(Foto: Lisa Terry / Liaison Agency/ Getty Images)
Mumia Abu-Jamal, nascido Wesley Cook, em 24 de abril de 19543, é um americano julgado e condenado à morte pelo assassinato, em 9 de dezembro de 1981, do policial Daniel Faulkner. [1] Vem, sendo descrito como “talvez o mais conhecido prisioneiro no Corredor da Morte, em todo o mundo” e é uma das pessoas que, na atualidade, desperta os mais controvertidos debates. [2]
Antes de ser detido era membro do Partido dos Panteras Negras, ativista, motorista de táxi em turno parcial, jornalista, comentador de noticiário e locutor de rádio.
Desde sua condenação seu caso tem recebido atenção internacional e ele se tornou um ícone cultural controvertido. Apoiadores e adversários discordam quanto à propriedade da pena de morte, se ele é culpado ou se recebeu um julgamento justo. .[3][4][5] Ao longo dos anos escreveu, na prisão, vários livros e comentários, com destaque para o livro Live from Death Row.
No dia 6 de abril de 2009 a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu que a condenação de 28 oito anos atrás deveria ser mantida. [6] Um recurso da Promotoria Pública com o objetivo de reafirmar a pena de morte ainda não foi apreciado. Em 2008 um painel, integrado por três juizes do 3o Círculo da Corte de Apelação manteve a condenação por assassinato, mas ordenou um novo julgamento, já que existe a preocupação de que os membros do júri não foram instruídos apropriadamente. Desde 1995 Abu-Jamal está preso em SCI Greene, [8] perto de Waynesburg, Pennsylvania, onde está encarcerada a maioria dos condenados à pena capital.
JUVENTUDE E ATIVISMO
O pai de Abu-Jamal morreu quando ele tinha nove anos. [9] Ele recebeu o nome de Mumia em 1968 de seu professor do ginásio, um queniano que dava aulas de culturas da África, durante as quais os alunos assumiam nomes africanos. [10] Ele declarou que “Mumia” significa “Príncipe” e que este era o nome de nacionalistas africanos anti-coloniais, que moviam guerra aos britânicos no Quênia, durante o movimento de independência daquele país. [11] Adotou o sobrenome Abu-Jamal (“pai de Jamal”, em árabe), após o nascimento de seu filho Jamal, em 18 de julho de 1971. [10][12] Seu primeiro casamento, aos 19 anos, com a mãe de Jamal, Biba, durou pouco tempo. [13] A filha deles, Lateefa, nasceu pouco após o casamento. [14] Mazi, filho de Abu-Jamal e de sua segunda esposa, Marilyn, conhecida como “Peachie”, [12] nasceu no início de 1978. Abu-Jamal separou-se de Marylin e começou a viver com sua terceira e atual esposa, Wadiya, pouco antes dos acontecimentos que levaram à sua prisão. [16]
ENVOLVIMENTO COM OS PANTERAS NEGRAS
Em seus escritos, Abu-Jamal descreve sua experiência, na adolescência, ao ingressar no Partido dos Panteras Negras,[18] após ter sido espancado por racistas brancos e um policial, quando se esforçava em interferir em um comício em favor de George Wallace para presidente, em 1968. [17] No ano seguinte, aos 15 anos, ajudou a formar o ramo de Philadelphia do Partido dos Panteras Negras. De acordo com suas palavras, assumiu a responsabilidade de ser o “Tenente da Informação”, que implicava em escrever textos de propaganda e também o noticiário. Numa das entrevistas que concedeu naquela época ele citou Mao Tsé-Tung, afirmando que “o poder político cresce a partir do cano de uma arma”. [19] Naquele mesmo ano abandonou a Benjamin Franklin High School e passou a morar na sede local do Partido dos Panteras Negras. [18] Passou o final de 1969 em Nova York e o início de 1970 em Oakland, morando e trabalhando com seus colegas do partido naquelas cidades. [20] Foi membro do partido de maio de 1969 até outubro de 1970, tendo ficado sob a vigilância do Escritório Federal de Investigação (COINTELPRO) a partir daquela data e até cerca de 1974.[21]
ESTUDOS E CARREIRA NO JORNALISMO
Após deixar os Panteras, Abu-Jamal retornou a sua antiga escola, mas foi suspenso por distribuir escritos que apregoavam “o poder estudantil negro revolucionário”. [22] Liderou também protestos mal sucedidos, com o objetivo de mudar o nome da escola para Malcom X High. Após diplomar-se, estudou durante pouco tempo no Goddard College, na zona rural do Estado de Vermont. [23]
