Manifestantes fazem ato em resposta ao episódio de racismo no shopping Pátio Higienópolis, em abril de 2025 - Danilo Verpa - 23.abr.25/Folhapress
Responda rápido, sem parar para pensar: qual é a aparência de um bandido?
Não sou adivinha, mas aposto que a imagem que veio à mente da maioria dos leitores destas linhas é a de uma pessoa negra. Afinal, desde os tempos coloniais, a negritude foi vinculada à representação social do criminoso no país.
Representações sociais dizem respeito à maneira como uma sociedade ou grupo se comporta, interage e age diante de determinado assunto. E, em nosso país, formou-se um senso comum que define o perfil do criminoso como homem, negro (preto ou pardo), jovem, com pouca escolaridade, morador das periferias, vestido de maneira casual e sem emprego formal. Atualmente 75% dos presos em regime de prisão provisória no país são negros.
Ou seja: 3 em cada 4 pessoas cumprindo pena antes do julgamento são pretas ou pardas. Negros são mais abordados, mais revistados e corresponderam à maioria das vítimas fatais em abordagens policiais: 82% dos mortos pela polícia em 2024 eram negros (Fórum Brasileiro de Segurança Pública).
Como observei na coluna “Negritude é motivo de suspeição” (agosto/2021), é difícil (talvez seja impossível) encontrar uma pessoa negra que não tenha sido vigiada ou seguida dentro de uma loja, de um shopping ou de um supermercado no país.
O “estereótipo padrão de bandido” associado a pretos e pardos permite que um jovem branco transite em condomínios de luxo furtando bens de alto valor sem levantar suspeitas ou ser importunado. “Boa aparência, bem desinibido, com fones de ouvido, aparentemente inofensivo. (…) Agia como se fosse um garoto rico. Ele não tem ‘cara de bandido’”, resumiu o delegado responsável pelo caso do criminoso de 17 anos apreendido em junho.
Ou seja: a branquitude serviu de salvo-conduto para que o “jovem de boa aparência” amealhasse cerca de R$ 30 milhões em bens de alto valor (joias, relógios, dinheiro vivo…) furtados nos estados de SP, RJ, PR, RS, GO e MT em quatro anos. Conclusão: quem vê cara não vê coração.
Ana Cristina Rosa – Jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública)