Muhammed Yunus me fez acreditar que é possível mudar o mundo

Essa foi uma semana extremamente difícil não só para mim mas para todos que tem algum apreço pela democracia. Foi uma semana de reflexão, de coração apertado e de muitas lágrimas, mas principalmente foi uma semana de angústia. Ler os comentários que circulavam na rede foi quase tão difícil quanto ver as imagens produzidas pelo massacre de 29 de abril de 2015. Houve quem tentasse acusar professores de black blocs (e nem vou entrar no mérito do porque ser um bloc não necessariamente é algo tão ruim assim), descarados defendendo as ações que deixaram 200 feridos por supostos 7 ou 8 “infiltrados”. Houve, mais uma vez, muito discurso de ódio e muita gente “saindo do armário” de sua intolerância, demonstrando prontamente que o fim justifica os meios e houve até quem celebrasse com gritos de futebol as cenas surreais que aconteceram no Centro Cívico.

Por , do Brasil Post 

Não haveria, portanto, maneira melhor de encerrar essa semana restaurando a fé na humanidade e no nosso potencial imenso de fazer o bem, de inovar e de fazermos jus ao humano que sucede o nosso “ser”.

Em uma tarde de um domingo de feriado em um Teatro Guaíra lotado, pude assistir a uma palestra de Muhammed Yunus após ser lhe concedido o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal do Paraná.

Para quem não sabe, Yunus foi ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 2006 e tem dedicado toda a sua vida ao que hoje chamamos de empreendedorismo social. Foi um visionário ao apostar, nos anos 70, na concessão de microcrédito e no empreendedorismo para reduzir a miséria no Bangladesh, país onde nasceu e vive até hoje. O projeto foi chamado de Grameen Bank e, em 1983, tornou-se um banco oficial para fornecer empréstimos aos pobres, principalmente mulheres na zona rural. Hoje o Grameen Bank tem mais de 8,4 milhões de mutuários, 97% dos quais são mulheres, e desembolsa mais de 1,5 bilhões de dólares por ano. A ideia se espalhou por quase todos os países do mundo, incluindo países desenvolvidos e industrializados. Yunus atualmente se dedica a outros negócios sociais, como uma companhia que vende painéis de energia solar de baixo custo, uma escola de enfermagem e um hospital oftalmológico, dentre tantos outros.

Yunus é grande defensor da emancipação e empoderamento das mulheres, ainda que não necessariamente levante a bandeira do feminismo, fez várias referências à importância das mulheres nas mudanças sociais e sua fala é suportada pelos números do próprio Grammen Bank. Segundo Yunus, “o dinheiro que ia para a família, através das mulheres, trazia-lhes muito mais benefícios. Isto podia ser observado em todos os casos. Quando é o homem que toma o empréstimo, há algumas mudanças positivas, mas nenhuma se compara ao caso da mulher. Os filhos são beneficiários imediatos quando é a mãe que toma o empréstimo. As mulheres vêem mais adiante. Elas querem promover mudanças em suas vidas passo a passo e utilizam o dinheiro com mais cautela.” É por isso então, que o Grammen Bank dá prioridade no crédito a mulheres e desta forma tem ajudado a mudar significativamente a realidade de muitas famílias.

Bem, o Google está aí para quem quiser conhecer melhor a história de Yunus, do Grammen Bank e das demais iniciativas que fizeram de Yunus um homem tão influente e inspirador. Mas nada que encontremos no Google descreverá corretamente o poder de um sonho e da determinação de um homem que foi atrás dele. Cá estava eu sentada na cadeira de um teatro onde estive tantas outras vezes olhando para aquela figura que me transmitia uma tranquilidade enorme. Um senhor, de uns 60 e poucos anos e que de alguma forma me fez acreditar! Me fez esquecer a péssima semana e toda a desesperança. Este senhor tão doce e humilde a tão poucos metros de distância me fez sentir com uma certeza quase que entusiasmante que É POSSÍVEL! É possível mudar o mundo e fazer dele um lugar se não muito melhor, pelo menos um pouco menos pior, apenas com ideias e boa vontade! É possível vender essas ideias a grandes empresas e fazer delas algo sustentável. É possível mudar o mundo…

Comecei a pensar em quantas vezes me senti uma gota no oceano e o quanto esse sentimento pode ser desesperador. Pensei também em como foi libertador para mim descobrir que a minha missão de vida, seja como coach ou em qualquer outra função que eu exerça é a de ajudar (ou tentar) outras mulheres a encontrar suas próprias missões e propósitos e o quanto abraçar essa missão me fez e me faz renascer ainda que esteja sendo apenas uma gotinha no oceano.

Em uma semana tão difícil, assistir ao depoimento de alguém que, tendo encontrado a sua própria missão mesmo que começando como uma gota no oceano transformou o mundo dessa forma, me fez sentir uma intensa, profunda e comovente gratidão ao Universo.

Se os tempos são difíceis, se não sabemos como lidar com um sentimento, uma indecisão, uma frustração e até mesmo o medo, teremos sempre a certeza de que pessoas como Yunus estarão aqui para nos lembrar de que sim, é POSSÍVEL!

 

Post originalmente publicado em: http://www.selfdh.com

 

 

Leia Também: 

Boaventura: Outro Mundo Necessário

+ sobre o tema

Fome extrema aumenta, e mundo fracassa em erradicar crise até 2030

Com 281,6 milhões de pessoas sobrevivendo em uma situação...

Presidente de Portugal diz que país tem que ‘pagar custos’ de escravidão e crimes coloniais

O presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, disse na...

O futuro de Brasília: ministra Vera Lúcia luta por uma capital mais inclusiva

Segunda mulher negra a ser empossada como ministra na...

Desigualdade ambiental em São Paulo: direito ao verde não é para todos

O novo Mapa da Desigualdade de São Paulo faz...

para lembrar

O poder grisalho é só para quem tem coragem e teimosia

Por: Fátima Oliveira Entrei para as fileiras do "gray power"...

Unegro lamenta morte de Wilson Brother Miranda

A União dos Negros pela Igualdade do Distrito...

O pai tem nojo e vergonha do rapaz. E ele chora.

por Arísia Barros O rapaz tem 23 anos e...

Foi a mobilização intensa da sociedade que manteve Brazão na prisão

Poucos episódios escancararam tanto a política fluminense quanto a votação na Câmara dos Deputados que selou a permanência na prisão de Chiquinho Brazão por suspeita do...

MG lidera novamente a ‘lista suja’ do trabalho análogo à escravidão

Minas Gerais lidera o ranking de empregadores inseridos na “Lista Suja” do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A relação, atualizada na última sexta-feira...

Conselho de direitos humanos aciona ONU por aumento de movimentos neonazistas no Brasil

O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), órgão vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, acionou a ONU (Organização das Nações Unidas) para fazer um alerta...
-+=