Getty Images
As mulheres ainda são minoria nos cargos de liderança e ganham menos que os homens ao desempenhar a mesma função, apesar destes indicadores registrarem alguma melhora ao longo dos últimos anos. Elas ocupavam 39,3% dos postos de liderança em 2022 e ganhavam, em média, 78% do salário de um homem que trabalhava no mesmo cargo. Apesar da desigualdade salarial, o percentual é o maior da série desde 2012.
Enquanto os homens ganhavam em média R$ 8.378 em cargos de liderança no país, as mulheres recebiam apenas R$ 6.600 em 2022, segundo dados da terceira edição do estudo Estatísticas de Gênero: Indicadores sociais das mulheres no Brasil, divulgado nesta sexta-feira pelo IBGE.
Na análise por atividade econômica, as mulheres ganhavam menos quando ocupadas em cargos gerenciais no setor de transporte, armazenagem e correio (51,2% do salários dos homens) e saúde humana e serviços sociais (60,9% do salário dos homens).
Os números mostram que essa desigualdade na ocupação de cargos de chefia já foi maior, mas ainda há muito a se conquistar em termos de equidade. Em 2021, as mulheres ocupavam 34,9% dos postos gerenciais e ganhavam em média 57% do salário dos homens nos mesmos cargos.
“Essa assimetria entre os gêneros se acentua ao longo da trajetória de vida da mulher, impactando em sua remuneração e aposentadoria”, alerta o IBGE.
Segundo Leonardo Athias, pesquisador do IBGE, a dinâmica conjuntural e estrutural do mercado de trabalho costuma ditar o nível de emprego e salário das mulheres frente a dos homens.
Ele chama atenção para o fato de que as mulheres atingiram a maior razão de rendimento em 2022 (desde o início da série histórica, em 2012), e avalia que a queda da taxa de desemprego naquele ano, após alcançar dois dígitos em 2021, pode ter influenciado.
Nesse sentido, a melhora do emprego pode ter ajudado na conquista de rendimentos maiores por parte das mulheres, já que o mercado de trabalho aquecido pressiona os salários.
Apesar do avanço no salário em 2022, o pesquisador ressalta que não se pode cravar uma tendência de ganhos na razão de rendimentos nos próximos anos. E ainda há um longo caminho a ser alcançado para reduzir a disparidade entre gêneros, diz:
— O ideal é que as mulheres ocupem pelo menos 50% das vagas dos cargos gerenciais. Mas os números mostram que ainda existem barreiras para elas avançarem durante a carreira.
Estudo do FGV Ibre feito pelos economistas Isabela Duarte, Claudio Considera, Hildete Pereira de Melo e Roberto Olinto, analisou o mercado de trabalho brasileiro a partir da desigualdade de gênero e apontou que o ‘gap’ salarial entre homens e mulheres tem se reduzido a passos lentos no país.
Entre as conclusões, a pesquisa revela que, se a queda da desigualdade salarial continuar no mesmo ritmo dos últimos dez anos, levará mais de 20 anos para que as mulheres consigam atingir paridade no mercado de trabalho.
Ainda segundo o estudo, as mulheres dedicaram 58,8 horas semanais em 2022 para o trabalho total (considerando o remunerado e não remunerado), contra 53,5 horas semanais dos homens.
— As mulheres tem aumentado sua participação e remuneração, mas é difícil falar que a gente tem uma expectativa muito positiva para o futuro. Na minha visão, essa discussão está atrelada à essa divisão desigual dos afazeres domésticos por homens e mulheres — conclui Isabela Duarte, economista e pesquisadora do FGV Ibre.
As mulheres só ganhavam mais do que os homens em empresas do setor da agricultura e pecuária (128,6%) e água e esgoto (109,4%). Nesses casos, o rendimento delas em postos gerenciais é maior, apesar de sua baixa participação.
Segundo o IBGE, isso tende a acontecer porque a entrada de mulheres nesses mercados, quando ocorre, se dá em cargos muito especializados:
— Quando elas se inserem nesse grupamento de atividade, elas já chegam com maior especialização profissional e rendimentos maiores — explica Barbara Boco, coordenadora de População e Indicadores Sociais do IBGE.