Geledés no Debate

Repensar o gênero a partir da África: uma conversa com Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí

Autora de obras fundamentais como A Invenção das Mulheres e Qual Gênero é Maternidade?, a socióloga nigeriana Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí é uma das mais influentes pensadoras contemporâneas dos Estudos Africanos de Gênero. Professora emérita da Stony Brook University (EUA), Oyěwùmí desafia os pilares epistemológicos do feminismo ocidental ao propor que o gênero, como construído no Ocidente, não é uma categoria universal. Suas análises partem da cosmologia iorubá para argumentar que, em muitas sociedades africanas pré-coloniais, as hierarquias sociais não se organizavam a partir do corpo — especialmente não por sexo ou cor —, mas por critérios como a senioridade. Seu pensamento convida à reconstrução de epistemologias que valorizem as formas africanas de conhecimento e as experiências diaspóricas.

No dia 22 de julho, Oyèrónkẹ́ participou do lançamento no Brasil de seu livro Estudos Africanos de Gênero, obra por ela organizada, no Itaú Cultural, em São Paulo. O encontro — que integra a plataforma Ancestralidades, realizada em parceria com a Fundação Tide Setubal — teve como objetivo ampliar o acesso ao pensamento de autoras e autores africanos, oferecendo alternativas às referências eurocentradas que ainda predominam nas bibliografias acadêmicas. Além da própria Oyěwùmí, participaram do debate a filósofa Sueli Carneiro, coordenadora e fundadora de Geledés, a escritora Ana Maria Gonçalves e o músico Tiganá Santana, todos integrantes do conselho do Ancestralidades, com mediação da jornalista e escritora Bianca Santana.

Em entrevista exclusiva à Geledés – Instituto da Mulher Negra, um dia após o evento, Oyěwùmí relembrou os desafios enfrentados ao introduzir seus conceitos no meio acadêmico feminista dos Estados Unidos. “Quando comecei a dizer que o gênero não era uma categoria presente em algumas sociedades africanas, uma socióloga me pediu para sair da sala. Disse que estavam há décadas tentando provar que o gênero importava — e eu vinha dizer que ele não existia!”

Sueli Carneiro durante o evento de lançamento do livro “Estudos Africanos de Gênero

Indagada sobre as possíveis aproximações com o pensamento de feministas negras brasileiras como Sueli Carneiro, Oyěwùmí reconhece as conexões, embora ressalte que ainda precisa se aprofundar nas produções locais. “Não li o suficiente das feministas afro-brasileiras. No entanto, conheço bastante sobre as afro-americanas, sobre o feminismo negro nos EUA. Suponho que estejam alinhadas até um certo ponto em razão da centralidade do raciocínio. Mas em termos epistemológicos, é importante compreender que o gênero por si só não existe. Ele sempre intersecciona com outras formas de hierarquia.”

Sobre o impacto de seu trabalho na Nigéria, ela coloca os impedimentos: “os cristãos nigerianos não estão dispostos a lerem meu trabalho e, nesse sentido, o Cristianismo se tornou uma barreira. Não consigo entender o porquê de africanos, porque eu também sou africana, não conseguirem enxergar a cultura iorubá”.

A linguagem ocupa papel central em sua crítica. Ela reflete sobre os riscos de traduzir conceitos africanos para línguas coloniais como o inglês e o português, mas reconhece que “a tradução é a língua das línguas”, citando o escritor queniano Ngũgĩ wa Thiong’o. Foi nesse espírito que a pensadora cunhou termos como “anafeminino” e “anamasculino” para expressar categorias que escapam à lógica binária ocidental.

No país, Oyěwùmí afirma admiração pelos movimentos de mulheres negras.  “Estive no Brasil várias vezes, e estou apenas ouvindo essas mulheres negras, e suas várias organizações. Ouço como falam sobre a Marcha das Mulheres e como se deram os eventos no mês novembro e seus impactos. Estou muito impressionada. Não vi em nenhum lugar do mundo pessoas não binárias, LGBTQI+, tão visíveis como no Brasil. E não acredito que o Brasil seja um país de esquerda. Mas por que, então, as pessoas estão dispostas a se expor dessa forma? Porque elas estão lutando, estão tentando ter seus direitos assegurados. E isso é uma coisa muito boa.”.

