Questões de Gênero

Mulheres negras levariam até 184 anos para comprar casa própria, aponta levantamento

Mulheres negras no Brasil poderiam levar até sete gerações, ou seja, 184 anos, para conseguir realizar o sonho de comprar uma casa própria, aponta o levantamento “Sem moradia digna, não há justiça de gênero”, da ONG Habitat para a Humanidade Brasil, o primeiro da organização. 

O estudo reúne dados coletados ao longo de cinco anos e revela como as desigualdades de gênero impactam desproporcionalmente o acesso à moradia adequada, perpetuando ciclos de pobreza e violência.

Em 2024, o déficit habitacional atingiu 6,2 milhões de domicílios, enquanto outros 26,5 milhões enfrentam inadequações habitacionais, como problemas de infraestrutura, condições precárias e insegurança fundiária, segundo a Fundação João Pinheiro. Entre os lares em situação de déficit habitacional, 62,6% são chefiados por mulheres

A partir desse cenário, o levantamento aponta que o agravamento da feminização da pobreza obriga as mulheres a destinar 30% de sua renda ao aluguel, enquanto enfrentam menores salários, longas jornadas em trabalhos mal remunerados e a responsabilidade pelo cuidado não remunerado. Além disso, muitas sofrem violência doméstica e familiar.

Diante dessa realidade, uma mulher negra precisaria de 184 anos para juntar o dinheiro necessário para comprar uma casa própria em uma favela brasileira.

De acordo com o estudo, uma mulher que tem renda estável, apenas se desloque para o trabalho, pague aluguel, se alimente e crie seu filho – ou seja, que não tenha lazer, imprevistos, doenças repentinas, cenários de gastos aumentados, bem como que conte com rede de apoio gratuita e vaga na escola para sua criança – ela teria uma sobra de R$ 31,62 por mês para comprar uma casa em uma favela brasileira, no valor médio de R$ 69.828,57.

O levantamento tomou como base dados de imóveis à venda nas maiores favelas do país, segundo o Censo 2021, e a remuneração média de uma mulher negra no Brasil (Relação Anual de Informações Sociais de 2023). 

A organização destaca que esses dados escancaram a dificuldade de acesso à moradia digna, mesmo em um cenário favorável (estimado apenas para o estudo). Em muitos casos, a alternativa para garantir um teto é morar de favor, em condições precárias ou sacrificando necessidades básicas para pagar o aluguel.

“Sem moradia digna, as mulheres têm pagado um preço alto – que custa seu tempo de vida, sua saúde física e mental, a possibilidade de estudar, trabalhar, descansar e sonhar com um futuro melhor. São essas mesmas mulheres que cuidam de si, dos outros e de suas comunidades, construindo, dia após dia, um país possível. Um futuro melhor, um futuro mulher”, afirma Raquel Ludermir, gerente de Incidência Política da ONG Habitat para a Humanidade Brasil.

Ter o básico

Raquel ainda acrescenta que “ter o básico precisa ser um direito desta geração – e não apenas da oitava geração daquelas que lutam hoje”. “Não há futuro sem dignidade no presente. E essa dignidade começa pela moradia digna”,declara a gerente.

O levantamento também aborda as relações entre falta de uma moradia digna com ciclo de violência doméstica, saúde da família, especialmente das crianças e saúde mental das mães, além da falta de acesso a serviços básicos. 

O estudo completo pode ser acessado através deste link.

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