Aos 13 anos de idade, a brasiliense Flora Matos foi ao seu primeiro show dos Racionais MC’s. Na ocasião, a adolescente foi convidada por sua melhor amiga para ajudá-la em um trabalho promissor: organizar o camarim do grupo de maior prestígio na história do rap nacional.
Desavisada e acompanhada de seu violão, Flora adentrava o universo que se tornaria o seu rolê constante. Ao ver o instrumento no canto da sala, alguém da banda pediu para que a garota tocasse. Sem pestanejar, ela mostrou tudo o que sabia. A apresentação foi suficiente para convencer e a iniciou no mundo do hip-hop.
Filha do instrumentista baiano Renato Matos, a rapper mudou-se para São Paulo aos 18 anos, quando recebeu um convite irrecusável: colaborar com KL Jay em um remix da faixa Véu da Noite, da cantora Céu. Pouco a pouco as coisas foram acontecendo. Flora gravou uma elogiada mixtape em parceria com a Stereodubs, foi indicada ao VMB (Categoria Aposta MTV), e fez parcerias com nomes como MV Bill, Rael e Don L.
Doze anos depois, a MC Flora Matos é uma realidade dentro de em um universo dominado, quase que exclusivamente, pelos homens. “O meio do rap já foi extremamente machista, mas isso está mudando. As mulheres estão chegando com muita força para ocupar um grande espaço que existe no mercado”, conta a MC em entrevista ao Virgula Música.
Para ela, quebrar as barreiras é questão de jogo de cintura e criatividade: “nós, mulheres no rap, estamos driblando o preconceito com criatividade. Esse desafio é pura inspiração, eu transformo isso em música. Meu público é formado por uma maioria feminina e eu sinto que alguns homens estranham, mas eles estão ali. Estão presentes e estão respeitando. Mais do que isso, estão tentando entender que novidade é essa”.
Leia a entrevista na íntegra:
Virgula Música – Flora, seu pai é músico e a arte está presente em sua vida desde criança. O que você ouvia em casa?
Rolava muita música brasileira: Gilberto Gil, Caetano Veloso, Naná Vasconcelos, Hermeto Pascoal, além de muita música jamaicana. Eu tive um suporte muito grande nesse sentido e isso me traz uma bagagem enorme como artista.
Meu pai conta que quando eu era bem pequena eu chorava e batia na capa do disco que eu queria ouvir. Quando ele botava pra tocar, eu relaxa e parava de chorar. Esse álbum era o Uprising, doBob Marley, que eu sou apaixonada até hoje.
Virgula Música – Além do Bob, o que mais você ouvia de música jamaicana?
Eu ouvia Shabba Ranks. Ele também me aproximou de rap, mesmo antes de eu saber o que era rap. Ele é um cara que faz reggae, mas tem um flow incrível.
Virgula Música – Com todas essas influências, o que te levou para o rap?
O rap é uma junção de todas essas coisas. Quando eu conheci o rap eu percebi que era um universo musical que abraçava tudo de uma maneira genial. Eu posso usar todas essas referências dentro de um único seguimento.
Virgula Música – E seu primeiro show de rap? Você se lembra?
Lembro perfeitamente do meu primeiro show dos Racionais, Brasília tem uma das cenas mais gângsteres do rap nacional.
Virgula Música – Foi assim que você conheceu o KL Jay?
Tinha uma amiga mais velha que trabalhava com organização de eventos. Naquele dia ela estava responsável pelo camarim dos Racionais. Eu fui junto e levei meu violão, meu melhor amigo na época. Em determinado momento alguém perguntou de quem era o instrumento. Eu disse que era meu e me pediram pra tocar. Eles gostaram do meu som. Depois disso, toda vez que eu fui pros shows eles se lembravam de mim.