Em 1975 dedicou-se à vocação de noticiarista de rádio, inicialmente na rádio WRTI, da Universidade Temple, e em seguida em organizações comerciais. [22] Em 1975 foi empregado na estação de rádio WHAT e tornou-se responsável por uma programa de notícias semanal, na WCAU-FM, em 1978. [24] Durante um breve período trabalhou também na rádio WPEN, e tornou-se membro ativo do ramo local da Associação Americana dos Usuários da Maconha. [24] A partir de 1979 trabalhou na rádio pública WUHY até 1981, quando foi solicitado a pedir demissão, após uma controvérsia sobre exigências de que ele adotasse um enfoque objetivo, ao apresentar as notícias. [24] Como jornalista ganhou o apelido de “a voz dos que não têm voz” e ficou sendo conhecido por identificar-se e divulgar o MOVE, uma comuna anarco-primitivista do bairro de Powelton Village, em Philadelphia, incluindo uma reportagem sobre o julgamento de alguns de seus membros, realizado em 1979-80, acusados do assassinato do policial James Ramp. [24] Durante sua carreira na rádio ele realizou muitas entrevistas com personalidades notórias, incluindo Julius Erving, Bob Marley e Alex Haley. [25] Ao mesmo tempo Abu-Jamal foi eleito presidente da Associação dos Jornalistas Negros de Filadélfia e recebeu vários prêmios da Sociedade de Jornalistas Profissionais. [25]
Na época do assassinato do policial Daniel Faulkner, Abu-Jamal trabalhava duas noites por semana como motorista de táxi em Philadelphia, [26] a fim de complementar o que ganhava. [27] Era também presidente da Associação dos Jornalistas Negros de Filadélfia e trabalhava em turno parcial como repórter de WDAS, [24] então uma pequena estação de rádio de orientação afro-americana.[29]
PRISÃO POR ASSASSINATO E JULGAMENTO
Daniel Faulkner
No dia 9 de dezembro de 1981, em Filadélfia, próximo ao cruzamento das ruas 13 e Locust, Mumia atirou em Daniel Faulkner, do Departamento de Polícia de Filadélfia, matando o policial, após este ordenar que o carro que ele dirigia parasse. O carro pertencia a William Cook, irmão mais moço de Abu-Jamal. Durante o incidente, Abu-Jamal foi ferido por um disparo de Faulker, caído no meio-fio, e a polícia o deteve. Foi levado diretamente da cena do tiroteio para o Hospital da Universidade Thomas Jefferson, onde recebeu tratamento. Mais tarde foi acusado de haver assassinado Daniel Faulkner. [30]
O caso foi a julgamento em junho de 1982 em Filadélfia. O juiz Albert F. Sabo concordou inicialmente com o pedido de Abu-Jamal no sentido de representar a si próprio e o advogado da defesa, Anthony Jackson, atuaria como seu conselheiro legal. Durante o primeiro dia do julgamento a decisão foi revogada e Jackson recebeu a ordem de atuar como o único advogado de Abu-Jamal, pois o juiz opinou que o acusado praticava atos intencionalmente perturbadores. [31]
A acusação e o julgamento
A acusação apresentou quatro testemunhas perante o tribunal. Robert Chobert, motorista de taxi, identificou Abu-Jamal como autor do disparo. [32] Cynthia White, uma prostituta, alegou ter visto um homem surgir de um estacionamento próximo e atirar em Faulkner. [33] Michael Scanlon, um motorista, testemunhou que, a uma distância de dois carros, viu um homem, que combinava com a descrição de Abu-Jamal, sair de um estacionamento e aproximar-se correndo, atirando em Faulkner. [34] Albert Magilton , um pedestre que não presenciou o assassinato, testemunhou ter visto Faulkner mandar o carro de Cook parar. Quando estava a ponto de ver Abu-Jamal atravessar a rua, vindo do estacionamento, Magilton retirou-se e perdeu de vista o que aconteceu em seguida. [35]
A acusação também apresentou duas testemunhas, presentes no hospital após a altercação. Priscila Durham, guarda da segurança do hospital e o policial Garry Bell testemunharam que Abu-Jamal fez uma confissão no hospital, dizendo: “Atirei naquele filho da puta e espero que o filho da puta morra.” [36]
Um revólver marca Charter Arms, calíbre 38, pertencente a Abu-Jamal, com cinco balas deflagradas, foi recolhido no local. As características da arma eram consistentes com os fragmentos de balas retiradas do corpo de Faulkner. [37] Não foram realizados testes confirmando que Abu-Jamal havia sacado a arma e disparado. A luta de Abu-Jamal com a polícia, durante sua detenção, teria feito os resultados potenciais cientificamente pouco confiáveis. [38]
A defesa durante o julgamento
A defesa manteve que Abu-Jamal era inocente das acusações e que o depoimento das testemunhas de acusação não era digno de confiança.
