Mulher Negra

Piedade Marques leva esperança e luta para a Marcha Nacional de Mulheres Negras

Para a ativista Piedade Marques, se mobilizar para participar da 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras é mais do que reivindicar Reparação e Bem Viver: significa continuar a sonhar com realidades melhores. A pernambucana participou da construção da 1ª Marcha, que ocorreu em 2015 e agora, uma década depois, apoia a organização do ato que acontecerá em 25 de novembro, em Brasília. 

Moradora do Cabo de Santo Agostinho (PE), região metropolitana de Recife, Piedade é mestra em Estudos Africanos e especialista em Políticas Culturais. Sua trajetória na militância teve início ao participar da pastoral da juventude na igreja católica, guiada pela teologia da libertação. 

Por volta dos 16 anos de idade, conheceu o movimento negro a partir de uma perspectiva cultural com o Afoxé Alafin Oyó, patrimônio vivo do estado de Pernambuco. Aos 20 anos, passou a militar no Movimento Negro Unificado (MNU). Hoje, é integrante da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco e coordenadora da campanha ‘Eu Voto em Negra’. 

Piedade entende a 1ª Marcha Nacional de Mulheres Negras como um grande marco para o feminismo negro, com a demarcação da sua capacidade de organização e mobilização. “Quem foi na Marcha de 2015 carrega em si uma alegria genuína”, resume. Avalia ainda que o evento impulsionou o crescimento do movimento de mulheres negras em todo o país, com a criação e fortalecimento de coletivos e organizações. 

A ativista lembra que o processo de construção para o ato possibilitou a aproximação e ação conjunta de grupos de mulheres negras de Pernambuco. Durante o Julho das Pretas (ação de incidência política e agenda conjunta de movimentos de mulheres negras) de 2014, realizam atividades voltadas à discussão dos temas da Marcha que viria no ano seguinte: racismo, violência e bem viver. 

“Trazíamos o racismo enquanto sistema e a violência enquanto prática para o nosso embate diário. Conseguimos mostrar, de forma prática, para todos o quanto isso mata e é importante ser mudado”, pontua. 

Já o Bem Viver, ela relaciona ao esperançar. “Nós podemos fazer diferente enquanto sociedade. O Bem Viver é essa sinalização que questiona o modelo de desenvolvimento e o sistema de produção”, diz. 

Na Marcha de 2025 o conceito de Bem Viver segue como mote e se une à reparação. Para a ativista, os dois conceitos se complementam, ao passo que um tem a perspectiva de pensar o futuro e questionar o sistema de exploração capitalista. O outro busca o reconhecimento dos erros do passado e a realização de ações concretas para reverter o cenário de desigualdades. 

Na mobilização atual, Piedade participa do Comitê de Pernambuco e afirma que o momento reforça o poder de organização das mulheres. “A Marcha se soma a um grande movimento de mulheres que vem acontecendo, como Marcha das Margaridas e a Marcha das Mulheres Indígenas”. Mesmo antes de sua realização, a ativista já considera o Ato um feito positivo.

“A Marcha já é um sucesso pelo tanto que ela mobiliza, não só no sentido de coisas que se faz, mas de coisas que idealizamos, de sonhos que voltamos a ter. Na nossa realidade é tudo muito nebuloso, a violência obstétrica continua, o genocídio dos jovens negros continua. E, apesar disso, conseguimos sentir a esperança de que, de fato, estamos construindo um marco civilizatório que a sociedade precisa, inclusive, para poder existir”.


A conversa com Piedade Marques integra a série de entrevistas “Mulheres Negras em Marcha”, que dialoga com ativistas do movimento de mulheres negras de diferentes gerações e regiões do país, a fim de pautar a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que acontecerá no dia 25 de novembro, em Brasília. As entrevistadas vão relatar suas trajetórias de luta, seu engajamento nas marchas e os motivos que as fazem marchar cotidianamente. 

A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver trata-se de uma continuação do movimento que aconteceu em 2015 e reuniu milhares de militantes em Brasília: a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver. Uma década depois, o movimento de mulheres negras pretende reunir 1 milhão de marchantes na capital do país a fim de reivindicar um novo pacto civilizatório.

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