Escadão da rua Cristiano Viana com a rua Cardeal Arcoverde feito por um coletivo de artistas plásticos e grafiteiros - Marlene Bergamo 14 mar.2020/Folhapress
O Brasil enfrenta um aumento alarmante da violência digital direcionada a mulheres negras, cis, trans e travestis, LGBTQIA+, periféricas e defensoras de direitos humanos. É o que revela a pesquisa inédita “Regime de ameaça: a violência política de gênero e raça no âmbito digital (2025)”, apresentada pelo Instituto Marielle Franco (IMF) esta semana, em Brasília.
Os dados são reveladores: 71% das ameaças envolveram morte ou estupro. Entre as ameaças de morte, 63% evocaram o assassinato de Marielle Franco, transformando o feminicídio político da vereadora num símbolo usado para intimidar outras mulheres negras que ousam disputar poder.
A investigação, realizada em parceria com o Instituto Alziras, o portal AzMina, o coletivo Vote LGBT, o Internet LAB, além da Justiça Global e Terra de Direitos, demonstra que estes ataques não são casos isolados: são sistémicos, coordenados e estratégicos, com o objetivo de afastar mulheres negras da vida pública.
“São mulheres que carregam, na vida e na luta, a base que sustenta este país, mas seguem invisibilizadas. A violência que atinge cada uma delas é também uma violência contra a democracia”, afirmou Luyara Franco, diretora executiva do IMF e filha de Marielle.
A pesquisa recomenda a criação de uma Política Nacional de Enfrentamento à Violência Política de Gênero e Raça, articulando Estado, Legislativo, sociedade civil e plataformas digitais para garantir a proteção de mulheres negras na política.
Para Luyara, os dados não deixam dúvidas:
“Queremos que essa publicação sirva de base para ações concretas de proteção e para responsabilizar agressores e plataformas digitais. O nosso compromisso é com a memória, a justiça e a construção de um país em que as mulheres possam existir e disputar espaços políticos sem medo”.
Criado em 2019, o Instituto Marielle Franco nasceu da luta por memória e justiça, mas também de um compromisso com o futuro. Ao sistematizar os ataques e expor o seu caráter político, o IMF mostra que defender as mulheres negras e LGBTI+ é defender a própria democracia.