A ativista e engenheira agrônoma Nilma Bentes - Foto: Grazielle Salgado (@eyes.grazi)
Em 2011, a ativista e engenheira agrônoma Nilma Bentes ousou propor uma marcha que reunisse mulheres negras de todo o país reivindicando, juntas, por bem viver e pelo fim do racismo e da violência. Sua ideia se concretizou em 18 de novembro de 2015: a 1ª Marcha Nacional de Mulheres Negras reuniu 50 mil pessoas em Brasília.
“Passados tantos anos, sinto um misto de incredulidade e satisfação, como se eu tivesse sido ‘escolhida’ por antepassadas escravizadas para propor a Marcha. A surpreendente adesão à Marcha foi absolutamente emocionante e ‘mágica’”, afirma.
Uma década depois desse evento histórico, uma nova manifestação se aproxima: A 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras acontecerá no dia 25 de novembro, novamente na capital federal. Militantes de todo o Brasil se reunirão para marchar por reparação e bem viver.
Para além desses marcos, Nilma Bentes tem marchado ao longo de toda a vida. Nascida em Belém (PA), em uma família de baixa renda, é a sexta filha de um total de oito. Em 1980, foi uma das articuladoras para criação do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa) e, em 2008, participou da idealização da Rede Fulanas – Negras da Amazônia Brasileira.
A ativista também foi propositora da inclusão do termo “Bem Viver” na 1ª Marcha – conceito que se mantém atual e tem pautado o movimento de mulheres negras desde então. Oriunda de culturas indígenas, a ideia vislumbra novas formas de viver em sociedade, centradas na coletividade, harmonia com a natureza e bem estar social, se opondo ao neoliberalismo.
Questionada sobre uma definição, a entrevistada afirmou envolver princípios como: a não mercantilização dos elementos da natureza, o combate ao consumismo, o respeito a valores ancestrais e a economia subordinada aos fatores ecológicos.
Já em relação à “reparação”, proposta pela Marcha de 2025, Nilma enfatiza que os séculos de escravização produziram danos que jamais poderão ser reparados. É necessário, no entanto, reivindicar medidas que amenizem tais sequelas. Para ela, isso se traduz na criação de um fundo financeiro de reparações; redução da contribuição previdenciária das trabalhadoras domésticas e redução da idade para aposentadoria; cotas para mulheres negras no legislativo, executivo e judiciário; plano de habitação para mulheres negras; redução de juros em empréstimos às mulheres negras; e o fim do encarceramento em massa.
Para o ato de 2025, a paraense tem atuado como conselheira e argumenta que “a realização da Marcha bem próxima da COP 30, em Belém, e também o complicado momento político-econômico do Brasil e do mundo, estão trazendo desafios incalculáveis”.
Mas esse cenário não deve impedir a concretização dos planos do movimento de mulheres negras, porque é necessário continuar caminhando. “Em muitas de nós há um certo sentimento de que a Marcha não parou em 2015 e sim que continuamos e continuaremos marchando, até conseguirmos a equidade – mesmo que eu a tenha sinalizado utópica, é de direito e dever continuarmos a luta”, diz.
A conversa com Nilma Bentes integra a série de entrevistas “Mulheres Negras em Marcha”, que dialoga com ativistas do movimento de mulheres negras de diferentes gerações e regiões do país, a fim de pautar a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que acontecerá no dia 25 de novembro, em Brasília. As entrevistadas vão relatar suas trajetórias de luta, seu engajamento nas marchas e os motivos que as fazem marchar cotidianamente.
A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver trata-se de uma continuação do movimento que aconteceu em 2015 e reuniu milhares de militantes em Brasília: a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver. Uma década depois, o movimento de mulheres negras pretende reunir 1 milhão de marchantes na capital do país a fim de reivindicar um novo pacto civilizatório.