Direitos humanos das mulheres guineenses violados por não terem acesso a propriedade das terras

Segundo o estudo, as mulheres guineenses são as que mais trabalham na agricultura, mas apenas em terras emprestadas ou de concessão temporária, sendo por isso discriminada sem que o Estado intervenha.

Do Observador 

Duas mulheres guineenses e uma criança aproximadamente de 9 anos em frente a casas de sapé. Uma mulher com um pau e um pilão e outra com braços para trás e olhando para o fotográfo
O estudo considera que “quase tudo o que se come” na Guiné-Bissau é produzido pelas mulheres e que no dia em que saírem da atividade produtiva a própria economia do país morre
(Foto: MANUEL MOURA/LUSA)

A impossibilidade de as mulheres da Guiné-Bissau não terem acesso à propriedade de terras agrícolas é uma das principais violações dos direitos humanos no país, segundo um estudo da organização não-governamental guineense Tiniguena.

Segundo o estudo, as mulheres guineenses são as que mais trabalham na agricultura, mas apenas em terras emprestadas ou de concessão temporária.

A conclusão é do sociólogo Miguel de Barros, secretário executivo da Tiniguena, uma das mais destacadas organizações não-governamentais em questões de proteção e conservação do meio ambiente.

A ONG produziu recentemente um estudo e concluiu que “a mulher é discriminada e impedida de ter a posse da terra” sem que o Estado guineense faça algo que traga a justiça, disse Miguel de Barros.

O estudo da Tiniguena considera que “quase tudo o que se come” na Guiné-Bissau é produzido pelas mulheres, sobretudo as do mundo rural, e que no dia em que saírem da atividade produtiva a própria economia do país morre.

A mulher guineense é a principal motora de vida das nossas comunidades. Se tirarmos hoje a mulher da economia é o próprio Estado que vai à falência”, observou Miguel de Barros, desafiando as autoridades a terem um outro olhar sobre as mulheres produtoras.

O sociólogo considera inaceitável que se continue a aceitar que a mulher não seja proprietária da terra – que é dada em regime de empréstimo ou de aluguer – quando na realidade é a principal utilizadora das mesmas para produção e geração de riqueza.

“Uma das maiores violações dos direitos na Guiné-Bissau é a falta do reconhecimento de que a mulher também é dona da terra onde trabalha”, defendeu Miguel de Barros, que denunciou o facto de a mulher ter que dar conta ao marido sobre os resultados do que produz “nas terras alugadas”.

Para Miguel de Barros, deve constituir tarefa principal da Guiné-Bissau respeitar, valorizar, reconhecer e proteger os interesses da mulher no uso e posse da terra, sob pena de continuar a potenciar uma sociedade de instabilidade, disse.

“Se a mulher não estiver bem, a família não estará boa, logo a sociedade não estará boa, assim virá a instabilidade e de lá chegará facilmente a violência no país”, afirmou o responsável da Tiniguena.

Segundo Miguel de Barros, as sociedades mais pacíficas são as que têm resolvido a sua relação com a mulher, de ponto de vista dos seus direitos, precisou, para chamar a atenção das autoridades e das próprias lideranças femininas sobre um trabalho que disse ser urgente.

Citando ainda o estudo da Tiniguena, Miguel de Barros realçou que 30% das meninas em idade escolar na Guiné-Bissau não entram para a escola e as que são matriculadas não terminam sequer o sexto ano.

“Simplesmente são dadas em casamento, chegadas a certa idade”, declarou o sociólogo, frisando que chegam a ser “trocadas” por pedaços de terras como dote, mas que acabam por não lhes pertencer na realidade.

Trabalhando naquelas terras, o destino a dar ao resultado do trabalho é determinado pelo marido e em caso de morte a filha não tem direito à herança das terras e se o marido morre é o irmão do defunto que fica com a posse das mesmas, explicou Miguel de Barros.

+ sobre o tema

Comunidades quilombolas já podem solicitar auxílio para ações do Dia da Consciência Negra

Comunidades quilombolas das Regiões de Desenvolvimento de Pernambuco...

Joaquim Barbosa divulga nota de pesar pela morte de Mandela

O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa,...

O que é que Bahia tem e vai mais além?

...Ogum é quem domina.....mas a essência de Othelo é...

A história do imperador Mansa Musa, a pessoa mais rica que já existiu

Dono de uma fortuna incalculável, o rei africano comandou...

para lembrar

Navio negreiro trouxe malária para a América do Sul

Uma equipe de cientistas descobriu que o mais comum...

Seedorf será o novo técnico do Milan, diz canal italiano

  O canal italiano Sky Sportnoticiou nesta sexta-feira que...

Sancionada lei que cria Dia Nacional do Candomblé

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a...
spot_imgspot_img

Podcast brasileiro apresenta rap da capital da Guiné Equatorial, local que enfrenta 45 anos de ditadura

Imagina fazer rap de crítica social em uma ditadura, em que o mesmo presidente governa há 45 anos? Esse mesmo presidente censura e repreende...

Mulheres sambistas lançam livro-disco infantil com protagonista negra

Uma menina de 4 anos, chamada de Flor de Maria, que vive aventuras mágicas embaixo da mesa da roda de samba, e descobre um...

50 anos de Sabotage: Projeto celebra rapper ‘a frente do tempo e fora da curva’

Um dos maiores nomes no hip hop nacional, Sabotage — como era conhecido Mauro Mateus dos Santos — completaria 50 anos no ano passado. Coincidentemente no mesmo ano...
-+=