O projeto nº 992/2011 – Pai Henrique explica sacrifício de animais em ritos religiosos

Entrevista

O sacrifício de animais foi muito discutido nos últimos dias, por causa de um projeto de lei que deu entrada na Assembleia Legislativa e que prevê a proibição do sacrifício de animais em rituais religiosos no Estado de São Paulo. O projeto nº 992/2011 foi apresentado na Assembleia Legislativa no dia 11 de outubro. A proposta, de autoria do deputado Feliciano Filho (PV), vem causando polêmica entre praticantes de religiões de origem africana e defensores dos animais.

Pai Henrique, do Templo de Umbanda, afirma que, se a lei for aprovada, matará todas as religiões que usam o sacrifício em seus rituais. Ele explica que a prática tem toda uma simbologia para a Umbanda, porque é uma oferenda de vida aos Orixás. Segundo ele, como o sangue é vida, a oferta não pode ser feita com um animal morto.

JC – Em qual situação é feito o sacrifício de animais na Umbanda?

Pai Henrique – A Umbanda se caracteriza pela incorporação de entidades mantenedoras da vida em seus pontos de força. Esses que nos mantêm vivos. Por isso, fico à mercê da manifestação dessas entidades para que me outorguem a tal ato como utilização dessa bela energia, pois tudo que existe é belo, e tudo que é útil é maravilhoso e divino.

JC – Quem pode fazer o ritual?

Pai Henrique – Só aquele que respeita o sim e o não, o mais e o menos, o bonito e o feio, os prós e os contras, o branco e o preto, a noite e o dia e, por fim, a dor e o amor desse ato pode utilizá-lo na Umbanda. Lembremos que um mistério não pode ser compreendido quanto ao que vemos, mas sim pela necessidade e o sentir, pois mistério é mistério, se não seria oculto.

JC – Como é feita a escolha do animal a ser sacrificado?

Pai Henrique – Cada animal tem uma origem em matéria de idealização por Deus em um ponto de força. E esse tem todo o direito quanto a ele, de acordo com a entidade, daquele ponto ela determina, lembrando que na Umbanda essa energia não é habitual.

JC – Como você vê o projeto de lei que tramita na Assembleia Legislativa que proíbe o sacrifício de animais em rituais religiosos? Isso prejudica as religiões de matriz africana?

Pai Henrique – Quero primeiramente deixar bem claro que falo sobre Umbanda e respeito todo e qualquer ato de fé, pois a fé é algo que nos completa, dando um estado de preenchimento, além de nos dar um padrão que, se bem seguido, nos limita, para que não nos tornemos desumanos. Um ato de fé não pode ser prejulgado por ninguém, pois naquele momento o ser acredita estar com Deus e em seu ponto mais seguro. Se tirarmos isso, parecerá que o indivíduo cultua a obra do maligno, então ele se entenderá dessa forma ou lutará sem limite pelo Deus em que acredita. Em um país como o nosso, pluralista em matéria de religião, que não tem uma guerra interna enquanto 70% das guerras mundiais são de ordem religiosa, dependendo da decisão tomada, com certeza estaremos andando para trás. Na Umbanda, o uso do sangue não é corriqueiro, porém ela respeita aquele que com fundamento utiliza. Fundamentos esses passados de geração a geração, boca a boca, alma a alma.

JC – Sinta-se à vontade para fazer outros esclarecimentos a respeito da Umbanda e seus rituais.

Pai Henrique – Talvez com simples palavras não consiga explicar a grandeza da Umbanda. Umbanda é tudo que existe, até mesmo outras ordens religiosas, por ser a “caçula” tende a copiar as mais velhas, principalmente as que seguem uma tradição de culto à natureza. Ela tem cem anos aproximadamente, está ainda se formalizando e com um potencial magnífico, pois no momento todas as mais velhas estão nela. Mas o que realmente a identifica é a incorporação de espíritos mantenedores dos elementos que nos mantêm vivos. Por exemplo, um Caboclo do Sol, imagine um ser que mantém toda a ideia de por que o sol existiu, existirá e sempre vai existir. Esse é seu ponto de força. Quanto ele teria a nos educar. Umbanda é a ciência do interior das coisas, do amor, que aquilo se deu seja animado ou inanimado. E, como ainda não tem e talvez nunca terá uma literatura oficial que a identifique, existem os aproveitadores dessa fragilidade.

Fonte: Jornal da Cidade

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