Por fim, lembra que o pan-africanismo precisa ser retomado com vigor: “Desde 1962 há esforços para conectar mulheres africanas às da diáspora. Se quisermos reinventar o mundo, precisamos nos lembrar de onde viemos — e fazer das nossas culturas uma fonte legítima de conhecimento.”

Geledés – Sua escrita argumenta que gênero, como é constituído no Ocidente, não é um conceito universal. Quais foram os maiores desafios que enfrentou ao introduzir essa crítica no meio acadêmico feminista?

O maior desafio que enfrentei foi o fato de que isso veio de uma africana. Não acredito que as pessoas levem a África muito a sério. Ilustro isso com uma ocasião em que estava terminando de escrever a minha tese, porque o livro Invenção das Mulheres foi originado de uma dissertação. Me lembro de ter sido convidada por um grupo de feministas de um departamento de uma certa universidade nos Estados Unidos para falar sobre a minha pesquisa, o meu trabalho. Quando comecei a falar sobre uma sociedade universal e que as categorias de gênero não existiam, uma socióloga feminista bem conhecida me parou e pediu que eu me retirasse da sala. E por quê? Isso ocorreu nos anos 80. Ela me disse que passaram muito tempo tentando convencer as pessoas sobre a importância do gênero. E que agora eu estava dizendo que o gênero não existe!!!  Argumentei que ela precisava me ouvir antes de fazer aquele tipo de declaração. Eu disse, você sabe, eu realmente acho que estamos do mesmo lado. E por que eu disse isso? Porque feministas ocidentais teorizam o gênero e eu demonstro como ele foi socialmente construído. Meu trabalho é documentar o processo de construção do gênero em uma sociedade que não parece ter começado com uma ideia assim. Hoje meu trabalho é muito lido e meus livros são ensinados em todos os tipos de disciplinas, em diferentes cursos. Recebo todo tipo de convite para ministrar aulas, especialmente após o advento do Zoom.

Geledés – Que tipo de dificuldades enfrentou ao formular esse conceito dentro da África, considerando a imensa diversidade cultural existente nos 54 países do continente?

Não me vi com qualquer dificuldade em formular teorias e categorias baseadas na cultura iorubá, porque, se prestar atenção em meu livro, não estava criando algo africano, mas sim iorubá. Uma das maiores críticas que temos sobre os discursos ocidentais da África é essa homogeneização e redução da África de um continente para uma vila. Na verdade, em um dos meus capítulos, eu falei sobre transformar a África em vila. Portanto, sempre foi importante que eu falasse sobre essa cultura em particular. E há outras. Mas antes, podemos falar sobre as similaridades das culturas africanas. E precisamos estudá-las e fazer com que elas façam sentido. Eu costumo escutar; ‘ah…você apenas escreveu sobre a sociedade iorubá’, como apenas um grupo, como se os iorubás fossem uma pequena tribo. Uma pequena tribo de 53 milhões? E os noruegueses com seus cinco cinco milhões? Não quero que as pessoas percam de vista o que meu livro, A Invenção das Mulheres, trouxe para o debate, ou seja, que há outras formas de se pensar, outras imaginações, outras cosmologias. Na verdade, o livro, para mim, na primeira instância, não era sobre mulheres. É sobre uma sociedade que pensa diferente e por isso digo que é sobre gênero africano.

Geledés – No Brasil, feministas negras foram pioneiras ao destacarem como as desigualdades raciais moldam as experiências de gênero entre as mulheres. Como você vê as contribuições das intelectuais feministas afro-brasileiras se alinhando ou divergindo do projeto epistemológico que você propõe nos Estudos Africanos de Gênero?

Não li o suficiente das feministas afro-brasileiras. No entanto, conheço bastante sobre as afro-americanas, sobre o feminismo negro nos EUA. Suponho que estejam alinhadas até um certo ponto, em razão da centralidade de raciocínio. Claro que o assunto do raciocínio e da igualdade racial e da forma como formam as experiências de mulheres negras e brasileiras é um assunto muito válido. Do mesmo jeito que o raciocínio é muito central. Mas em termos de epistemologia, em termos de compreensão, em qualquer contexto que nos encontramos, devemos saber que o gênero por si só não existe. Ele intersecciona, e o faz com todos os tipos de categorias, em todas as formas de hierarquia, particularmente. E é isso que precisamos entender.

