Terlúcia Silva - Arquivo pessoal
Terlúcia Silva conhece o agir ativista desde os 13 anos de idade e encontrou no feminismo negro a possibilidade de reinvidicar por mudanças sociais efetivas. Atualmente, é integrante e confudadora da Abayomi – Coletiva de Mulheres Negras na Paraíba e representa a Rede de Mulheres Negras do Nordeste no Comitê Nacional da Marcha das Mulheres Negras 2025.
Ainda criança, na cidade de Natal (RN), participava do movimento comunitário da associação de moradores de seu bairro. Quando passou a morar na Paraíba, em 1999, teve seu primeiro contato com o movimento de mulheres negras e participou do Bamidelê – Organização de Mulheres Negras do estado. “Sempre quis mudar o mundo”, resume a também assistente social e mestra em Ciências Jurídicas.
Foi com esse ímpeto por mudanças que Terlúcia atuou na construção da primeira Marcha Nacional das Mulheres Negras, em 2015. “Trabalhamos exaustivamente no processo de mobilização. A marcha é uma estratégia de fortalecimento da organização política das mulheres negras”, afirma.
A ativista destaca que, após o ato, houve uma ampliação das organizações de mulheres negras no país e uma maior visibilidade dos movimentos localizados fora da região sudeste. “O saldo da marcha aponta para esse redesenho do movimento de mulheres negras no Brasil”, diz.
Ao analisar a década que separa a primeira Marcha da segunda, planejada para esse ano, a entrevistada pontua que foram anos difíceis, com crescimento da violência política, por exemplo. Mesmo diante desse cenário, ressalta que o movimento de mulheres negras cresceu em seu ativismo, aumentando, inclusive, a participação nos espaços de política institucional.
Sobre sua mobilização na marcha deste ano, conta que tem ajudado a estruturar o acolhimento das ativistas que chegarão em Brasília e feito diálogos com diferentes movimentos que podem somar com realização do ato. “Queremos que tudo dê certo, que as mulheres cheguem e voltem bem de seus territórios, trabalhamos com essa perspectiva”, explica.
Conta que tem pensado, inclusive, na mobilização que precisará ser feita após a realização do ato. “A marcha de 2025 é uma grande responsabilidade para o movimento de mulheres negras, sobretudo nessa perspectiva do pós. Teremos muito o que fazer no pós-marcha”.
Ela ressalta também a potência de reunir ativistas do país inteiro para marchar juntas: “a marcha é um momento de grande grito coletivo”. Esse grito reivindica Bem Viver e Reparação, motes de 2025. Para Terlúcia, bem viver se traduz em uma sociedade que respeite todas as vidas, em uma relação harmoniosa com a natureza. Reparação, por sua vez, passa por um projeto político que reconheça a trajetória das pessoas negras e pela responsabilização dos beneficiados dos impactos da escravização.
Sobre o dia da Marcha que se aproxima, a ativista afirma:
A conversa com Terlúcia Silva integra a série de entrevistas “Mulheres Negras em Marcha”, que dialoga com ativistas do movimento de mulheres negras de diferentes gerações e regiões do país, a fim de pautar a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que acontecerá no dia 25 de novembro, em Brasília. As entrevistadas vão relatar suas trajetórias de luta, seu engajamento nas marchas e os motivos que as fazem marchar cotidianamente.
A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver trata-se de uma continuação do movimento que aconteceu em 2015 e reuniu milhares de militantes em Brasília: a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver. Uma década depois, o movimento de mulheres negras pretende reunir 1 milhão de marchantes na capital do país a fim de reivindicar um novo pacto civilizatório.