A defesa apresentou nove testemunhas, incluindo a poeta Sonia Sanchez, a qual afirmou que Abu-Jamal “era visto pela comunidade negra como um homem criativo, eloquente, pacífico e afável”. [39] Outra testemunha de defesa, Dessie Hightower, declarou ter visto um homem correndo pela rua logo após o tiroteio, embora não o tenha presenciado. [40] Seu testemunho contribuiu para o desenvolvimento da “teoria do homem que saiu correndo”, baseada na possibilidade de que aquele homem pudesse ter sido quem de fato atirou. Veronica Jones também foi testemunha de defesa, porém não viu ninguém correndo. [41] Outras potenciais testemunhas de defesa se recusaram a comparecer perante o tribunal. [42] Abu-Jamal não testemunhou em sua própria defesa.
Veredicto e sentença
O júri decidiu unanimemente pela condenação, após três horas de deliberação.
Na fase de pronunciamento, durante o julgamento, Abu-Jamal leu para o júri uma declaração por ele mesmo redigida. Foi então interrogado sobre questões relativas à apreciação de seu caráter por Joseph McGill, o advogado de acusação.[43] Em sua declaração, Abu-Jamal criticou seu advogado, afirmando que ele lhe foi imposto contra sua própria vontade, o qual “sabia ser inadequado para a tarefa e escolheu seguir as diretivas daquele conspirador de toga preta, o (juiz) Albert Sabo, mesmo que isso significasse ignorar as diretivas dele, Abu-Jamal.” Alegou que seus direitos haviam sido “fraudulentamente roubados” dele pelo juiz, enfocando particularmente a negativa de sua petição em receber assistência, quanto a sua defesa, de John Africa, que não era promotor, e de ser impedido de agir em seu próprio nome. Citou algumas observações feitas por John Africa e declarou-se “inocente destas acusações”.[44]
Abu-Jamal foi subsequentemente condenado à morte por decisão unânime do júri.[45]
Recursos após o julgamento
A partir do julgamento foram apresentados novos recursos, contradizendo as provas apresentadas.
Decorridos dezoito anos do assassinato, Arnold Beverley declarou que “usando uma jaqueta verde do exército”, ele correu pela rua e atirou em Daniel Faulkner como parte de um contrato de pistolagem, já que o policial estava interferindo no suborno e pagamentos de propina com a finalidade de corromper a polícia. [46] Um detetive particular, George Newman, declarou em 2001 que Chobert havia renegado seu testemunho. [47] Cynthia White ou morreu em 1992 ou desapareceu e, subsequentemente, declarou-se que ela havia falsificado seu testemunho. Kenneth Pate, meio-irmão de Priscilla Durham, que foi preso com Abu-Jamal por outras acusações, declara, desde então, que Durham admitiu não ter ouvido a confissão feita no hospital. [50] Os médicos do hospital declararam que Abu-Jamal não tinha condições de fazer uma confissão tão dramática no momento em que foi hospitalizado. [9]
Em sua versão dos acontecimentos, detalhada em depoimento, debaixo de juramento, vinte anos mais tarde, Abu-Jamal declarou que estava sentado em seu táxi do outro lado da rua quando ouviu gritos, viu em seguida um carro da polícia e ouviu o barulho de tiros. Ao ver seu irmão do outro lado da rua, desorientado, Abu-Jamal saiu do estacionamento e foi correndo até ele, quando então levou um tiro de um policial. Nessa declaração, não houve explicação para o fato de se encontrar um revólver perto de Abu-Jamal, na cena do crime, nem o motivo pelo qual ele usava um coldre, no momento em que foi detido. Ele também não explicou por que havia falta de cinco balas em sua arma. [51] William Cook, irmão de Abu-Jamal, detido pelo policial Faulkner, não testemunhou ou prestou qualquer declaração até 2011, quando disse não ter visto quem atirou em Faulker. [52]
Recursos interpostos e revisão
Recursos do Estado
Um recurso direto contra a condenação de Abu-Jamal foi objeto de apreciação, tendo sido negado pelo Supremo Tribunal da Pennsylvania em 6 de março de 1989, [53] o qual, subsequentemente, recusou nova audiência.[54] O Supremo Tribunal dos Estados Unidos, em 1o de outubro de 1990, [55] negou uma petição apresentada por Abu-Jamal e, por duas vezes negou outra petição, solicitando nova audiência, em 20 de junho de 1991. [56][57]
O governador Ridge, da Pennsylvania, assinou o mandato de morte em 1995.
