Ricos momentos de reflexão acerca da pobreza e racismo marcaram o Sarau Poético “Centenário Carolina Maria de Jesus”, na manhã desta última terça-feira (16), no auditório da Casa do Cidadão, em Itararé. Estiveram presentes ao encontro profissionais ligados aos movimentos e políticas de gênero e raça, além, é claro, de apreciadores da literatura e adoradores da força das linhas de Carolina.
No Vitória.es
“Carolina soube expressar em sua obra questões sociais de discriminação no âmbito de raça, gênero e posição social. Infelizmente, assim como a escritora, outros autores negros de literatura não tiveram visibilidade em nosso país. A sua obra fez mais sucesso no exterior do que no próprio país. Quando a escritora teve uma posição financeira melhor, a sua comunidade a rejeitou. Quando não sabemos lidar com aquilo que está em nosso interior, não conseguimos aceitar o sucesso do outro”, disse a subsecretária de Movimentos Sociais do Governo do Estado, Leonor Araújo.
A coordenadora da Gerência de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Secretaria Municipal de Cidadania e Direitos Humanos (Semcid), Valdeni Andrelino, falou da importância do tema do sarau. “Maria Carolina é negra e uma referência brasileira de luta e superação por meio dos livros. Mesmo após décadas, o contexto de suas obras ainda é vivo e forte, pois abordam as sensíveis questões sociais de exclusão, raça, classe e gênero, tão presentes nos dias de hoje”.
A estudante de Ciências Sociais Eduarda dos Santos escolheu as poesias “O quarto do despejo” e “Humanidade”, escritas por Maria Carolina, para ler para o público. “As poesias fazem um apanhado geral da história antes e depois da fama da escritora. Falam das questões antigas e atuais da mulher negra, assunto pertinente e importante ser discutido nos dias de hoje”.
Já a assistente social Tatiana Brandino, para se encontrar na história afro, descobriu a obra de Maria Carolina. Ela também participou da leitura com o poema “Encontrei minhas origens”, do autor Oliveira Silveira.
Moradora da favela do Canindé, zona norte de São Paulo, ela trabalhava como catadora e registrava o cotidiano da comunidade em cadernos que encontrava no lixo.
Nascida em Sacramento (MG), Carolina mudou-se para a capital paulista em 1947, momento em que surgiam as primeiras favelas na cidade. Apesar do pouco estudo, tendo cursado apenas as séries iniciais do primário, ela reunia em casa mais de 20 cadernos com testemunhos sobre o cotidiano da favela, um dos quais deu origem ao livro “Quarto de Despejo: Diário de uma Favelada”, publicado em 1960. Após o lançamento, seguiram-se três edições, com um total de 100 mil exemplares vendidos, tradução para 13 idiomas e vendas em mais de 40 países.
Carmem Tristão
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Com edição de Matheus Thebaldi
Com colaboração de Mayara Rangel