Um aspecto sobre o racismo

Desde que passei a seguir a Jaredy do  fiquei na vontade de escrever algo sobre racismo, mas só agora lembrando do passado, à mesa com familiares, que resgatei um ponto importante.

 

por Aleska

Quando eu era pequena, morava com meus pais, meu irmão e meus avós. Com a exceção do meu avô a família era toda branca. Sendo crianças não questionávamos a cor dele, era da família e pronto. Era o pai da minha mãe, por mais que ela não o chamasse assim. Só ficamos sabendo que ele era o segundo marido da minha avó no início da adolescência. O importante porém, é que não o víamos como um negro. Ouvíamos falar na televisão da situação dos negros, da discriminação, e por mais que víssemos a semelhança com nosso avô, não associávamos uma coisa com a outra. Para nós o negro era o outro aos moldes de Tzvetan Todorov, aquele que é o nosso oposto e serve para ajudar a definir nossa identidade através da oposição, daquilo que não somos. Meu avô como estava próximo era branco, não pela nascença mas pelo amor que sentíamos por ele. Já perceberam o sentimento clânico que temos com nossa família e com aqueles que estão mais próximos de nós? Pois é, meu avô estava protegido por ele, mas apenas dentro da família.

Hoje sei que vemos o negro como o outro dentro da nossa própria sociedade porque o racismo foi naturalizado, a gente aprende a tê-lo, mesmo que o negro não more assim tão longe de nós, e não seja muitas vezes tão diferente. Ainda bem que nas escolas já se começa a introduzir estudos sobre as diversas etnias do país. Acredito que mudando essa Educação desde a infância aprenderemos a ser menos excludentes, deixando que a vida deles seja menos apreensiva, já que não terão mais o medo de sair na rua e ser insultado apenas por existir.

O chato que assim como eu e meu irmão, as pessoas aprendem essa diferença na televisão. Por exemplo, a personagem principal das novelas é sempre branca e a maioria das empregadas negras, demorou anos até que mudassem esse quadro na novela Da cor do Pecado, ou mesmo o caso da Glória Maria como a primeira e a única negra no jornalismo da Globo, pelo menos das que aparecem nos programas.

Numa sociedade como a brasileira não há como ignorar a nossa herança negra, tanto na cultura quanto no nosso sangue, ou nos afetos. Nem nos áureos sonhos de D. Pedro I o Brasil poderia se tornar uma sociedade branca e européia, somos simplesmente tropicais e heterogêneos e devemos ter satisfação com isso, temos mais o que compartilhar uns com os outros em termos de vivências. Somos um povo muito rico, e por isso é necessário desaprender essa cultura ultrapassada construída no erro, e perpetuada por ele.

Sem falar que, a naturalização do racismo é uma das razões para crises de identidade e falta de aceitação. Meu avô passava talco no rosto para ficar mais parecido conosco (não quero nem imaginar o que ele ouviu pra sentir essa necessidade, deve ter sido algo bem cruel)e eu tinha uma amiguinha que adorava meu boneco que fazia xixi, tanto que a mãe comprou um igual pra ela, só que negro. Só esse detalhe que separava o meu do dela, no entanto bastou pra ela só querer o meu que era branco. Por que fazemos esse mal uns aos outros ? Totalmente desnecessário. Acho que não há sentimento pior que o ódio contra si mesmo, então não tolero uma sociedade que perpetua preconceitos tão repugnantes. E você já pensou nisso? Não espere o feriado do zumbi para pensar, pense agora e renove-se.

Fonte: Diários de Bordos

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