Em 1o. de junho de 1995 o mandato de morte foi assinado por Tom Ridge, governador da Pennsylvania. [57] A execução foi suspensa enquanto Abu-Jamal pleiteava uma revisão da condenação. Nessa ocasião foram ouvidas novas testemunhas. William “Dales” Singletary testemunhou ter visto o tiroteio e que o atirador era o passageiro que se encontrava no carro de Cook. [58] Seu relato continha discrepâncias que, na opinião do tribunal, o tornaram “indigno de crédito”. [57][59] William Harmon, preso e condenado por fraude, testemunhou que o assassino do policial Faulkner fugiu num carro que brecou na cena do crime e não podia ter sido Abu-Jamal. [60] Robert Harkins, entretanto, testemunhou ter visto um homem debruçado sobre Faulkner, enquanto este estava caído no chão, dando-lhe um tiro à queima-roupa no rosto e, em seguida “caminhou e sentou-se no meio-fio”. [61][62]
Os seis juízes do Supremo Tribunal da Pennsylvania decidiram unanimemente que todas as questões levantadas por Abu-Jamal, incluindo a queixa de uma assistência ineficaz por parte do conselho, eram desprovidas de mérito. [63] O Supremo Tribunal dos Estados Unidos negou uma petição contra tal decisão em 4 de outubro de 1999, capacitando o governador Ridge a assinar um segundo mandato de morte em 13 de outubro de 1999. A execução foi suspensa, pois Abu-Jamal começou a pleitear sua revisão, por meio de um habeas-corpus impetrado a nível federal. [57]
Em 2008 a Suprema Corte da Pennsylvania rejeitou nova petição de Abu-Jamal, no sentido de uma nova audiência, alegando que as testemunhas, durante o julgamento, cometeram perjúrio, pois o condenado havia esperado um tempo demasiado antes de encaminhar a petição. [64][65]
Graffiti: “Libertem Mumia” / “Assassino de policial”
O juiz William H. Yohn Jr., do Tribunal Distrital dos Estados Unidos para o Distrito Leste de Pennsylvania manteve a prisão, porém revogou a sentença de morte em 18 de dezembro de 2001, citando irregularidades cometidas no processo original de condenação, [57] assinalando especificamente que
“…as instruções do júri e o veredicto, neste processo, envolveram bem pouco razoável aplicação da lei federal. A forma da acusação e do veredicto criaram a provável possibilidade de que o júri acreditava estar dispensado de levar em consideração quaisquer circunstâncias atenuantes que, segundo decisão unânime, não existiam.”[57]
Ele ordenou que o Estado de Pennsylvania desse início a procedimentos visando uma nova sentença e no prazo de 180 dias. [66] Determinou a inconstitucionalidade de se exigir unanimidade do júri no que se referia à descoberta de circunstâncias atenuantes e que isso poderia determinar a sentença de morte.[67] Eliot Grossman e Marlene Kamish, advogados de Abu-Jamal, criticaram a resolução, afirmando que ela negava a possibilidade de um novo julgamento, durante o qual poderiam apresentar provas de que seu cliente havia sido falsamente incriminado. [68] Os promotores também criticaram a resolução. Maureen Faulkner, viúva do policial assassinado, descreveu Abu-Jamal como “desprovido de remorsos, assassino repleto de ódio”, a quem “se permitiria gozar dos prazeres de simplesmente estar vivo”, tomando por base o julgamento. [69] Ambas as partes recorreram.
