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Livro Pedagogias Hip-Hop e Culturas Juvenis nas Escolas é lançado na USP

No dia 3 de junho, ocorreu o lançamento do livro Pedagogias Hip-Hop e Culturas Juvenis nas Escolas na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP). A obra é uma realização de Geledés – Instituto da Mulher Negra, com apoio do Itaú Educação e Trabalho. 

O livro destrincha uma pesquisa realizada em nove escolas públicas localizadas em áreas de alta vulnerabilidade da cidade de São Paulo (SP), em que foram ouvidos 70 estudantes e 18 profissionais de educação. O objetivo foi entender o papel da juventude e suas expressões culturais no ambiente escolar atualmente, bem como os anseios dos estudantes neste ambiente.

A partir dos relatos dos participantes, a equipe de pesquisadores propõem o uso das culturas juvenis identificadas no estudo como parte da construção do currículo escolar, aliadas às pedagogias Hip-Hop e às competências e habilidades da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Entre as culturas mapeadas estão, por exemplo, o slam, jogos interescolares e o breaking.

Fotos: Isabela Gaidis

O painel de lançamento contou com a presença de Suelaine Carneiro, coordenadora de Educação e Pesquisa de Geledés; Professor Doutor Eduardo Januário e Professor Doutor Rosenilton de Oliveira, ambos da FEUSP. E ainda com membros da equipe técnica de pesquisa da obra: Cristiane Dias, bgirl e pesquisadora; Marcus Vinicius, rapper e orientador socioeducativo; Ingrid Silva, professora e pesquisadora; Clodoaldo Arruda, rapper e filósofo; e Sharylaine, rapper e pesquisadora. 

“Se as culturas juvenis e o hip-hop não estiverem na escola, a gente não consegue atingir meninos e meninas negros que estão na escola querendo se identificar com o rap e com o hip-hop”, afirmou Eduardo Januário para uma plateia repleta de estudantes de Pedagogia.

Nesse sentido, o livro Pedagogias Hip-Hop traz alguns dados que mostram a discrepância entre alunos negros e brancos. Como, por exemplo, o seguinte: em 2022, a taxa de distorção idade-série nos anos finais do Ensino Fundamental foi de 8,6% entre meninas brancas, 12,2% entre meninos brancos, 13,3% entre meninas negras e 20,3% entre meninos negros

Rosenilton de Oliveira ressaltou a importância de pedagogias plurais, como as propostas pelas pedagogias hip-hop. “A educação se torna melhor à medida que ela se abre para acomodar todas as pessoas. Não é possível a constituição de uma educação escolar de qualidade se ela não for diversa”, disse. 

Suelaine Carneiro destacou que o livro é uma ferramenta de luta e mostra um ato de resistência dos territórios que abrigam as escolas que participaram da pesquisa, principalmente dos estudantes que compartilharam seus saberes e suas histórias e pediram reconhecimento disso por parte do ambiente escolar. A coordenadora de Educação e Pesquisa se mostrou feliz em realizar o lançamento da obra em uma universidade pública, para falar “de hip-hop como uma cultura, com ensinamentos e contribuições para essa sociedade”. 

Partindo desse mesmo entendimento, Cristiane Dias contextualizou que “o hip-hop na periferia de São Paulo, chega nas nossas casas, está nas paredes, nos grafites”. E que diante te todas as violências sofridas por jovens negros e negras, o livro é uma forma de “gritar”, de deixar um legado. 

A pesquisa que resultou no livro foi realizada através de entrevistas focais e observação atenta da rotina escolar durante dois meses. Clodoaldo Arruda contou que chamou a sua atenção o fato dos alunos não se delimitarem a determinada tribo, como rockeiros ou funkeiros, mas demonstrarem ter interesses diversos e identidades multifacetadas. 

Sharylaine, por sua vez, relembrou a existência do Projeto Rappers, iniciativa de Geledés que reuniu jovens negros e periféricos durante os anos 90 para receberar formações sobre agendas de raça e gênero. “Nós fomos formados e forjados dentro da instituição”, disse. Tal experiência é o ponto de partida para o Pedagogias Hip-Hop. 

Para Marcus Vinicius, o livro é “um grande colaborador para quem tem a visão de levar o hip-hop como peça fundamental para esse movimento de mudança que estamos vivendo”. Em consonância, Ingrid Silva pontuou que a obra “é uma contribuição gigantesca para essa educação emancipatória e antirracista que a gente quer e acredita”. 

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