Nesses tempos de ostentação comunicacional, as relações de amor e dependência entre pessoas e seus aparelhos de manter contato humano são perturbadoras
O filme tinha sido bonito e doce. Teve certa melancolia, é verdade, mas nada que ofuscasse a complexidade das personagens vivida nas situações cotidianas, a convivência humana e respeitosa entre elas, mesmo marcada pelas idiossincrasias individuais. Tudo isso ajudado pela beleza da fotografia, pela trama bem costurada por diálogos ágeis e boa atuação dos artistas.
por Cidinha da Silva no Revista Fórum
O homem mais novo do casal pergunta ao mais velho se este o culpa por ter perdido o emprego na escola onde lecionava música, depois de explicitar ao mundo escolar o amor de 39 anos por ele, companheiro de vida. Afinal, isso os deixara em situação econômica lastimável e por essa razão tiveram que vender o pequeno imóvel onde moravam e foram forçados a viver como apêndices em casas de parentes até reorganizarem a vida. O mais velho, pintor mediano, pergunta ao mais novo se este ficaria frustrado caso ele não conseguisse, um dia, expor em uma grande galeria. Em cena, tudo o que importa, a opinião de quem a gente ama sobre as coisas da vida.
A esposa de um sobrinho dos protagonistas, aparentemente egocentrada, revela-se mãe atenciosa e responsável, companheira solidária e sensual, além de lutar para escrever o novo livro, enquanto resolve os problemas da vida da pequena família, incluindo as necessidades de atenção do velho tio que fala como maritaca e diz que não volta a pintar porque precisa de silêncio e isolamento.