Por sete décadas, o Neues Museum (Novo Museu) de Berlim foi uma casca abandonada, marcada por bombas. Mas ele finalmente está de volta, contendo um acervo estelar que inclui um busto de 3.400 anos da rainha egípcia Nefertiti. A chanceler da Alemanha, Angela Merkel, inaugurou oficialmente o museu reformado na sexta-feira.
Foi um dia que levou décadas para chegar. Uma das joias do complexo Ilha dos Museus de Berlim finalmente reabrirá suas portas. A reabertura do Neues Museum na sexta-feira significa que todo o conjunto de galerias neoclássicas de Berlim estará aberto pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial.
“É um dia especial… 70 anos após seu fechamento, este prédio será entregue ao público de novo”, disse Hermann Parzinger, o chefe da Fundação da Herança Cultural Prussiana, que supervisiona os museus de Berlim, aos jornalistas antes da abertura das galerias, que abrigarão o Museu Egípcio e o Museu da Pré-História e Civilizações Antigas. “É, de certa forma, o fim da era do pós-guerra para a Ilha dos Museus.”
A estrela da exposição será o busto de calcário e gesso de Nefertiti, que está na Alemanha desde 1913. Refletindo seu status no mundo da história da arte, o belo objeto residirá sozinho em uma sala com teto em domo com vista para a extensão do museu.
O museu está fechado desde o início da guerra em 1939, quando seu acervo foi levado para um depósito. Situado na antiga Alemanha Oriental, ele foi abandonado em seu estado destruído pela guerra por falta de fundos. Nefertiti e milhares de outros itens agora foram devolvidos ao seu antigo lar pela primeira vez.
Além de artefatos históricos, o espaço também exibe um trecho de arame farpado do Muro de Berlim, uma adição oportuna, dado o 20º aniversário, no próximo mês, da queda da divisão entre oriente e ocidente.
E a arquitetura neoclássica, reconhecida como patrimônio da humanidade pela Unesco, recebeu um toque modernista pelo arquiteto britânico David Chippefield. Sua reforma meticulosa de 233 milhões de euros causou controvérsia, ao deixar parte da deterioração histórica intocada. Escadarias modernas brancas passam por velhos tijolos furados por balas na Segunda Guerra Mundial, colunas originais ainda exibem as marcas causadas pelo fogo, mosaicos neoclássicos e murais pseudoegípcios ainda parecem estar se despedaçando nos tetos e paredes.
A badalada inauguração também reacendeu um debate em torno da peça central do museu, com o chefe de antiguidades do Egito, Zahi Hawass, dizendo a vários jornais alemães que Nefertiti pertence ao seu país. Falando ao “Kölner Stadt-Anzeiger”, Hawass disse que foi iniciada uma investigação oficial a respeito de como Nefertiti veio parar na Alemanha. “Se ela saiu do Egito ilegalmente, o que estou convencido que aconteceu, então eu exigirei oficialmente que a Alemanha a devolva”, ele disse ao jornal.
Na coletiva de imprensa antes da abertura, Parzinger disse que quaisquer documentos relevantes seriam encaminhados às autoridades egípcias. Ele disse estar “confiante” de que o lugar de Nefertiti em Berlim está garantido.
Neste fim de semana, o olhar duro de Nefertiti será a maior atração para os berlinenses, que deverão comparecer em grande número à inauguração. O Neues Museum será gratuito para os visitantes no sábado e domingo. Os organizadores estão preparados para um comparecimento em massa, oferecendo bebidas quentes para os milhares que deverão esperar na fila, apesar da previsão de chuva.
Tradução: George El Khouri Andolfato
