O sonho de Mãe Stella

No último sábado no Shopping Bela Vista tive a sorte de participar de uma cerimônia marcante: a abertura  da “animoteca”. Trata-se de uma parte do projeto “Encontro Colorido da Encantada Espiritualidade Baiana”, concebido pela ialorixá do Ilê Axé Opô Afonjá, Mãe Stella de Oxóssi.

Por Cleidiana Ramos no Mundo Afro 

A animoteca, instalada em um ônibus, pode ser visitada até o próximo dia 29, das 10 às 21 horas, no estacionamento do Shopping Bela Vista no Cabula.  Lá é possível encontrar livros, áudios e vídeos sobre as várias religiões.

O projeto é um sonho antigo de Mãe Stella que ela manifestou em um dos muitos artigos que escreveu para o jornal A TARDE. A partir do artigo, que foi desdobramento de um primeiro, onde misturando realidade e ficção ela falou sobre a importância de cultivar a possibilidade de sonhar, vários dos seus leitores se dispuseram a ajudar.

Infelizmente, na última quarta-feira, Mãe Stella se despediu, de forma continuada, do seu espaço cativo a cada 15 dias nas páginas de Opinião do jornal. Ela foi a primeira ialorixá a escrever de forma regular em um jornal de grande circulação. O  texto em que ela se despediu dos leitores foi publicado na quarta-feira passada,  mas a história que ela começou a construir nesse espaço logo terá continuidade.

Aqui segue o texto de Mãe Stella dando um até breve aos seus leitores do jornal:

Mudança de hábito

Maria Stella de Azevedo Santos

Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá

Quem não se lembra do filme Mudança de hábito, onde uma cantora de casino se vê obrigada a se esconder em um convento de freiras? Sem ser uma religiosa, ela conseguiu transformar positivamente o ambiente em que passou a morar. Nem toda pessoa boa é religiosa e nem todo religioso é, necessariamente, bom. No referido caso, o hábito (no sentido de vestimenta religiosa) fez a freira, confirmando o provérbio que diz: “O hábito faz o monge”.

Entretanto, esse provérbio tem outro significado quando dito da maneira completa e certa: “O hábito faz o monge apenas quando ele é visto longe”. Apesar dessa introdução, não escolhi o título “Mudança de hábito” para este artigo tendo como intenção falar de hábito enquanto vestimenta, mas sim enquanto prática costumeira.

Quando algo é difícil de ser dito, o preâmbulo fica sempre mais longo. É uma forma de preparar o interlocutor para ouvir ou ler o que vem pela frente. Sei que estou fazendo certo suspense. Coragem, Stella! – digo para mim. Então, lá vai:

As diversas atividades que minha vida religiosa pede e, é claro, a minha avançada idade estão fazendo com que se torne difícil continuar escrevendo quinzenalmente para este conceituado jornal, que acolheu meus pensamentos e minha cultura religiosa com muito desprendimento.

Não estou me despedindo do jornal A TARDE que, compreendendo minhas razões, deixou o espaço aberto para que eu escrevesse algum artigo quando assim pudesse e desejasse; muito menos estou me despedindo de meus leitores, pois continuarei escrevendo livros, mas no ritmo possível para meus 89 anos de idade.
Afinal, dividi a existência humana em três etapas: na primeira idade, que vai até os 40 anos (pelo menos para mim), as pessoas estão prontas para fazer filhos; a segunda idade, que vai dos 40 aos 80 anos, é para namorar; na terceira idade, que vai dos 80 aos 120 anos, é o momento propício para as pessoas sentarem e esperarem a velhice chegar. Este é o meu momento!

Escolhi com cuidado não só as palavras a serem escritas, como também a ocasião certa para realizar essa espécie de liberação. É que sábado, dia 22 de novembro, às 17 horas, na frente do Shopping Bela Vista, estarei realizando um sonho que só foi possível porque o expus nas páginas deste jornal e seus leitores ajudaram-me a concretizá-lo.

Parece-me que a sociedade já esta pronta para receber um ônibus, que ludicamente chamo de Animoteca, já que um de seus objetivos é despertar o ânimo dos seres que ainda se encontram adormecidos. Nesse ônibus estão guardadas em forma de livros, vídeos e áudios as sabedorias reveladas por mentes inspiradas, pertencentes a diferentes religiões e tradições filosóficas.

Não chamo a apresentação do ônibus de inauguração, porque prefiro, de maneira poética, denominá-la de “Encontro colorido da encantada espiritualidade baiana”, que tem como objetivo maior trabalhar no sentido de diminuir a violência através do despertar da espiritualidade.

Meus leitores, os quais espero encontrar no dia 22, sábado, percebem, assim, que não estou me despedindo, estou apenas mudando de hábito.

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