Fala-se muito hoje em dia em ter opinião, em se posicionar e em defesa de ideias. É quase uma covardia abrir mão de uma ideia em prol de outra totalmente contrária. E mais, aqueles que divergem de suas opiniões muita das vezes passam a ser considerados “inimigos” do estado defensor daquela ideia. Mas, quando essa defesa de opinião passa a ser considerada intolerância ou extremismo?
por Helder de Souza Pereira via Guest Post para o Portal Geledés
Penso que somente agora o brasileiro começa a sentir o gosto do que é opinar, e nada mais comum que haja dificuldade em entender o que isto significa. Na tentativa de querer valer a sua ideia, usa-se de muitos argumentos que por vezes não são tão éticos como acreditamos que sejam. O avanço das tecnologias, principalmente no que se refere a meios de comunicação, ampliou a nossa voz e aproximou as pessoas. O problema é quando essa proximidade chega nas fronteiras da divergências. Grupos de pensamentos diferentes existindo no mesmo espaço e usando dos mesmos meios de comunicação para valer a sua ideia. Mas, qual a finalidade da defesa de ideias? E o que ganhamos alimentando o cabo de guerra das opiniões? Ora, se o objetivo maior é o bem comum, porque não deixar de lados algumas diferenças e tentamos chegar a uma nova opinião comum a todos?
Lembro-me bem da época da escola, nas aulas de história, quando estudei sobre um movimento bastante conhecido que moldou o nosso mundo moderno: o iluminismo. E a partir dai, não me esqueci jamais da forma como esse movimento em meio a tanta divergência chegava a um senso comum. Um grupo de pensadores europeus que tinha ideias, crenças e objetivos diferentes, se reuniam para alcançar algo que hoje parece impossível: uma nova ideia a partir dos pontos comuns das ideias diferentes. O que é mais paradoxal é que, com o todo o nosso avanço tecnológico que temos e com toda a liberdade que também temos, chegar a um senso comum é cada vez mais dificil, pelo menos, em nosso país. Estamos cada vez mais divididos em nossas ilhas de interesse, quando as redes deveriam nos unir. É um caso a pensar e refletir, mas, em uma democracia nova como a nossa é comum que ainda tenhamos resquícios da coroa portuguesa, do coronelismo, do senhor de engenho e da tão controversa ditadura. Sempre fomos tutelados por um regime, não aprendemos na prática de outra forma. Até Getúlio Vargas por maior exemplo de governante que tenha sido foi um ditador. Então, nada mais natural que no momento que experimentamos a liberdade de ideias, demostrarmos ações de controle e imposição.
Nesse momento, é preciso ter discernimento e paciência, principalmente quando ocorre picos de extremismo de opinião. Se há espaço para o dialogo que assim o faça, porém, de outro modo, que um dos lados se cale, evitando assim problemas maiores. Melhor seria se ambos os lados que divergem sentem-se assim como os iluminista e negociem a construção de uma nova ideia a partir dos pontos que nos una.