Geledés – Como transformar o conhecimento acadêmico em prática? E qual tem sido o impacto do seu trabalho na Nigéria e em países da diáspora, como o Brasil?

É uma grande pergunta e adoraria poder fazer isso. Aliás, todos deveríamos poder fazer isso. Mas não tem sido fácil.  É um prazer vir ao Brasil e poder interagir com brasileiros e ver como muitos apreciam o meu trabalho. Conheci inúmeras jovens, especialmente nas universidades, que me disseram como o meu trabalho as inspirou em suas próprias pesquisas e, na verdade, eu tenho uma biblioteca inteira de livros em português agora que recebi das pessoas que encontrei aqui!!

Em termos de impacto do meu trabalho, sinto que não teve nenhum grande impacto na sociedade iorubá. O que as pessoas comuns sabem sobre o trabalho? Não muito. Isso se dá pelo fato de que elas não estão me lendo. Tem uma questão importante que é o impacto do Cristianismo em meu trabalho, especialmente, quando eu falo sobre a cultura iorubá, sobre os orixás que entram nessa concepção, porque eles são bastante centrais na forma como os iorubás foram organizados. Então os cristãos nigerianos não estão dispostos a lerem esse tipo de coisa e, nesse sentido, o Cristianismo se tornou uma barreira. Não consigo entender o porquê de africanos, porque eu também sou africana, não conseguem enxergar a cultura iorubá, as formas de sermos como compatíveis a um Deus cristão. Isso é um grande desafio. Em todo caso, conheci algumas jovens que estão fazendo suas dissertações com leituras de meu livro na Nigéria. Mas até hoje nunca li nenhuma crítica verdadeira sobre o meu trabalho dentro dessa perspectiva iorubá. Se me aceitam ou rejeitam, isso eu não sei. E esse é o meu problema.

Geledés – Seu trabalho enfatiza a centralidade da linguagem na formação do conhecimento. Quais são os riscos epistemológicos de traduzir conceitos africanos para línguas coloniais como o português e o inglês?

A tradução sempre é um problema porque algumas coisas não são traduzíveis. Mas, por outro lado, precisamos nos comunicar com o outro. Acredito que tenha sido Ngugi wa Thiong’o (escritor queniano) que disse que a tradução é a língua das línguas. E se vamos nos comunicar, temos que sofrer esse risco. E alguém como eu, e muitos de nós que somos colonizados, falamos inglês desde sempre. Fiz toda a minha escolaridade em inglês. E raramente estudei em iorubá. E o que fazemos com isso? É a realidade da vida. Em todos os lugares. No século 21, há tantas línguas.

Geledés- Ainda sobre linguagens, você criou termos conceituais como “anafeminino” e “anamasculino” para refletir categorias não ocidentais. Qual é a importância de inventar novos termos em vez de adaptar os já existentes?

Fiz isso para ampliar, para explodir a imaginação, principalmente a ocidental, porque a maneira que os ocidentais veem as coisas não é única. E é importante para mim dizer isso. Sempre que escrevo um livro, quero ter certeza de que o leitor aprenderá um ou dois conceitos de iorubá. Não passamos a vida aprendendo? Então, anafemale e anamale são termos assim. E ainda há muito o que fazer com a linguagem, especialmente agora, com o advento do transgênero, do não binário. Há muito espaço para se teorizar. E se precisamos explicar as coisas, precisamos fazê-lo com palavras. Eu amo a linguagem.

Geledés – Em sua pesquisa, argumenta que os corpos não eram utilizados como ferramentas de organização do status social na sociedade iorubá pré-colonial. Como isso muda nossa compreensão sobre poder e hierarquia no continente?

