Programa de inclusão da USP não beneficia negros e pobres

Apesar da participação de alunos de escola pública ter aumentado 10% de 2011 a 2012 na USP, proporção de negros não mudou e de abastados cresceu

Divulgação/USP

A política de inclusão de alunos de escolas públicas da Universidade de São Paulo (USP) não tem refletido no acesso de negros e pobres na instituição. Entre 2011 e 2012, houve aumento de quase 10% da participação de alunos de escolas públicas nas matrículas, mas o porcentual de estudantes pretos e pardos não acompanhou o processo e ficou praticamente estável, assim como não houve alteração na pirâmide social da instituição.

A participação de alunos de escola pública na USP chegou a 28% em 2012 , contra 26% no ano passado. Se calculados os ingressantes pretos e pardos, eles representaram 13,8% dos aprovados no vestibular deste ano. No ano anterior, esse porcentual era de 13,4%. Os pardos registraram pequeno aumento, de 10,6% para 11,2%. Os candidatos que se declararam pretos representaram 2,6%, contra 2,8% em 2011. Neste ano, foram aprovados 283 estudantes pretos, de um total de 10.766.

Entre 2011 e 2012 houve aumento de 11% nas inscrições de alunos que se declararam pretos e pardos, o que colaboraria com o maior acesso dessa população à universidade. Os dados são da própria Fuvest, fundação que realiza o vestibular da principal universidade do País.

Mais ricos
Os dados socioeconômicos da Fuvest também mostram que o vestibular 2012 aprovou mais alunos de classes mais abastadas que o de 2011. A participação de estudantes com renda familiar menor diminuiu.

Neste ano, os inscritos que vêm de famílias com renda média superior a sete salários mínimos, o que significa ganhos acima de R$ 6.220 por mês, representaram 41% do total. Mas, na lista de aprovados, eles garantiram 51% das matrículas. No ano passado, esse grupo representava 48,8% de aprovados.

A ponta mais alta da pirâmide também ficou maior em 2012, segundo a Fuvest. Neste ano, cerca de 35% dos ingressantes da USP vêm de famílias com renda acima de dez salários mínimos – com ganhos médios acima de R$ 8.708. No ano anterior, o porcentual era de 33%.

Esse grupo ficou com 3.765 vagas do total de 10.766. O que chama a atenção é que, enquanto ficou com 35% das vagas, o grupo representou 26,9% dos inscritos no vestibular.

Na outra ponta da pirâmide, caiu de 35% para 33% os ingressantes com renda salarial de até cinco salários mínimos – renda de até R$ 3.110. Esse grupo representa 44% dos inscritos.

Meritocracia
Tradicionalmente a USP descarta a adoção de qualquer tipo de cota, sempre indicando valorizar exclusivamente o mérito. A USP entende que o sistema de bônus do Programa de Inclusão Social da USP (Inclusp), voltado a alunos de escola pública, independentemente da cor da pele, já atende às demandas por inclusão. O Inclusp foi adotado a partir de 2007 e dá bônus na nota do vestibular a esses alunos, independentemente da cor da pele.

O diretor da ONG Educafro, frei David Raimundo dos Santos, critica o que ele chama de “falsa meritocracia” da USP. “O mundo é feito de oportunidades. A USP tem plena consciência de que aplica meritocracia injusta e não discute”, afirma ele, que critica o vestibular. “A injustiça está em uma universidade pública cobrar aquilo que o Estado, que é público e financia a universidade, não forneceu a suas escolas.”

Levantamento feito em junho pelo jornal O Estado de S.Paulo, com dados do vestibular de 2011, mostrou que, em cinco anos, apenas 0,9% – o equivalente a 77 alunos – dos matriculados em Medicina, Direito e na Escola Politécnica eram pretos. Em Medicina, por exemplo, nenhum preto havia passado nos vestibulares de 2011 e 2010. Esse recorte do vestibular de 2012 ainda não está disponível.

Inclusão
A USP sempre sofreu críticas em relação ao perfil dos estudantes que ocupam suas vagas – a maioria absoluta vem de escolas particulares. Além do Inclusp, a universidade inaugurou a partir deste ano um novo modelo de bonificação para alunos de escola pública. Para quem sempre estudou em escola pública – do ensino fundamental ao médio –, a universidade criou o Programa de Avaliação Seriada da USP (Pasusp). Neste ano, o primeiro após a mudança nos critérios, o bônus chegou a até 15% , de acordo com o desempenho do estudante na Fuvest. Para participar, o aluno precisa estar cursando o ensino médio e realizar as provas no 2.º e no 3.º anos.

Questionada, a USP informou que “o Inclusp tem como principal objetivo a inclusão de alunos da rede pública na universidade, tendo o mérito como principal premissa, independentemente da raça”.

As informações são do jornal O Estado de S.Paulo.

Fonte: Último Segundo

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