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Apesar das mulheres negras representarem a maior parcela populacional do país (27%), constituem, ao mesmo tempo, a mão de obra mais desvalorizada e subutilizada do mercado de trabalho. Menos da metade dessas mulheres exercem trabalho remunerado, sendo que as mesmas ganham apenas 44% do salário de um homem branco, limitando-se a ocupar na maioria das vezes posições com menor prestígio social, baixo salário e alto grau de informalidade. Essas mulheres constituem a base da pirâmide social, e devido ao racismo estrutural que iniciou-se no Brasil colônia e se perpetua até os dias atuais, ocupam atualmente os postos de trabalho mais precarizados e os maiores índices de desemprego, segundo pesquisa do IBGE de 2019.
É com o intuito de tentar responder à essas e outras adversidades oriundas de um mal-sucedido processo de abolição, e em meio à pandemia de COVID-19 que gerou uma das maiores crises sanitárias e econômicas dos último 100 anos, que nasce o Fundo Agbara: o 1º Fundo de Mulheres Negras do Brasil, comprometido com a defesa dos direitos humanos, o combate ao racismo estrutural, com a inclusão produtiva, a cultura de doação, com a criação de acessos e a geração de renda para mulheres negras e indígenas microempreendedoras. Práticas solidárias são históricas e recorrentes entre o povo negro, entretanto, o Agbara é a primeira organização que se apresenta a sociedade como um fundo exclusivo de mulheres negras.
O Agbara tem como princípio o resgate à ancestralidade, a emancipação do indivíduo através da ação coletiva e bebe das práticas solidárias comum ao povo negro, tal como inúmeras organizações que só puderam sobreviver ao ostracismo através da ajuda mútua e do aquilombamento, todavia o Fundo Agbara é a primeira organização de mulheres negras do Brasil que se apresenta à sociedade como um fundo solidário para subsidiar outras mulheres negras.
Em 10 meses de existência, o Agbara prestou mais de 300 atendimentos através de suas três frentes de ação, sendo elas:
O Agbara busca, desta maneira, estimular em seu público atingido – composto pelas mulheres empreendedoras e pelos doadores – uma noção de articulação e atuação por meio das redes de solidariedade, elemento ancestral da população negra que, só conseguiu sobreviver a diáspora e a travessia de séculos de violência institucionalizada e total abandono do Estado, devido às suas práticas solidárias cotidianas, perpetuadas através dos tempos até os dias atuais por esse povo guerreiro e resiliente. Revisitando essa ancestralidade solidária e cooperativa, o Agbara busca potencializar o que já vem sendo praticado há anos pelo povo negro através de suas manifestações e lutas diárias, trazendo uma perspectiva atual e inovadora para essas antigas práticas, traduzidas em nosso fundo filantrópico e nas nossas frentes de ação.
Em relação às mulheres contempladas com o aporte financeiro, as mesmas são desafiadas a promoverem um retorno à sua comunidade, ao passo que aos nossos financiadores são convidados a engajar-se na nossa rede através da doação, da oferta de serviços voluntários e das nossas formações mensais.
Nota-se nos últimos anos, um maior reconhecimento e sensibilização por parte da sociedade civil e das empresas em relação à equidade racial e de gênero, no entanto, os investimentos sociais em projetos encabeçados por mulheres negras precisam ser, de fato apoiada, para que as oportunidades, o acesso à vida produtiva e à dignidade sejam democratizadas.
No mundo da capoeira existe uma ideia bastante difundida de que a luta dos povos negros é a luta de quem nada tem contra quem tem tudo, e não diferentemente ocorre com as mulheres negras, que sempre fizeram muito com os pouquíssimos recursos que dispunham. Imagine o que seriam capazes de fazer com condições materiais adequadas? Seja doador do 1º Fundo de Mulheres Negras do Brasil!
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