Estava documentando certas categorias das cosmologias iorubás e argumentando e mostrando como elas foram transformadas até o ponto em que nos encontramos, com o sexismo e o racismo. As pessoas olham para alguém e dizem, isso é porque você é preta, seja na Nigéria ou no Reino Unido. Isso faz parte de um legado colonial. E o que eu tento demonstrar é como chegamos a esse ponto. Especialmente em relação à uma sociedade, em termos da minha própria hierarquia familiar, que não era baseada no corpo. E o que pretendo dizer com isso? Que essa sociedade não dizia que pelo fato de você ser uma garota é menos importante que um garoto. A hierarquia era baseada na idade, na senioridade. Até hoje, na minha família, a hierarquia é configurada pela senioridade. Ou seja, se você é mais velho, tem certos privilégios, certas responsabilidades, e assim por diante. Portanto, quando se olha para essa questão do poder dentro da família, ele foi descentralizado em diferentes espaços.

Com o gênero e a raça, a hierarquia racial é rígida. Rígida no sentido de que quando se trata de gênero, os homens estão sempre acima, são sempre superiores. E isso não muda. Porém, já com a senioridade é diferente, está em constante mudança, é fluida, porque em um momento você é o jovem e no próximo pode ser o idoso. Algumas pessoas chamam isso de heterarquia (sistema de organização onde não existe uma estrutura hierárquica centralizada). E esse é um jeito diferente de se pensar o poder.

Geledés – O conceito de maternidade aparece em seu trabalho sob uma perspectiva muito diferente do discurso feminista ocidental. Como o entendimento iorubá de maternidade reformula suposições sobre gênero e papéis sociais?

Outra boa pergunta! (risos). A razão pela qual dei a meu outro livro o título de Qual Gênero é Maternidade? foi para dizer que, dentro da concepção iorubá, a mãe, a maternidade não é uma categoria feminina, porque não há gênero. O título é a minha discussão. E como cheguei a isso? A ideia de que a maternidade não tem gênero na sociedade iorubá não significa que os iorubás pensaram que os homens poderiam ter filhos. Não! Ela veio dessa ideia da cosmologia iorubá de que antes de cada um de nós chegarmos a esse espaço chamado Terra, já existíamos em outro reino. Ou seja, os iorubás desceram à Terra antes do Criador, e como o Criador não tem gênero, cabe a cada um escolher o seu destino na Terra. Parte do que eu trouxe para essa discussão da cosmologia iorubá é que muitos de nós, iorubás, somos conscientes sobre o momento de escolher nosso destino e justamente uma dessas coisas é escolher uma mãe na Terra. Portanto, não há como dizer que gênero é binário, porque a mãe iorubá é singular e não há contraparte para essa mãe. Podemos notar que no momento em que esses seres chegam à Terra, eles escolhem uma mãe e não há pai. Isso significa que quando você olha para a construção da mãe na cultura iorubá, ela existe para cada ser “pré-terrestre”, durante a gestação e depois que o bebê nasce. Os pais só chegam à Terra depois de o bebê ter nascido. Portanto essa relação entre as mães e os filhos é mais longa e tem uma qualidade diferente. Não há como comparar uma mãe e um pai e não há nada de errado com os pais. Apenas estou dizendo sobre como essa forma é construída e que as pessoas no Ocidente precisam compreendê-la. Escrevi alguns livros sobre isso e também como, no sistema ocidental, o que dá gênero à classe binária é a família nuclear. As famílias africanas são diferentes.

Geledés- Como analisa a cultura iorubá no Brasil em relação à herança africana?

Quando estive nos terreiros de candomblé em Salvador, vi que aprenderam sobre a hierarquia. A senioridade ali também é muito forte, e notei muitos aspectos da cultura iorubá incorporados nas formas como as pessoas fazem as coisas. Mas também sou consciente de que qualquer cultura iorubá no Brasil não pode ser idêntica às culturas africanas porque elas são dinâmicas e respondem a estímulos da atualidade. Quero acreditar, por exemplo, que a orixá Yemójá, em português Iemanjá, é bastante proeminente aqui e em outras diásporas, porque entendo que a travessia transatlântica teve impacto nessas construções. Em especial, a construção de Yemójá, que tem a ver com a água, me deu essa experiência transatlântica.

