Aos 80 anos, Carlos Alberto Caetano, o Carlão do Peruche, sente a perda do companheiro de carnaval Seu Nenê e de outros grandes nomes do samba de São Paulo, fundamentais para que as escolas de samba tivessem o destaque e o espaço que têm atualmente. Carlão foi um dos fundadores da Unidos do Peruche, na década de 50, época em que os desfiles de escolas de samba ocorriam pelas ruas do centro de São Paulo.
“Quando tive a oportunidade de conhecer o Nenê, na década de 50, ainda saía na Lavapés. Na ocasião, nós sentíamos que a Nenê [de Vila Matilde] estava crescendo assustadoramente e já começava a dar trabalho. Posteriormente fundei a Unidos do Peruche. Nas décadas de 50, 60 e até 70, quando não dava a Nenê campeã, era a Unidos do Peruche. Eram as escolas da época. Enquanto não passasse a Vila Matilde e a Unidos do Peruche, aquele povão não saía da Avenida São João”.
Assim como outras tradicionais escolas de São Paulo, a Unidos do Peruche foi criada por um grupo de amigos que desfilavam pela escola de samba Lavapés. Escola mais antiga da cidade ainda em atividade, fundada em 1931, a Lavapés foi a grande campeã do início dos carnavais de São Paulo.
“Nós invadíamos as ruas centrais, Avenida São João, Praça da República, a Líbero Badaró, Rua Direita, Praça da Sé, com taças, pedindo dinheiro para fazermos fantasia. Muitas vezes escutei que esse dinheiro era para a ‘negada’ beber cachaça”, conta.
O carnaval de rua, com desfiles pelo centro da cidade, só foi substituído pelo carnaval oficial em 1968. “Nós sofríamos muito preconceito, os prefeitos marcavam com a gente, mas nos davam canseira. Então, com a troca de prefeito, em 1968, resolvemos organizar uma federação e arriscar novamente. A sociedade só veio nos aceitar, como escola de samba, neste ano, na época do saudoso Faria Lima.”
Faziam parte da federação, segundo Carlão, além dele próprio, Seu Nenê, Pé Rachado da Vai-Vai, Mulata do Camisa Verde, Mala da Acadêmicos do Tatuapé, entre outros nomes do samba. Todos já são falecidos, com exceção do Carlão do Peruche.
Morte do companheiro
Apesar de serem de escolas diferentes, Carlão e Nenê nunca foram adversários. “Eu o tinha como concorrente, não como adversário, mesmo porque a gente praticava a mesma cultura, a cultura do samba. O Nenê era uma pessoa aguerrida, com um ideal, de levar nossa cultura, que é o samba, para frente. A sociedade nos discriminava muito”, diz.
Carlão lembra da perda dos companheiros com saudade. “É uma grande perda para o samba, mas eu estaria sendo injusto se não falasse dos demais que já foram. Do Mulata, do Camisa Verde; a Eunice, da Lavapés – uma mulher dirigindo escola de samba, naquela época -; Xangô, da Vila Maria; o Mala, do Acadêmicos do Tatuapé; Macalé, do Coração de Bronze; e tantos outros. Lembrar deles dá saudade”, diz. “Eram pessoas que faziam o carnaval com amor. Agora foi mais um companheiro, o Nenê, amanhã sou eu, e assim vai indo”, lamenta.
Carnaval hoje em dia
Considerado um dos baluartes do carnaval paulistano, Carlão do Peruche ainda desfila pela Unidos do Peruche, e coordena a Velha Guarda da escola. Apesar de ativo, sente falta do carnaval como era feito antigamente.
“Hoje não existe mais carnaval, é uma competição entre nós, escolas de samba. Mesmo porque trabalha-se um ano inteirinho para passar pela Avenida em 65 minutos. E desses 65, uma ala passa em 14, 15 minutos, dependendo do contingente humano. Só espero que essa rapaziada que fique aí, os mais jovens, peguem a bandeira e carreguem.”
Fonte: G1