Em 6 de dezembro de 1005, o Terceiro Círculo da Corte de Apelação reconheceu a existência de quatro fatores que permitiriam recurso contra a decisão do Tribunal Distrital:[70] 1) em relação à sentença, se a forma do veredicto do júri havia sido invalidada e se as instruções do juiz para o júri o haviam induzido à confusão; 2) em relação ao pronunciamento e à sentença, se havia existido um viés racial quanto à seleção do júri, a tal ponto que isso tenderia a ocasionar um julgamento injusto; 3) em relação à condenação, se a promotoria tentou inapropriadamente reduzir o senso de responsabilidade dos jurados, dizendo-lhes que um veredicto de culpa seria contestado subsequentemente e se tornaria motivo para um recurso; 4) em relação à revisão e às novas audiências de testemunhas, em 1995-6, se o juiz que presidiu a sessão, o qual também presidiu o julgamento, demonstrou um viés inaceitável em sua conduta.
O Terceiro Círculo ouviu argumentos orais nos recursos, em data de 17 de maio de 2007, no Tribunal Federal em Filadélfia. Presidiu o julgamento do recurso o juiz Anthony Joseph Scirica, coadjuvado pelos juízes Thomas Ambro e Robert Cowen. A Comunidade da Pennsylvania procurou reafirmar a sentença de morte, alegando que a decisão de Yohn não poderia subsistir, já que ele deveria ter se atido à decisão do Tribunal Supremo da Pennsylvania, o qual já se pronunciara sobre a questão do pronunciamento. Alegou também que o recurso era inválido, pois Abu-Jamal não apresentara queixas, por ocasião da seleção do júri. O advogado de Abu-Jamal declarou ao Terceiro Círculo que Abu-Jamal não tivera um julgamento justo, pois o júri tinha um viés racial e era mal informado, além do que o juiz era racista. [71] (Teri Maurer Carter, estenógrafa do tribunal, declarou em uma audiência, em 2001, que o juiz que presidiu o julgamento havia dito: “Pois é, vou ajudá-los a fritar este negro”, durante um diálogo que dizia respeito ao processo contra Abu-Jamal. [72][73] O juiz Sabo negou ter feito semelhante comentário[74])
Em 27 de março de 2008 os três juízes mantiveram, por dois votos a um, a validade dos argumentos de Yohn, em 2001, mas rejeitaram ter havido um viés racista e também as alegações do advogado de defesa, Batson. Se a Comunidade da Pennsylvania decidir não promover uma nova audiência, Abu-Jamal será automaticamente sentenciado à prisão perpétua. [75][76] Em 22 de julho de 2008, uma petição formal de Abu-Jamal requerendo a reconsideração da decisão por um grupo dos 12 juízes do Terceiro Círculo foi negada. [77] Um recurso em separado dos advogados de acusação com a finalidade de reafirmar a pena de morte ainda não foi apreciado. [7]
A vida de prisioneiro
Em maio de 1994 Abu-Jamal foi contratado pelo programa All Things Considered, da National Public Radio, para fazer uma série de comentários mensais, com a duração de três minutos cada, sobre crime e castigo. [78] Os planos e o contrato foram cancelados após protestos e condenações por parte de, entre outros a Ordem Fraternal da Polícia[79] e o senador Bob Dole, republicano do Kansas. [80] Mais tarde seus comentários foram publicados, em maio de 1995, como parte do livro Live from Death Row.
Em 1999 ele foi convidado para fazer um discurso programático para os formandos do The Evergreen State College. O convite foi objeto de veementes protestos. [82] Em 2000 ele fez um discurso inaugural no Antioch College.[83] O New College, da School of Law da Califórnia, concedeu-lhe uma distinção honorífica “por sua luta em resistir à pena de morte“.[84]
Com interrupções ocasionais, devidas a questões disciplinares na prisão, Abu-Jamal é, há muitos anos, comentarista periódico em um programa de rádio, patrocinado por Prison Radio, [85] bem como escreve regularmente colunas para um jornal marxista da Alemanha, Junge Welt. Em 1995 foi punido e confinado numa solitária por participar de um movimento contrário aos regulamentos da prisão. Em 1996, em seguida à transmissão de um documentário da HBO, intitulado Mumia Abu Jamal: A Case For Reasonable Doubt, que incluía filmagens de entrevistas suas com visitas, o Departamento de Correção da Pennsylvania atuou no sentido de proibir que pessoas de fora usassem quaisquer equipamentos de gravação nas prisões do Estado. [23] Em um litígio com o Tribunal de Apelação dos Estados Unidos, em 1998, ele foi muito bem sucedido e firmou seu direito de escrever na prisão, a fim de obter recursos financeiros. O mesmo litígio acusou que o Departamento de Correção da Pennsylvania havia aberto ilegalmente sua correspondência, na tentativa de verificar se ele estava escrevendo com o objetivo de obter proventos financeiros. Quando, durante breve período de agosto de 1999, ele começou a fazer seus comentários ao vivo em um programa de rádio, Democracy Now!, da rede Pacifica Network, os funcionários da prisão cortaram os fios do telefone, no momento em que ele se apresentava. [23]
Suas publicações incluem Death Blossoms: Reflectons from a Prisioner of Conscience, em que ele aborda temas religiosos, All Things Censored, crítica política em que ele examina questões ligadas ao crime e à punição e We Want Freedom: A Life in the Black Panther Party, uma história dos Panteras Negras, em que ele recorre a material autobiográfico.
