Foto: Thânisia Cruz/Arquivo pessoal
“O movimento de mulheres negras me ensina muito sobre o ativismo como uma forma de trabalho, no sentido de me profissionalizar para ser uma mulher negra atuante”, afirma Thânisia Cruz. Natural de Ceilândia (DF), a militante é licenciada em Letras-Francês, mestre em Educação e Políticas Públicas, e integrante do coletivo Yaa Asantewaa.
Sua trajetória no ativismo teve início em 2013, em meio às manifestações contra os altos gastos com a Copa do Mundo que seria realizada no Brasil no ano seguinte. Ao observar a violencia contra protestantes negros, se reuniu com algumas amigas para criar o coletivo de mulheres negras Yaa Asantewaa.
Thânisia esteve presente na primeira Marcha Nacional de Mulheres Negras, em 2015. Na época, trabalhava na Secretaria de Igualdade Racial do Distrito Federal e chegou a auxiliar com algumas questões logísticas do ato. Mas ainda não tinha noção do poder de mobilização das mulheres negras.
Uma década depois, se formou enquanto ativista do movimento de mulheres negras e entende sua dimensão organizativa, e está participando do planejamento da segunda Marcha Nacional.
Sua participação na construção da segunda Marcha Nacional começou em agosto de 2024, em uma reunião do comitê do ato no Distrito Federal. Ali, se disponibilizou a ajudar como podia, conversando com mulheres de terreiros e visitando escolas públicas. Nos últimos meses, sua vida pessoal e profissional foi confluindo para que, nesse momento, pudesse dedicar grande parte do seu tempo para a militância em torno da Marcha.
Para a militante, o ano de 2025 se mostra como um momento para avaliar os 10 anos do movimento de mulheres negras desde o acontecimento da primeira marcha. “É um reconhecimento para quem já estava, é um fortalecimento para quem está cansada e é uma nova porta de entrada para quem vem aí”, afirma.
Os lemas trazidos no ato que acontecerá em 25 de novembro desse ano são Bem Viver e Reparação. O primeiro deles, para Thânisia, significa “o descanso sem culpa e a dignidade sem disputa”, passando por acesso a comida sem agrotóxico, água limpa, saneamento básico, trabalho digno, serviços de saúde física e mental de qualidade.
Já reparação, para a ativista, começa pela alternância de poder, com a participação efetiva de mulheres negras na política institucional. Além disso, engloba a preservação da memória das populações negras, a partir de seus pontos de vista.
Olhando para a realização da Marcha que se aproxima, afirma ser um espaço de possibilidades para um futuro melhor. “A grande vontade é que a gente tenha mais referências sobre nós, é que a gente, definitivamente, tenha um debate mais assertivo sobre uma mulher negra na presidência do Brasil”.
A conversa com Thânisia Cruz integra a série de entrevistas “Mulheres Negras em Marcha”, que dialoga com ativistas do movimento de mulheres negras de diferentes gerações e regiões do país, a fim de pautar a 2ª Marcha Nacional de Mulheres Negras, que acontecerá no dia 25 de novembro, em Brasília. As entrevistadas vão relatar suas trajetórias de luta, seu engajamento nas marchas e os motivos que as fazem marchar cotidianamente.
A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver trata-se de uma continuação do movimento que aconteceu em 2015 e reuniu milhares de militantes em Brasília: a Marcha das Mulheres Negras contra o Racismo, a Violência e pelo Bem Viver. Uma década depois, o movimento de mulheres negras pretende reunir 1 milhão de marchantes na capital do país a fim de reivindicar um novo pacto civilizatório.