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Não posso deixar de ser eu para sermos nós

sinto muito, amiga, mas não posso.

Enviado por Lelê Teles para o Portal Geledés

Reprodução/ Twitter

e não é por ser eu quem sou, ou por ser tu quem tu és.

é que… eu não tenho como negar a minha natureza.

explico-me. explico-te.

nós – saiba disso de um vez por todas – não é o plural de eu, nem o plural de tu.

eu não tem plural. eu é conceitualmente singular.

melhorehor, portanto, nos aceitarmos em nossa singularidade.

explico-me ainda melhor.

nós é um eu estendido. é o resultado do encontro de dois eus.

o meu com o teu. e o teu com o meu.

ah, antes que eu me esqueça:

tu e ele ou tu e ela também não são nós.

tu e ela ou tu eles são vocês.

nós somos tu e eu.

porém, eu, tu e ele, ou eu tu e ela, somos nós também.

eu, tu e eles, ou eu tu e elas, também somos nós.

nós pode ser a realização compartilhada de vários eus.

ou não.

e nós só somos nós até então porque cada um é seu, cada eu é um, cada um não é o outro.

e só quando mergulhamos um dentro do outro, argonautas perdidos em universos hídricos, encontramos finalmente o nosso eu plural, a nossa parte que se funde e se confunde, e que nunca se finda.

mais ainda, só nos tornamos verdadeiramente um no dia em que nos fizemos três.

e vês, ela jamais seria um eu se não fôssemos nós.

percebes, sem deixar de ser quem somos foi que nos tornamos outro.

se é verdade que não precisamos deixar de ser um para sermos dois, foi necessário que nós dois fôssemos apenas um para nos convertermos em três.

ei, pois, o nó que nos atou em nós.

palavra da salvação.

 

Lelê Teles

 

** Este artigo é de autoria de colaboradores ou articulistas do PORTAL GELEDÉS e não representa ideias ou opiniões do veículo. Portal Geledés oferece espaço para vozes diversas da esfera pública, garantindo assim a pluralidade do debate na sociedade.
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