Geledés – Ifá desempenha um papel importante em sua escrita como fonte de conhecimento iorubá. Que potencial Ifá possui para repensar epistemologias africanas e resistir à dominação acadêmica ocidental?

Meu trabalho incita os africanos a refletirem sobre onde estão e de onde vieram. Ainda não fizemos o suficiente nessa direção. Na Nigéria, a referência é Londres. Precisamos ter um entendimento sobre quem somos, sobre nossa sociedade iorubá, nossa história e, de certa forma, é isso o que Ifá representa, pois é um sistema de conhecimento bastante compreensível. Esse é o fator mais importante. Porque a sociedade africana ainda não acredita que somos fonte de conhecimento. Você pode até rejeitar o conhecimento iorubá, mas é inegável que seja uma fonte de conhecimento, em nossas vidas diárias, em nossas conversas, até mesmo quando as pessoas se inclinam em direção ao Cristianismo. Portanto, de muitas formas, Ifá subsidiou nosso discurso diário, mesmo que não haja consciência sobre isso. Quando comecei a ler sobre as infâncias, entendi que elas vinham diretamente de Ifá e isso é facilmente identificável. Isso é muito importante para um continente que foi colonizado com a primícia de que os africanos não pensavam e não tinham suas próprias fontes de conhecimento. Portanto, parte do que faço no livro Qual Gênero é Maternidade é justamente documentar as ideias contemporâneas do Ocidente que nos foram impostas.

Geledés – Olhando para o futuro, quais caminhos vislumbra para os estudos africanos de gênero que centralizam epistemologias sem subordiná-las aos padrões acadêmicos ocidentais? E como esses caminhos poderiam se conectar com as diásporas ao redor do mundo?

Não há como pensar em estudos de gênero africano por si só, porque há grandes desafios que estão sendo enfrentados na África neste momento relacionados à governança, corrupção, pobreza e desigualdades. Estava justamente lamentando ontem sobre o fato de que na Nigéria parece haver uma real regressão em relação à participação das mulheres nas lideranças e na esfera pública. É simplesmente chocante. Lá você não vê mulheres em posições de poder. Se compararmos as nigerianas às ugandenses ou quenianas, pior ainda. As ugandenses são incríveis! A Uganda é incrível! Em termos de governança, há absolutamente quase nenhum espaço na Nigéria para as mulheres ingressarem na política. Há 25 anos, essa situação na Nigéria não era assim tão ruim. Havia organizações de mulheres que lutavam por sua independência. Nas duas últimas semanas, vimos milhares de pessoas nas ruas do Quênia lutando por seus direitos. Não vemos isso na Nigéria onde o governo é tão corrupto.

Geledés– Qual a sua percepção sobre organizações brasileiras lideradas por mulheres negras, como Geledés?

Estive no Brasil várias vezes, e estou apenas ouvindo essas mulheres negras, e suas várias organizações. Ouço como falam sobre a Marcha das Mulheres e como se deram os eventos no mês novembro e seus impactos. Estou muito impressionada. Não vi em nenhum lugar do mundo pessoas não binárias, LGBTQI+ tão visíveis como no Brasil. E não acredito que o Brasil seja um país de esquerda. Mas por que, então, as pessoas estão dispostas a se expor dessa forma? Porque elas estão lutando, estão tentando ter seus direitos assegurados. E isso é uma coisa muito boa, quando se vê pessoas lutando por suas vidas.

E fico pensando: por que as mulheres africanas não se organizam desse jeito? A maneira inicial das mulheres iorubás se organizarem era fazendo parte de grupos. Então a pergunta que fica é como podemos traduzir isso para o mundo? Houve um período, em que os movimentos anticoloniais mais importantes do continente eram liderados por mulheres. Hoje vivemos um período bastante triste, mas também esse é um sinal de que devemos prosseguir.

Geledés – Neste momento, Geledés se aproxima da União Africana. Como vê essa conexão entre o continente e suas diásporas?

É preciso lembrar que uma das primeiras reuniões entre mulheres africanas e mulheres da diáspora aconteceu em 31 de julho de 1962, quando as africanas se reuniram no continente com mulheres da diáspora. Precisamos seguir com isso. Precisamos do Pan-africanismo.

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