Virada pra lua

Há bem pouco tempo, Taís Araújo esquivava-se de parecer sensual. Mas isso foi mudando, e mudou. A atriz, que superou preconceitos desde que foi catapultada à fama, aos 17 anos, na extinta tevê Manchete, encarnando Xica da Silva (1996), se tornou uma mulher forte, segura. E topou fazer o primeiro ensaio sensual de sua carreira. Embora acredite que o foco na sexualidade possa ser cruel. “Adoro parecer mulherão, mas ser apenas isso é injusto”, fala.

Quando foi para a Globo, encarnou papéis menores até surgir como estrela em Da cor do pecado(2004) e, mais tarde, viver uma vilã em Cobras e lagartos (2006). Apesar do sucesso e burburinho ao seu redor, não costumava estampar capas de revistas. “Fui conquistando meu espaço com diplomacia. E sem essa de coitadinha. Eu sou negra, tinha consciência do país em que nasci”, afirma.

Foi só quando fez A favorita (2008) que passou a ter lugar cativo em capas de revistas e suplementos de jornal, vencendo o mito de que artistas de pele escura derrubam números de circulação. Mesmo assim, por muito tempo, para estar em uma capa não bastava ser Taís, era preciso ter ao lado frases ligadas a inclusão social, superação. Teve uma revista que até afinou seu nariz – “patético”, ela lembra.

Helena negra
Quando, em 2009, foi chamada para viver uma das Helenas do autor Manoel Carlos, em Viver a vida, ganhou a mídia mais uma vez. Era um acontecimento: faria a primeira personagem de sua vida que poderia ser encenada também por uma atriz branca. Mas as críticas negativas que encarou na estreia jogaram sua autoestima no chão.

Taís sofreu, chorou, cancelou entrevistas, mas hoje vai assimilando que Helena não foi um fiasco – e ainda é uma de suas personagens mais lembradas. “Eu tinha uma limitação crítica na época. Estava frágil como atriz, nunca havia sido metralhada. Achava que minha carreira iria acabar.” Com o episódio, aprendeu que nem toda protagonista é uma boa escolha. Decidiu reconstruir quem gostaria de ser – e começou a, entre outras coisas, produzir teatro.

Em setembro, ela volta à TV na série cômica Mr. Brau, em que atua ao lado do marido, Lázaro Ramos. Ele faz um cantor popular; ela, um misto de esposa, dançarina e empresária. Em outubro, os dois estreiam em São Paulo a peça O topo da montanha, que recria o último dia da vida de Martin Luther King. No cinema, ela acaba de finalizar Ladrões de caneco, de Caíto Ortiz, sobre o roubo da taça Jules Rimet, e se prepara para filmar Empreguetes, consequência do sucesso da novela Cheias de charme (2012).

Lázaro entrou em sua vida 11 anos atrás. Ela conta que tremeu no dia em que ele lhe enviou flores, enquanto ainda era noiva de outro homem. “Retribuí as flores e terminei meu noivado. Fiz tudo direitinho para a gente começar. E o Lázaro acreditou que eu era uma mulher direita”, gargalha. Os dois viveram uma separação de oito meses em 2008. Gata, magra, jovem, ela diz que curtiu adoidado. Quer dizer, tentou. Pois, nesse período, amadora, conseguiu engatar um namoro fugaz, de três meses. “Era um amigo de infância e me arrependo de ter perdido essa amizade”, lamenta. O hiato foi importante para que ela e Lázaro reconhecessem o amor que sentiam um pelo outro. Os dois voltaram e desde então eles têm o que ela define como um casamento normal, desses em que “ninguém é feliz o tempo inteiro”.

Os dois se complementam. “Acho que dei leveza a ele, e ele me trouxe densidade.” Lázaro, ela diz, perdeu o receio da televisão e ela mergulhou cada vez mais no mundo dele. E passou a dar mais atenção à questão da negritude, com uma consciência que ela não tinha quando era mais nova. Sobre a infindável discussão sobre o politicamente correto, ela se coloca favorável a certos limites. “Piada que só ri quem está contando, e faz o outro chorar, não tem graça”, fala. “Claro que há coisas que beiram a antipatia, mas se você for ao centro da questão, vai ver que é tudo preconceito. A mesma história da polêmica do Monteiro Lobato ser ou não racista.”

Taís pondera que o autor de Sítio do Pica-Pau-Amarelo era um homem de sua época. Não acha normal o tratamento que o autor deu à Tia Anastácia, mas acredita que, se fosse hoje, ele mesmo não a chamaria de macaca. “Porque nós não permitiríamos. Eu sou uma mulher do meu tempo, cheia de críticas ao tempo dele.” A Taís engajada acha que “o Brasil começa a parar de mentir que não tem preconceito e está aprendendo a tratar o assunto”.

Mãe de João Vicente, de 4 anos, e Maria Antônia, 6 meses, ela afirma que a maternidade derrubou muitos de seus clichês. Inclusive aquele de que se é 100% alegre com os filhos. “Você se sente impotente, com medo de não conseguir protegê-los.” Maria Antônia nem sabe, mas talvez seja a grande responsável pelo momento “corpão” que a mãe exibe neste ensaio. Impedida de amamentar a filha, por conta de antibióticos que teve que tomar logo que ela nasceu, Taís quase entrou em depressão. “Mas fiz do limão uma limonada. Me recuperei, fui malhar, fazer dieta”, conta. “A idade me fez gostar de ter bunda e detestar ser magrela. Mas acho que”, para um pouco, posa para mais uma foto, “deve ser ótimo mesmo é ser gostosa aos 40”, ri.

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