Amanda Oliveira - Foto: Camille Cristine
Natural de Boninal (BA), mais especificamente do Quilombo Olhos D´águinha, Amanda Oliveira, 26 anos, tem participado ativamente da construção da 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras. A jovem marcha pela segurança de sua comunidade, pelo reconhecimento dos povos quilombolas e pela liberdade de viver sem medo da violência e do cerceamento de direitos.
A trajetória de Amanda na militância começou há quase uma década, quando tinha 17 anos. Incentivada pelas lideranças de seu quilombo, passou a agir pela defesa dos territórios tradicionais. Ela conta que aprendeu a militar ao observar as mulheres de sua comunidade e os seus trabalhos de cuidado.
Conectou-se com o movimento de mulheres negras ao se mudar para Salvador (BA). Atualmente, é articuladora do Odara – Instituto da Mulher Negra e estudante do bacharelado interdisciplinar em humanidades na área de concentração em estudos jurídicos.
Figura atuante na organização de atividades de formação política para mulheres quilombolas e na mobilização para levá-las ao ato no dia 25 de novembro, em Brasília, acredita que essa participação a mantém firme aos seus propósitos.
“A movimentação de estar na construção da Marcha nos alimenta a seguir na luta. A articulação da Marcha vai para além do 25 de novembro. Estar dentro do movimento e construir a marcha é um processo de formação política que nenhum outro espaço consegue dar”, afirma.
Durante a entrevista, compartilhou que, nas atividades que realiza, escuta diferentes percepções acerca do que significa, na prática, reparação e bem viver – os motes da Marcha de 2025. A partir dessas vivências, reflete que, para ela, bem viver é sinônimo de garantia de direitos e respeito à natureza.
Já reparação, segundo ela, passa por discussões de reforma agrária e titulação de territórios quilombolas. Mas vai além disso: passa pelo reconhecimento de como a cultura, tradição e sabedoria quilombola contribuem para a sociedade brasileira.
Diante dessas reivindicações, a militante afirma que reunir mulheres de todo o Brasil é uma forma de mostrar ao país a força da articulação política do movimento de mulheres negras. “Com toda essa mobilização, a Marcha já é um marco histórico”, diz.
Amanda conta ainda que a mobilização da 1ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, ocorrida em 2015, não chegou até ela. Mas que hoje, como parte da articulação para o ato de 2025, se sente com o compromisso de levar o chamado do movimento de mulheres negras para suas semelhantes: as jovens quilombolas.
A conversa com Amanda Oliveira integra a série de entrevistas “Mulheres Negras em Marcha”, que vai dialogar com ativistas do movimento de mulheres negras de diferentes gerações e regiões do país, a fim de pautar a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que acontecerá no dia 25 de novembro, em Brasília. As entrevistadas vão relatar suas trajetórias de luta, seu engajamento nas marchas e os motivos que as fazem marchar cotidianamente.
A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver trata-se de uma continuação do movimento que aconteceu em 2015 e reuniu milhares de militantes em Brasília: a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver. Uma década depois, o movimento de mulheres negras pretende reunir 1 milhão de marchantes na capital do país a fim de reivindicar um novo pacto civilizatório.