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Rapper Panikinho assume a gestão da Casa de Cultura Municipal de Hip-Hop Leste

Na última sexta-feira, 13 de junho de 2025 — data simbólica dedicada a Exu, o mensageiro das encruzilhadas —, o rapper, produtor e arte-educador Gildean Silva, conhecido como Panikinho, foi oficialmente nomeado gestor da Casa de Cultura Municipal Hip-Hop Leste, localizada no bairro de Cidade Tiradentes, extremo leste da cidade de São Paulo. A nomeação foi publicada no Diário Oficial do Município, marcando o retorno do multiartista ao equipamento cultural que ajudou a consolidar como espaço de resistência e formação cultural da juventude periférica.

A programação pensada pelo novo gestor terá início no próximo mês de agosto, com atividades que visam fortalecer os artistas independentes e promover o diálogo intergeracional entre os diversos segmentos da cultura hip-hop. Além disso, busca-se dar visibilidade e fortalecer vozes que historicamente foram pouco reconhecidas, mas que têm causado um impacto significativo na cena, como a crescente participação de artistas indígenas, mulheres, pessoas LGBTQIAPN+, entre outras expressões periféricas que trazem narrativas potentes e ressignificam, cada vez mais, a cultura.  

Com mais de três décadas de trajetória no movimento hip-hop, Panikinho é um dos nomes históricos da cultura periférica paulistana. Multiartista, arte-educador, produtor e articulador cultural, o rapper também atua como gestor, coordenador e supervisor artístico-pedagógico. É graduado em Pedagogia pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e especialista em Organização de Eventos pelo SENAC-SP. Ao longo dos anos, acumulou experiências relevantes como gestor cultural na UNIFESP, supervisor na Fábrica de Cultura do Jaçanã e coordenador de cultura na gestão municipal de Fernando Haddad.

O rapper, produtor e arte-educador Panikinho – Foto: Wallace Robert

A história de Panikinho

Panikinho iniciou sua jornada artística como b-boy nos anos 1980, motivado pela presença do breakdance em novelas como “Partido Alto”. Aos 14 anos, já escrevia suas primeiras rimas, que evoluíram para composições conscientes e combativas no rap. Em 1994, passou a integrar o grupo Fator Ético, um dos fundadores da Aliança Negra Posse, e desde então, vem acumulando colaborações com projetos de impacto social e político, como o Projeto Rappers do Geledés e a Soweto Organização Negra, ligada à CONEN (Coordenação Nacional de Entidades Negras).

Entre 2007 e 2008, representou o Brasil em intercâmbios culturais como o Fórum Social Mundial no Quênia e o festival Noir Come Toi em Montreal, Canadá. Em 2011, liderou a campanha “Eu Africanizo São Paulo”, organizando o 1º Festival WAPI Brasil. Panikinho também é criador dos projetos musicais Xirê Rap e Rimas & Nostalgia, que combinam rap, religiosidade afro-brasileira e estética vintage em shows e vivências.

Essa nomeação tem sabor de retorno e reafirmação: em 2015, ele já havia sido o primeiro gestor da então Casa de Cultura Cidade Tiradentes. Dois anos depois, deixou o cargo quando o espaço passou por transformações e foi renomeado como Casa de Cultura Hip-Hop, resultado das demandas do movimento local. Agora, dez anos depois, o “filho à casa torna” para liderar novamente a Casa — agora batizada de Casa de Cultura Municipal Hip-Hop Leste.

Sua volta ao espaço marca não apenas a continuidade de um trabalho coletivo de resistência e arte, mas também a valorização da memória viva do hip-hop periférico como política pública. A nomeação de Panikinho representa a reocupação de um lugar histórico por quem, de fato, constrói e transforma a cultura nas bordas da cidade.

Mais informações:

📱 Instagram: @panikinhoficial
🔗 Linktree: linktr.ee/panikinhoficial
📧 E-mail: panikinho@gmail.com


Jéssica Balbino é jornalista e escritora, psicanalista em formação, mestre em comunicação pela Unicamp. Publicou os livros “Gasolina & fósforo: meu corpo em chamas”, “Hip-Hop – A Cultura Marginal” e “Traficando Conhecimento”.

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