O clipe de “This is America” tem muitas mensagens escondidas e as pessoas estão adorando falar disso.
Por Aline Ramos, do BuzzFeed Staff
Caso você não conheça Childish Gambino é o nome artístico de Donald Glover. É importante que saiba que ele é um fenômeno na indústria do entretenimento americana. Além de rapper, ele é ator, diretor e roteirista. Ele já recebeu diversos prêmios por sua série Atlanta, que está disponível na Netflix.
Donald Glover / YouTube / Via youtube.com
É importante lembrar que o blues é um gênero musical que surgiu da união e resistência da comunidade negra dos Estados Unidos no século XIX.
Menestréis eram espetáculos em que um público branco e racista pagava para assistir outros homens brancos fazendo black face e imitando negros de modo cômico e estereotipado.
Segundo a historiadora Suzane Jardim, a origem dos menestréis está no personagem Jim Crow, criado por Thomas D. Rice, um comediante nova-iorquino. Em viagem ao sul dos Estados Unidos, ele descobriu o costume da população branca de comparar seus escravos à corvos (“crow” em inglês). Thomas também notou que, nos momentos de descanso, os negros escravizados cantavam uma canção sobre uma figura lendária chamada Jim Crow.
Com essas informações, Thomas teve a ideia de pintar o seu corpo todo de preto e se apresentar em casas de shows, onde cantava uma adaptação da música dos escravos. Nos espetáculos, ele interpretava o que considerava ser o “típico escravo negro”: um cara burro, vestido de trapos, que faz trapalhadas e anda de maneira boba.
Donald Glover / YouTube / Via youtube.com
1. A primeira interpretação é de que Gambino faz uma crítica à forma como a população negra é vista atualmente: negros ganham aplausos e atenção apenas com o entretenimento, como se estivessem cumprindo um papel na sociedade. Porém, enquanto isso, a violência é uma realidade no cotidiano dessa comunidade nos Estados Unidos.
2. Algumas pessoas viram a mesma cena de outra forma. Para elas, a dança e a música são formas de resistir e sobreviver ao racismo. Essa interpretação vai ao encontro da ideia de que ser feliz num mundo que odeia negros pode ser considerado um ato revolucionário.
3. A terceira linha de interpretação é que mesmo que sejam ferramentas de resistência, a dança e a música podem fechar os olhos da juventude para os problemas atuais.
Em 1976, cerca de 15 mil jovens estudantes sul-africanos saíram às ruas para protestar contra o sistema de educação. Era o período do Apartheid e a maioria negra tinha que estudar em condições muito piores do que as da minoria branca. O principal fator que motivou a revolta dos alunos foi a obrigatoriedade nas escolas do africânder, idioma que tem origem no holandês e era falado pelos brancos, sendo considerado um símbolo da repressão pelos negros. A polícia reprimiu a manifestação com violência e matou mais de 20 estudantes.
Em 2015, um supremacista branco entrou numa igreja de uma comunidade negra dos Estados Unidos e matou nove pessoas.
E ainda notaram um outro detalhe. O pano é vermelho e pode sugerir que quem vende armas protege a política de armamento dos Estados Unidos e tem sangue nas mãos – e esse sangue é de pessoas negras.
Além disso, muitos têm dito que o cavalo branco faz referência à Apocalipse 6:8, que fala da morte montada em um cavalo branco. Porém, em algumas versões em português da Bíblia, a tradução colocou o cavalo como “amarelo”.
No momento em que os garotos encapuzados aparecem, Childish Gambino canta “This a celly. That’s a tool” – que em tradução livre para o português fica “Isso é um celular. É uma ferramenta”. Ou seja, além de fazer referência à morte de Stephon, a cena também lembra como o celular tem sido uma ferramenta importante para registrar a violência policial contra a comunidade negra norte-americana.
Ainda sobre essa cena, há a interpretação de que ela faz referência ao filme “Corra”, do diretor Jordan Peele.