Desde que os trabalhos foram suspensos por causa de disputa judicial, o imenso canteiro virou abrigo para um “exército de farrapos humanos”: usuários de crack e moradores de rua.
Uma unidade móvel da Guarda Civil Metropolitana assiste à movimentação em torno da praça Júlio Prestes.
O cálculo é que de 200 e 400 pessoas encontraram abrigo detrás das paredes que ainda estão de pé entre a avenida Duque de Caxias e as ruas Helvétia e Barão de Piracicaba, na área que já foi ocupada pela antiga rodoviária.
A montanha de entulhos serve de moldura para homens, mulheres e crianças maltrapilhos. “Eles saíram da praça e foram para o buraco da obra”, conta Susie Ritcher, moradora vizinha.
A polícia não entra ali. “As ocorrências não aumentaram. O problema são as brigas a pauladas e a pedradas entre eles”, diz um dos guardas civis do turno da noite de ontem. “Dentro, a gente não entra. É coisa do Estado.”
O governo estadual toca o projeto de revitalização batizado de Nova Luz, orçado em R$ 600 milhões. O complexo de 95 mil m2 vai abrigar três teatros e as sedes da Companhia de Dança e da Escola de Música do Estado. A previsão é de inauguração em 2011.
A cracolândia sobre os escombros nasceu da briga de duas empresas -Fator, que ganhou a licitação, e Demolidora ABC, segunda colocada.
A ABC questiona a capacidade técnica e financeira da Fator, que levou o serviço por R$ 3,5 milhões no pregão. O governo estimava um contrato de até R$ 7,5 milhões.
Responsável pela obra, a Secretaria de Cultura do Estado não se manifestou sobre a invasão do canteiro. Informou não ter encontrado um responsável pelo projeto.
A Secretaria de Assistência Social do município diz que tem ação específica para a região, mas a maioria dos frequentadores não aceita ajuda. A Secretaria de Saúde diz ter uma rede de auxílio aos moradores de rua, com ênfase aos usuários de droga.
A Polícia Militar informou que mantém policiamento especial na região central.
Fonte: Folha de S.Paulo