O que podemos aprender com a argentina Thelma Fardin sobre vítimas de violência sexual

Para a proteção das vítimas, pautar o debate público com boa cobertura da imprensa é fundamental

Bianca Santana é Doutora em ciência da informação, mestra em educação e jornalista. Autora de "Quando me Descobri Negra" - João Benz/Divulgação

Em junho deste ano, Juan Darthés, ator argentino-brasileiro, foi condenado a seis anos de prisão em regime semiaberto por abuso sexual. Em 2009, quando tinha 45 anos, estuprou a atriz argentina Thelma Fardin, que tinha 16 anos de idade.

A condenação, em segunda instância, foi precedida pela absolvição de Darthés, em 2022, pela justiça de São Paulo, depois de quatro anos de enfrentamento jurídico e exposição pública. E há quem se pergunte por que vítimas de violência sexual não denunciam seus agressores.

Por nove anos, Thelma Fardin sofreu em silêncio o trauma do abuso assistindo a celebração pública de seu agressor.

Eram recorrentes os pensamentos que assombram tantas mulheres: se denunciasse, seria a palavra dela contra a dele; não tinha provas; perguntariam se não foi mesmo consentido, o que ela estava vestindo, o que fez para provocá-lo; um homem famoso e poderoso poderia mobilizar todos os recursos para destruí-la; em um inquérito policial, quantas vezes teria que responder às mesmas perguntas em tom hostil, ser revitimizada.

Somente em 2018, na onda #MeToo que tomou a Argentina, Thelma Fardin se sentiu segura para denunciar o agressor. Três mulheres já tinham registrado denúncias contra ele. Darthés fugiu para o Brasil.

Thelma recebeu imenso apoio. A hashtag #miracomonosponemos, ressignificou a frase do agressor: “olha como eu fico”. Argentinas manifestaram nas redes como as mulheres ficam quando são abusadas: juntas, temos a força necessária aos enfrentamentos.

Em fevereiro de 2023, fui procurada por Thelma: “Denunciei por abuso sexual um ator que fugiu para o Brasil e estamos na reta final do julgamento, esperando o veredito. Meu caso na Argentina ganhou grande relevância. Mas não é assim no Brasil, e seria importante ter redes feministas e de direitos humanos me apoiando”.

Entrei em contato com diferentes grupos e organizamos um encontro de aproximadamente vinte mulheres. Ouvimos o relato de Thelma, manifestamos nossa solidariedade, publicamos fotografias.

Para a proteção das vítimas, pautar o debate público com conteúdos nas redes e boa cobertura da imprensa é fundamental. E Thelma estava espantada com a falta de preparo da imprensa brasileira.

Eu e Luka Franca, do Movimento Negro Unificado, saímos com a tarefa de buscar boas práticas. Formulamos juntas um pequeno texto para o Twitter: “O feminicídio e a violência contra meninas e mulheres —principalmente negras— têm aumentado. O modo como comunicamos pode ajudar na proteção das vítimas e para que novos casos não aconteçam, ou pode reforçar os estereótipos que produzem morte.”

Listo abaixo as referências que servem a jornalistas, mas também a quem está reproduzindo violências nas redes sociais e grupos de WhatsApp.

Evite passar vergonha e, principalmente, revitimizar mulheres.


Bianca Santana – Doutora em ciência da informação, mestra em educação e jornalista. Autora de “Quando me Descobri Negra”

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