Foto: Beatriz de Oliveira
Na última sexta-feira, 25 de julho, centenas de mulheres negras se reuniram no centro da capital paulista para a 10ª Marcha de Mulheres Negras de São Paulo. Com o lema “Por Reparação, Bem Viver e Contra as Violências do Estado”, a Marcha reuniu ativistas engajadas na construção de um novo projeto político de país. Representantes de Geledés – Instituto da Mulher Negra participaram do ato.
A concentração iniciou às 17h, na Praça da República. O primeiro momento foi marcado por falas de ativistas pertencentes a diferentes frentes de atuação, como religiões de matriz africana, evangélicas, imigrantes, pessoas com deficiência e mães. Por volta das 20h30, no ritmo dos tambores do grupo Ilú Obá De Min, a caminhada pelas ruas começou.
O Portal Geledés perguntou para algumas participantes quais motivos as mobilizaram e moveram a unirem forças em prol dessa luta coletiva. Destacamos também depoimentos de diretoras de Geledés. Confira a seguir!
Nilza Iraci, Coordenadora de Formação, Cuidado e Emancipação em Geledés
“A Marcha de hoje é resultado de uma Marcha que nós fizemos em Brasília, em 2015, em que 50 mil mulheres estiveram nas ruas dizendo não a toda e qualquer forma de opressão, preconceito, discriminação e violência. Desde então, há dez anos, saímos nas ruas e fazemos ouvir nossas vozes. É um dia de luta, mas também de celebração das nossas vidas, dos nossos sonhos e da nossa alegria de estarmos juntas lutando pelo Bem Viver e por reparação.”
Suelaine Carneiro, Coordenadora de Educação e Pesquisa de Geledés
“Neste 25 de julho de 2025, Geledés está novamente nas ruas reivindicando direitos para as mulheres negras. A Marcha de São Paulo tem o compromisso com a construção das reivindicações que levaremos em novembro para a Marcha Nacional das Mulheres Negras. Hoje é um dia importante porque culmina todo um processo de denúncias, reivindicações, mas principalmente proposições que nós, enquanto Geledés, temos feito por reparação e para que a gente de fato alcance o Bem Viver. Fazer uma Marcha hoje, aqui em São Paulo, destacando o empoderamento econômico, o Bem Viver e o direito à vida para todas as mulheres negras é construir futuro para nós no presente e para as nossas descendentes.”
Maria Sylvia, Coordenadora de Políticas de Promoção de Igualdade de Gênero e Raça de Geledès–
“Estamos indo para Brasília marchar por reparação e por Bem Viver, pelo fim da violência contra as mulheres negras. E eu tenho dito que, para que nós possamos alcançar esse Bem Viver, temos que disputar orçamento público. Precisamos de saúde, de educação e combater a violência, mas sem recursos todas as políticas que forem implementadas não terão sucesso. É isso que precisamos reivindicar em Brasília”.
Zezé Menezes, integrante da Marcha de Mulheres Negras de São Paulo
“Uma vez por ano, no 25 de julho, Dia da Mulher Negra Latina-Americana e Caribenha e Dia de Tereza de Benguela, estamos aqui na Praça da República para falar não ao racismo, não a LGBTfobia, não ao genocídio, não a violação dos corpos das mulheres e meninas negras. E nós reivindicamos o fim da violência de Estado contra a população negra, reivindicamos reparações históricas para o povo preto e reivindicamos o Bem Viver.”
Grazielle Salgado, fotógrafa periférica da Zona Leste de SP
“Estou aqui hoje na minha primeira Marcha para somar e lutar com as mulheres negras e com as pessoas aliades que estão aqui para nos ajudar. Acredito na Marcha, acredito em tudo aquilo que já conquistamos e naquilo que ainda vamos conquistar juntes.”
Regina Lucia Santos, coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado em São Paulo
“Acompanho a Marcha de Mulheres Negras de São Paulo há 10 anos. A nossa luta é pelo Bem Viver de toda a população negra, que é 56% desse país. A Marcha é fundamental para denunciar como anda a preocupação governamental em relação ao bem estar da mulher e, em especial, da mulher negra. E já faço um convite: que todas as mulheres e homens negros e brancos possam estar em Brasília no dia 25 de novembro, é de vital importância para transformarmos essa estrutura machista, racista e misógina que é o Brasil”.
Tania Regina Pinto, jornalista e educomunicadora
“Moro em Santos (SP) e subi a serra só para participar da Marcha das Mulheres Negras de São Paulo, porque eu também já estou me preparando para a Marcha Nacional do dia 25 de novembro. Essa é a nossa possibilidade de fazer a diferença, estamos vivendo numa sociedade que está doente. E sabemos que nós, [mulheres negras] somos a base da formação da sociedade. Tomar posse da nossa potência e acreditar na nossa origem africana é o que vai fazer a diferença na nossa vida. Sabemos que temos sempre que olhar para trás para garantir presente e futuro.”