Por: Carolina Stanisci
Exame exige do candidato que saiba como ler textos com rapidez, para garimpar palavras-chave e respostas sem perder tempo
Prova comprida, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que começa no próximo sábado, vai exigir dos candidatos esforço de interpretação, leitura rápida e seletiva dos enunciados e atenção ao conteúdo cobrado.
Mesmo com recomendação do próprio ministro da Educação, Fernando Haddad, para que os enunciados das questões fossem “mais enxutos” neste ano, como o Estado informou, a prova continua com características de uma maratona – são 180 questões em dois dias.
Para enfrentar o desafio, alguns alunos já traçaram suas estratégias, orientados por professores de escolas e cursinhos. Segundo Tadeu Terra, coordenador pedagógico do Sistema de Ensino COC, para se dar bem é preciso saber como ler os enunciados. “A leitura da prova deve ser como a de jornal. Tem informações que não são relevantes, tem de fazer uma leitura seletiva”, diz.
“O texto é importante, mas às vezes você usa uma parte mínima dele”, endossa Letícia Takahara, de 17 anos, aluna do 3.º ano do ensino médio do colégio Humboldt.
Os alunos habituados a ler saem na frente, diz Paulo Cunha, professor de biologia do colégio Vera Cruz. “Eles conseguem criar atalhos, sabem buscar a informação, a palavra-chave.”
Mas nem sempre leitores fluentes conseguem ter uma performance boa. O tempo escasso para resolver a prova e o os textos longos que servem para resolver apenas uma questão são fatores que pesam contra os candidatos, bons de leitura ou não.
O aluno do colégio Bandeirantes Matheus Gouveia Azevedo Campos, de 17 anos, afirma gostar de ler e ter facilidade com textos. Ele resolveu a prova do ano passado em casa e a achou cansativa. Matheus quer vaga apenas no curso de Enologia do Instituto Federal Rio Grande do Sul, em Bento Gonçalves, para o qual só pode usar o resultado no Enem. “Meus amigos gozam de mim, acham que sou “sortudo” porque só vou fazer o Enem. Mas é difícil acertar aquele troço”, conta o candidato, que vai completar 18 anos no segundo dia de prova. “Espero poder comemorar.”
Intercalando. Dá para resolver as provas do Enem numa tacada só? Ou será que é melhor dar uma paradinha e migrar para outra disciplina? Para o professor Edmilson Motta, coordenador-geral do Etapa, o ideal é arejar a cabeça alternando as provas. “A prova de português não dá para resolver de uma vez só, é muito chata. É bom ir mesclando, assim você é exigido em outros aspectos da cognição”, diz. “Vistas isoladamente, essas questões não são exigentes, até são mais simples que as de vestibulares usuais. Mas elas vêm numa cacetada, são muitas.”
Jéssica Panhoca Baptista, de 19 anos, aluna do Etapa, vai seguir esse conselho dado no cursinho. Vestibulanda de Economia, ela faz a prova pela segunda vez. “Ano passado, fiz na ordem. Agora, os professores deram essa dica e eu achei boa.”
A vestibulanda também se queixa do conteúdo que passou a ser cobrado no Enem. Além da interpretação de textos, a prova está se tornando cada vez mais conteudista, dizem professores. “Ficou mais difícil. Tenho a impressão de que antes a prova era mais básica, não cobrava algumas matérias.”
Motta, do Etapa, diz que é preciso encarar o Enem como um vestibular como outro qualquer. “Essa ideia de que não é vestibular não existe mais. Isso de avaliar competências e habilidades está acabando”, afirma ele, para quem a prova virou uma mescla de questões interpretativas do estilo antigo do Enem, com outras de interpretação de gráficos e textos. A dica preciosa do professor é simples: prepare-se para o temido Enem como para qualquer outro grande vestibular, como a Fuvest ou Unicamp.
Conhecido por ser um colégio puxado, o Bandeirantes preparou exaustivamente seus alunos, com simulados durante o ano, para que tenham bons resultados no próximo fim de semana. “Os alunos treinam, treinam, mas mesmo assim acham o exame muito cansativo”, diz o coordenador pedagógico da escola, Pedro Fregoneze. Sua conclusão foi a mesma de outros professores: continuar insistindo para que o Ministério da Educação diminua a prova.
Fonte: Estadão