Estudo explica disparidade racial em sobrevivência ao câncer

Fonte: Terra Notícias –


Cientistas anunciaram ter feito uma descoberta que pode ajudar a explicar a disparidade racial em termos de índices de sobrevivência ao câncer, oferecendo pistas sobre o motivo para que pacientes brancos tenham expectativa de sobrevida superior à de pacientes negros em casos nos quais sofram das mesmas formas de câncer.

As descobertas surgiram de uma pesquisa da Universidade de Maryland sobre o câncer de garganta e sobre cânceres de epitélio escamoso na cabeça e pescoço, variedades de câncer que vêm apresentando forte crescimento nos últimos anos, aparentemente devido ao vírus papiloma humano ¿o mesmo vírus transmitido sexualmente que causa câncer de colo de útero e contra o qual está sendo desenvolvido uma vacina para as adolescentes. O vírus também pode se espalhar por meio de sexo oral, causando câncer da garganta e das amídalas, ou causar câncer bucofaríngeo.

A nova pesquisa toma por base trabalhos anteriores que sugerem que tumores de câncer de garganta causados pelo vírus em questão se comportam de modo muito diferente do encontrado em outros cânceres de garganta, e na verdade respondem melhor ao tratamento. E as novas pesquisas sugerem que os brancos apresentam incidência maior do que os negros de tumores vinculados a esse vírus, o que pode explicar os resultados negativos para os pacientes negros que sofram de tumores não relacionados ao papiloma humano.

Pesquisadores da Universidade de Maryland realizaram o estudo depois de constatar que os pacientes brancos de câncer de garganta sob tratamento na instituição apresentavam sobrevivência média de 70 meses, ante apenas 25 meses no caso dos pacientes negros, ainda que eles estivessem sendo todos tratados no mesmo hospital.

A disparidade racial em termos de sobrevivência a cânceres bucofaríngeos explica a maior porção da disparidade existente entre brancos e negros no que tange a índices de sobrevivência a cânceres de cabeça e pescoço, segundo os pesquisadores.

¿Ficamos chocados ao constatar essa tendência em nossa instituição, onde mais de metade dos pacientes sob tratamento têm origem negra¿, disse o Dr.Kevin Cullen, diretor do Centro Greenbaum de Câncer, na Universidade de Maryland, e autor principal do novo estudo, que sai na edição de setembro da revista Cancer Prevention Research.

Mais ou menos na mesma época, os pesquisadores de Maryland estavam analisando espécimes de tumores de cabeça e pescoço recolhidos de participantes em um teste de tratamento conhecido como “estudo TAX 324”, a fim de determinar que proporção de tumores estava vinculado ao vírus papiloma humano.

Os resultados foram notáveis: os pacientes que participavam do TAX 324 e cujos tumores tinham por causa o vírus em questão respondiam muito melhor aos tratamentos de radioterapia e quimioterapia. E a presença de brancos entre eles era esmagadora.

Enquanto cerca de metade dos tumores de garganta dos pacientes brancos eram causados pela presença do vírus papiloma humano, no caso dos negros apenas um paciente apresentava um tumor causado pelo vírus, informou Cullen.

“Não existe diferença nos índices de sobrevivência de pacientes brancos e negros no teste TAX 324 se subtrairmos da amostra os pacientes que apresentam o vírus papiloma humano”, afirmou.

A disparidade racial costumava ser explicada como resultado de diagnóstico tardio da doença entre os negros, bem como pela falta de acesso a serviços de saúde e pelo recurso a tratamentos menos agressivos, mas os especialistas afirmam que no caso do câncer bucofaríngeo, parecem existir diferenças biológicas distintas entre os tumores.

Isso sugere que a disparidade racial nos índices de sobrevivência a esse tumor específico pode se dever às diferenças sociais e culturais entre brancos e negros, o que incluiria diferentes práticas sexuais, alegam os especialistas.

Em conversa com repórteres, importantes especialistas em câncer definiram o novo relatório como um estudo histórico, que transformaria o tratamento de cânceres bucofaríngeos e desafiaria os médicos a desenvolver novas opções de tratamento para pacientes que não sejam portadores do vírus papiloma humano.

O Dr. Otis Brawley, diretor médico da Sociedade Americana do Câncer e autor de um editorial que acompanha o relatório, diz que as mudanças nas práticas sexuais vêm resultando em elevação na incidência de cânceres de cabeça e pescoço, e talvez em outras modalidades da doença, igualmente. “Existe uma importante mensagem de saúde pública a considerar, quanto a isso”, ele afirmou.

Matéria original: Estudo explica disparidade racial em sobrevivência ao câncer

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