No Orun

Valeu, Preta

Poucas artistas passaram pelo Portal Geledés como Preta Gil. Acompanhamos de perto os ataques racistas que ela sofreu nas redes sociais, uma violência coordenada, disfarçada de opinião, que questionava sua inteligência, seu corpo, sua existência. Naquele momento, Preta se ergueu com força e lucidez, denunciando o racismo que se disfarça de liberdade de expressão, mas que, na verdade, escancara o quanto muitos ainda se sentem à vontade para dizer qualquer coisa sobre corpos negros na internet.

A dor de Preta reverberava. Não era apenas dela. Era também das tantas mulheres negras que se viram ali, naquela tentativa de desumanização. Por isso, nos solidarizamos. Porque sabíamos e seguimos sabendo que cada ataque a uma de nós é um ataque a todas.

Mas o que víamos em Preta Gil não cabia na narrativa do ataque. Preta era muito mais do que as denúncias de racismo. Era coragem de se mostrar inteira, num país que insiste em esvaziar as mulheres negras. Era contradição, desejo, escolha, dor, alegria. Era vida pulsando com intensidade e, nisso, tantas de nós se reconheciam. Mesmo nos espaços onde poucas de nós entram, Preta fazia ecoar dilemas que são nossos também. Porque ser mulher negra no Brasil, com ou sem privilégio, é ter o corpo sempre convocado a resistir. E ela resistia vivendo.

Preta Gil deixa como legado um convite: que mulheres negras possam sonhar com a liberdade em sua forma mais ampla. Liberdade de ser, de sentir, de decidir, de ocupar o mundo com tudo o que somos.

Nos despedimos com um abraço profundo e sincero aos familiares, amigas, amigos e fãs de Preta.


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