Mulher Negra

Rebeca Andrade anuncia que não disputará mais provas de solo

Dona de seis medalhas olímpicas, a ginasta Rebeca Andrade, 26, anunciou nesta terça-feira (12) que não competirá mais em provas de solo. Durante participação na Rio Innovation Week, no Píer Mauá, no Rio de Janeiro, a atleta disse que a decisão foi motivada por dores e pela necessidade de preservar a saúde após cinco cirurgias no joelho.

“O solo é o aparelho que mais causa impacto. Sou uma atleta de 26 anos, com histórico de cinco cirurgias no joelho. Quando a gente entende nossos limites, é muito importante respeitá-los”, afirmou. “Sei que vocês amam quando faço solo, mas ainda posso mostrar muito nos outros aparelhos.”

Embora planeje disputar o Mundial de Ginástica Artística deste ano, em outubro, na Indonésia, Rebeca destacou que o foco de sua preparação será para os Mundiais de 2026 e 2027 —sobretudo o segundo, que vale vaga para os Jogos Olímpicos de 2028, em Los Angeles.

“Este ano, estou cuidando mais da minha saúde física e mental, não estou treinando tão forte”, explicou. “Isso é crucial para os próximos anos, temos pelo menos mais uma Olimpíada pela frente.”

Nos Jogos Olímpicos de Paris-2024, Rebeca conquistou quatro medalhas, incluindo o ouro na final do solo. Com o desempenho na capital francesa, tornou-se a maior medalhista olímpica da história do Brasil, superando Robert Scheidt e Torben Grael, ambos da vela, e chegando a seis pódios no total.

Ao relembrar Paris, destacou o pódio histórico do solo, formado por três atletas negras: ela no lugar mais alto, ao lado das americanas Simone Biles (prata) e Jordan Chiles (bronze). As duas fizeram uma reverência à brasileira na cerimônia de premiação —em agosto daquele ano, no entanto, Chiles perdeu sua medalha por decisão do Tribunal Arbitral do Esporte (CAS, na sigla em inglês) após recursos apresentados pelo Comitê Olímpico da Romênia em favor de Ana Barbosu, que herdou o bronze.

“A representatividade e a grandiosidade daquele momento foram enormes, não só para mim, mas também para elas. Não estava esperando o que aconteceu no pódio, elas combinaram na hora [a reverência], e fiquei muito feliz com o carinho gigantesco”, disse.

O gesto, segundo Rebeca, fortaleceu a amizade entre as três, sobretudo com Biles. “A gente se respeita muito. Claro que queremos ganhar, mas o clima não é hostil. Quando a outra vence, é como se eu tivesse vencido também, me sinto representada. Estamos lá competindo, mas também brincando, zoando.”

Além do clima de celebração, já havia em Paris uma indicação de Rebeca de que sua premiada apresentação no solo, embalada por Beyoncé e Anitta, poderia ser sua última no maior palco do esporte olímpico. Na ocasião, ela citava as dores que o exercício lhe causava.

“Eu não preciso mais provar nada para ninguém, sabe? Eu já fiz tudo que eu podia fazer dentro do meu esporte, eu sou muito orgulhosa de tudo que eu conquistei”, disse ela pouco depois de levar o ouro.

Além dos pódios em Paris, a ginasta ganhou prata no individual geral e ouro no salto nos Jogos de Tóquio-2020, disputados em 2021 por causa da pandemia de Covid-19.

Em Mundiais, soma nove medalhas, incluindo duas no solo: prata em Antuérpia (2023) e bronze em Liverpool (2022).

Já seu histórico médico inclui três cirurgias no joelho direito após romper o ligamento cruzado anterior em 2015, quando ainda era adolescente. Em 2017, passou por nova operação decorrente da mesma lesão. Em 2019, às vésperas do Pan de Lima, no Peru, voltou a ter problemas no local e precisou de mais uma cirurgia.

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