Desafios do Magistério – Superação do racismo no país passa pelo seu reconhecimento

por Silvio Anunciação

Fotos: Antônio Scarpinetti Edição das imagens: Everaldo Luís Silva

O desafio é reconhecer a existência do racismo no país como primeiro passo para superá-lo. E foi lançado nesta quarta-feira (16) pelo grupo de pesquisadores da Faculdade de Educação (FE) da Unicamp durante Fórum Permanente Desafios do Magistério que discutiu a temática no Centro de Convenções da Unicamp. “Desde que comecei a pesquisar o tema constatei que no Brasil as pessoas acreditam que fazem parte de uma sociedade racialmente democrática. Então, a primeira coisa é que é muito difícil falar em preconceito e racismo no país porque as pessoas negam… E negam, inclusive, discutindo o assunto”, confirma Angela Fátima Soligo, docente da FE.

forum angela 290x240 Ela integra ao lado dos docentes Sílvio Gallo, Regina Maria de Souza e Ana Archangelo o grupo de pesquisa Diferenças e Subjetividades (DiS), responsável na Unicamp por pesquisas importantes relacionadas às diversas formas de preconceito na escola. “Para este Fórum, nós estamos tomando o racismo num sentido amplo como sendo a discriminação que se faz contra as pessoas diferentes. E para nós é importante lançar luz sobre este tema como forma de encontrar maneiras de resistir a estas práticas”, ressalva Sílvio Gallo, coordenador do grupo.

Durante o Fórum, organizado pelo Dis em parceria com a Associação Brasileira de Leitura (ABL) e Rede Anhanguera de Comunicação (RAC), especialistas da área discutiram, principalmente, as formas de discriminação contra negros, surdos e pessoas com dificuldades de aprendizagem. A abertura do evento contou com as participações de Sérgio Antônio da Silva Leite, diretor da Faculdade de Educação da Unicamp; Antônio Carlos Rodrigues de Amorim, presidente da ABL e de Carmen Zink Bolonhini, assessora da Coordenadoria Geral da Unicamp (CGU), que sistematiza os Fóruns Permanentes.

forum silviogallo 290x240 Com base em suas pesquisas, a docente Angelo Soligo analisa que a sociedade brasileira coloca o negro no que chama de gueto simbólico. “Há uma ambivalência no modo como as pessoas enxergam o negro. De um lado, as pessoas até conseguem ver características positivas, mas de outro elas só veem estas características em alguns estratos sociais”, explica. “Em uma pesquisa grande que eu fiz as pessoas diziam, por exemplo, que a mulher negra é competente, mas competente na cozinha. Ou que o homem negro é trabalhador, mas para fazer serviços braçais. Ou que os negros são inteligentes, mas apenas quando sabem o seu lugar. Então, a sociedade olha para o sujeito negro sempre imaginando um lugar inferiorizado para ele. É um gueto, mas não um gueto real, mas um gueto que esta na cabeça das pessoas”, revela.

O linguista Adail Ubirajara Sobral, da Universidade Católica de Pelotas, falou, por sua vez, sobre a inclusão do surdo na escola. Sobral é doutor em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e autor, entre outros, de Do dialogismo ao gênero – as bases do pensamento do Círculo de Bakhtin (Campinas: Mercado de Letras, 2009).

 

Fonte: Unicamp

+ sobre o tema

UFABC aprova disciplinas de “Afro-Etnomatemática” em seu currículo de licenciatura

Coletivo Negro Vozes e professores sensíveis ao tema propõem...

Intolerância: Professores da UFBA recebem ameaças de morte por pesquisa sobre gênero

Além dos docentes, uma aluna do mestrado também foi ameaçada...

Doutorando propõe em tese alternativas de resistência à visão eurocêntrica do ensino de Filosofia

Assim que começou a lecionar Filosofia em escolas, Luís...

para lembrar

Raça, gênero e sexualidade na educação popular

Mesa de debate do segundo dia da II Jornada...

Por uma Educação sem Racismo

Por uma Educação sem Racismo.
spot_imgspot_img

Geledés participa do I Colóquio Iberoamericano sobre política e gestão educacional

O Colóquio constou da programação do XXXI Simpósio Brasileiro da ANPAE (Associação Nacional de Política e Administração da Educação), realizado na primeira semana de...

A lei 10.639/2003 no contexto da geografia escolar e a importância do compromisso antirracista

O Brasil durante a Diáspora africana recebeu em seu território cerca de 4 milhões de pessoas africanas escravizadas (IBGE, 2000). Refletir sobre a formação...

Aluna ganha prêmio ao investigar racismo na história dos dicionários

Os dicionários nem sempre são ferramentas imparciais e isentas, como imaginado. A estudante do 3º ano do ensino médio Franciele de Souza Meira, de...
-+=