Porque aparentemente ele está em todas as coisas mesmo.
Por Aline Ramos Do Buzzfeed
A condição dos negros quando chegaram ao Brasil era a de escravos.
Segundo o site Slave Voyages, o país recebeu cerca de 5 milhões de negros escravizados a partir de 1530. Eles foram trazidos do continente africano em condições sub-humanas pelos portugueses para realizarem trabalho forçado.
O Brasil foi o último país independente do continente americano a abolir a escravatura, em 1888. Porém, não foram implementadas medidas para inserir os negros na sociedade.
Em 2017, no Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial, o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) alertou que, atualmente, a população negra ainda é a mais afetada por desigualdades e violência no país.
Após o fim da escravidão, os negros não eram contratados para trabalhar de forma assalariada. Segundo um artigo publicado no site do Ipea, trabalho remunerado, mesmo que em condições precárias, era oferecido apenas aos imigrantes europeus. Sem opções de emprego, o destino de alguns negros foi continuar trabalhando para seus antigos donos, sem remuneração ou recebendo muito pouco.
A sociedade mudou e as formas de discriminação se atualizaram. Há profissões em que praticamente não há a presença de negros. Por outro lado, os trabalhos serviçais, que se aproximam mais com o que os negros eram encarregados desde o período da escravidão, são predominantemente ocupados por eles.
A população que se declara preta é a que mais sofre com o desemprego no país.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que, no final do quarto semestre de 2016, a taxa de desemprego entre os pretos era de 14,4% enquanto pardos representavam 14,1% e brancos 9,5%. A média nacional foi de 12%.
Ao mesmo tempo, os dados apontaram que, do total de brasileiros empregados no período, 46,2% se declararam brancos, 43,9% pardos e apenas 8,9% pretos.
Os trabalhadores brasileiros que estão empregados recebem em média R$ 2.043. O rendimento dos brancos é de R$ 2.660, dos pardos R$ 1.480 e dos pretos R$ 1.461. Ou seja, o ganho dos brancos está acima da média nacional enquanto o de negros está abaixo.
A diferença entre os tipos de emprego contribui para essas desigualdades. Segundo levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea), cerca de metade dos brancos estão empregados em vagas com carteira enquanto negros se concentram no mercado informal, o que representa trabalhos mais instáveis e com alta rotatividade.
De acordo com estudo feito pelo IBGE, a taxa de analfabetismo é de 22,3% entre negros e 5% entre brancos.
Até os 14 anos de idade, as taxas de presença na escola não variam muito entre as populações. É a partir dos 15 anos que as diferenças tomam proporções maiores: entre os brancos, 70,7% dos adolescentes entre 15 e 17 anos estão no ensino médio; entre os pretos e pardos, o número cai para 50,5% e 55,3%, respectivamente.
O terceiro ano do ensino médio demonstra ainda mais as diferenças ao analisar aprendizagem de conteúdos. Em Língua Portuguesa, o ensino adequado chega a 38% dos brancos, 21% dos pardos e 20,3% dos pretos. Já em Matemática, esse número é de 15,1% dos brancos, 5,8% dos pardos e 4,3% dos pretos.
Os dados são de um estudo feito pelo IBGE.
A presença de negros nas universidades deu um salto e quase dobrou entre 2005 e 2015. Esse aumento é resultado da implementação de ações afirmativas, como as cotas raciais e sociais. Em 2005, apenas 5,5% dos jovens pretos e pardos frequentavam uma faculdade. Em 2015, 12,8% dos negros entre 18 e 24 anos chegaram ao ensino superior.
Por outro lado, se formos comparar com os brancos, o número de negros no ensino superior equivale a menos da metade dos jovens brancos com a mesma oportunidade, que eram 26,5% em 2015 e 17,8% em 2005. Os dados são do IBGE.
O Ipea divulgou que os negros são os responsáveis por 60% das doações de coração ao SUS (Sistema Único de Saúde). Ao mesmo tempo, 56% dos favorecidos com transplantes de órgãos são brancos e apenas 10% são negros. As condições sociais e culturais influenciam nesses dados. As dificuldades para receber remédios, fazer consultas e exames clínicos estão entre as causas dessa desigualdade.
A bancada dos deputados federais é composta por 71% de homens brancos. Entre os eleitos, 15% se declararam pardos e apenas 3,5%, pretos. Esses dados foram levantados pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Mesmo que a qualidade de vida tenha melhorado para brancos e negros nos últimos anos, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) continua desigual. Foi apenas em 2010 que a população negra alcançou o mesmo patamar que brancos já possuíam em 2000.
No relatório divulgado em 2010 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), pelo Ipea e pela Fundação João Pinheiro (FJP), o IDH de negros era de 0,679 e de brancos, 0,777.
O número de mulheres negras assassinadas no Brasil aumentou 22% e ficou acima da média geral da população feminina. Já o homicídio de mulheres não negras (brancas, indígenas e amarelas) caiu 7,4% no mesmo período analisado (2005 a 2015). Os dados foram levantados pelo Atlas da Violência 2017, promovido pelo Ipea.
Segundo o Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência e Desigualdade Racial, jovens negros são as principais vítimas da violência e têm 2,5 vezes mais chances de serem assassinados no Brasil do que jovens brancos.