Apoio popular e oposição
Criou-se um movimento internacional em apoio à causa de Abu-Jamal. A oposição uniu-se em torno da família de Daniel Faulkner, o Commonwealth da Pennsylvania e a Ordem Fraternal da Polícia. [87]
Seus apoiadores protestam diante da flagrante injustiça ou deploram a pena de morte no seu e em outros casos. A lista de pessoas e organizações que apóiam Mumia Abu-Jamal inclui sindicatos, [88][89][90][91] o Partisan Defense Committee,[92] governos municipais dos Estados Unidos e de países estrangeiros, [93] políticos, [5][94] advogados,[95] educadores,[96] o NAACP Legal Defense and Educational Fund,[22] organizações de defesa dos direitos humanos, tais como Human Rights Watch,[97] a Anistia Internacional[3] e celebridades, a exemplo da banda de rock Rage Against the Machine.
Abu-Jamal recebeu o título de cidadão honorário de cerca de 25 cidades no mundo inteiro, incluindo Paris, Montreal, Palermo e Copenhagen.[98][99] Recebeu, em 2001 o Prêmio Erich Mühsam, estabelecido em 1993, que reconhece ações de destacado ativismo em favor de uma visão libertária da sociedade humana.[100] A maioria dos premiados tem sido ativistas da causa da justiça social, em se tratando de minorias perseguidas. [101]
Em outubro de 2002 ele foi feito membro honorário da Associação Dos Perseguidos pelo Regime Nazista – Federação de Grupos Antifascistas (VVN-BdA), sediada em Berlim. [102]
Em 29 de abril de 2006 uma rua recentemente asfaltada, no subúrbio parisiense de St Denis, recebeu o nome de Rue Mumia Abu-Jamal, em sua homagem. [103]
Em agosto de 1999 a Ordem Fraternal da Polícia convocou um boicote econômico a todos os indivíduos e organizações que apóiam Abu-Jamal. [105]
Em protesto ao nome dado à rua, o congressista Michael Fitzpatrick, do Partido Republicano da Pennsylvania, e o senador Rick Santorum, do mesmo partido e região, apresentaram moções nas duas casas do Congresso, condenando a iniciativa. A votação, na Câmara, foi de 368 votos a favor da moção e 31 votos contra.[108]
Em dezembro de 2006, 25o aniversário do assassinato do policial, o comitê executivo do Partido Republicano do 59o Distrito da Cidade de Filadélfia, que abrange aproximadamente Germantown, apresentou duas queixas-crime ao sistema legal francês, contra as prefeituras de Paris e de Saint Denis, citando a defesa equivocada daquelas municipalidades, ao “glorificarem” Abu-Jamal, alegando ter sido cometida uma ofensa, mediante “apologia ou negação do crime”.[98][109]
Mumia Abu-Jamal na cultura popular
De 1995 a 2008 há exemplos de referências feitas a Abu-Jamal, em gravações de música popular e em espetáculos de música. KRS One, Chumbawamba, Rage Against the Machine, Unbound Allstars, Saul Williams, Anti-flag, Immortal Technique nd Snoop Dogg se incluem entre as bandas que participaram dessas referê ncias. Abu-Jamal e sua condenação têm sido objeto de três documentários e um programa televisivo especial (20/20), transmitido logo após o 27o aniversário de sua prisão.
As referências e a abordagem o evocam ou como representante dos prisioneiros no corredor da morte, nos Estados Unidos, como um revolucionário, como um homem sujeito à punição sem a merecer ou como alguém injustamente condenado por assassinato, capaz de recrutar outras pessoas para a causa de mantê-lo vivo e de se opor à imposição da pena capital.
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Grupos de apoio a Mumia Abu-Jamal
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Tradução e pesquisa:
Carlos Eugênio Marcondes de Moura