vicissitudes impostas a pretos e pardos por conta da diferenciação física decorrente da escravização negra.
Contudo, em 2023 a turma que insiste em defender o mito da nossa “democracia racial” conseguiu se superar ao acrescentar a “ingratidão negra” entre os elementos a serem observados. Já teve gente no RJ bradando publicamente por “reconhecimento e gratidão à princesa Isabel por ter libertado os escravos.” Haja paciência!
No artigo “Ser Negro no Brasil Hoje”, publicado pela Folha, o geógrafo Milton Santos (1926-2001) observou o quanto o olhar distorcido da realidade social do negro impede o real enfrentamento da questão racial no país: “…a opinião pública foi, por cinco séculos, treinada para desdenhar e mesmo não tolerar manifestações de inconformidade, vistas como um injustificável complexo de inferioridade, já que o Brasil, segundo a doutrina oficial, jamais acolhera nenhuma forma de discriminação ou preconceito.”
É dessa maneira que convicções escravocratas mantêm estereótipos que ultrapassam o limite do simbólico no cotidiano. Como disse a filósofa Bárbara Carine Pinheiro em suas redes sociais, os que têm ojeriza e vergonha da escravização negra devem ser gratos a Luísa Mahin, Luiz Gama, Maria Felipa, Zumbi, Dandara dos Palmares, ao Dragão do Mar.
Esses (e muitos outros) sim são personagens fundamentais para a abolição da escravatura no Brasil e para a luta por equidade e justiça, que é constante para quem defende o antirracismo.