Educação antirracista é fundamental

A maioria das instituições limita-se a promover alguma atividade sobre o Dia da Consciência Negra

FONTEFolha de São Paulo, por Ana Cristina Rosa
A jornalista Ana Cristina Rosa é Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública) - Foto: Keiny Andrade/Folhapress

A inclusão da história e da cultura afro-brasileira nos currículos das escolas públicas e privadas do país é obrigatória (Lei 10.639) há 21 anos. Uma das finalidades é desmistificar a construção social que resumiu os negros à condição de descendentes de “escravos”.

Há 21 anos, a lei é desrespeitada. A maioria das instituições limita-se a promover alguma atividade sobre o Dia da Consciência Negra. Isso torna ineficaz uma iniciativa que poderia representar um enorme avanço do antirracismo num país onde o racismo é institucional e foi naturalizado. De tal maneira que há séculos pretos e pardos se encontram em permanente desvantagem.

Estudantes da escola municipal Ruben Bento Alves, de Caxias do Sul (RS), onde são realizadas atividades escolares que envolvem temas de relações étnico-raciais – Carlos Macedo – 6.out.2022/Folhapress

O papel da escola é fundamental para enfrentar o racismo. Pode inibir a reprodução de crenças preconceituosas e opressivas, e evitar situações como a que ocorreu num dos colégios mais caros de Brasília, o Galois, onde alunos de uma escola franciscana foram hostilizados com gritos de “macaco”, “pobrinho” e “filho de empregada”.

Dependendo das circunstâncias, entendo que o conceito de pobreza pode ser relativizado. “Pobrinho” é aquele que vê demérito em quem não é rico, que menospreza “filho de empregada” e entende a humanidade como privilégio branco ao chamar uma pessoa negra de “macaco”.

Fico me perguntando o que o Galois está fazendo (além de “investigar internamente” e “lamentar” o comportamento de seus alunos) para prevenir casos de discriminação. O que pratica em termos de educação antirracista?

Alguém perguntou aos estudantes a respeito das razões além da genética que levam um jovem a ser franzino? Será que disseram aos “bem-nascidos” que pobreza não é defeito, mas a miséria impede o desenvolvimento de um corpo ‘sarado’ à base de orientação nutricional, whey protein e personal trainer?

Assim como dinheiro não garante civilidade, o racismo não irá se desconstruir sozinho. E o convívio e o respeito às diferenças precisam ser ensinados também na escola.

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